Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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SENAI CETIQT: Setor de Cosméticos e os desafios e oportunidades com a inovação

O Brasil é o quarto mercado mundial no ramo de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos e representa 6,2% do consumo mundial do setor. Durante live promovida pelo maior centro latino-americano de produção de conhecimento aplicado à cadeias produtivas têxtil e de confecção e química, contatamos que as empresas estão lançando ingredientes sustentáveis e biodegradáveis, investindo em tecnologia, digitalização, inteligência artificial e o consumidor por conta da pandemia cada vez mais investe na clean beauty. E mais: Omnichannel ou Ominicanalidade fazendo a diferença com um relacionamento direto com o cliente e sempre sabendo ouvir seus desejos. Essa integração entre os canais da loja física, do e-commerce, site, mobile e marketplace precisa estar completamente unificada com ações integradas e em tempo real. É a empatia mudando o mainstream e gerando iniciativas e criatividade para o grande protagonista: o consumidor.

Exatamente como o diretor-geral do SENAI CETIQT, Sergio Motta, já havia nos antecipado quando da inauguração das novas instalações do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, uma nova frente de desenvolvimento de pesquisas para um dos setores que mais cresce no mundo, como o de Cosméticos, Higiene Pessoal e Perfumaria, está em potência máxima com planejamento estratégico pelo ISI do SENAI CETIQT, que caminha em alta potência para ser referência nacional em inovação nas áreas de biologia sintética, intensificação de processos químicos e têxteis técnicos, com foco na circularidade e sustentabilidade nas cadeia têxtil e de confecções e química.

Ao promover a live com o tema “Desafios e Oportunidades da Inovação no Setor de Cosméticos”, dentro da série Ciclo de Encontros com a Indústria, representantes de grandes empresas de Cosméticos, Higiene Pessoal e Perfumaria falaram sobre o futuro, as tendências tecnológicas, os novos desafios e as oportunidades que se apresentam para a área – uma das que menos sofreram com a pandemia de Covid-19, diga-se. Não chega a surpreender: no ano passado, o segmento da indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), que conta com cerca de 2.800 empresas registradas na Anvisa, cresceu 3,9%, faturando R$ 116,8 bilhões. Em termos de mercado global, o país ocupa a quarta posição, atrás de Estados Unidos, China e Japão. Na categoria de fragrâncias, os brasileiros estão em segundo lugar, atrás apenas dos americanos. E na América Latina nossa fatia de mercado atinge 49%.

 

“O setor tem projetos de Inovação com o SENAI CETIQT desde 2016. Desenvolvemos novas moléculas, novos processos químicos e biotecnológicos, buscando sempre valorizar a matéria-prima local e renovável”, ressaltou o diretor-executivo do SENAI CETIQT, Sergio Motta, que abriu o evento. “Além de infraestrutura completa, temos equipamentos no estado da arte, profissionais qualificados com atuação nas áreas de biotecnologia, engenharia de processos, síntese química e fibras. E somos credenciados junto à Embrapii, o que viabiliza recursos não-reembolsáveis para projetos de pesquisa e desenvolvimento. Apoiamos empresas na área de economia circular, com projetos de desenvolvimento de moléculas a partir de resíduos renováveis, e outros setores industriais a partir de produções mais sustentáveis. A busca por produtos originários de matéria-prima renovável é uma tendência da indústria mundial”.

Para Sérgio Motta, a excelência dos resultados obtidos pela instituição é, basicamente, fruto de sua a preocupação com três áreas:

Educação: “Somos indutores de inovação e modernização tecnológicas, além de cuidar da formação profissional para o futuro do trabalho e da indústria. Na área de educação profissional, oferecemos cursos técnicos e superiores, além de currículos atualizados por meio de diálogos permanentes com as empresas. A indústria participa do desenvolvimento dos currículos dos cursos”.

A segunda área é de Tecnologia Têxtil, de Confecção e Moda. São serviços de consultoria, ensaios laboratoriais, infraestrutura com plantas-piloto, laboratórios para criação e prototipação e desenvolvimento de produtos de moda, visando sempre à competitividade, à produtividade, à sustentabilidade, à ampliação do mercado de empresas do setor.

A terceira área é de pesquisa, desenvolvimento e inovação em biossintéticos e fibras. Essa área engloba projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para a identificação e o desenvolvimento de novos produtos e processos químicos, bioquímicos, têxteis a partir de recursos renováveis incluindo biodiversidade brasileira. E não-renováveis, também.

O encontro online foi dividido em dois painéis. O primeiro, “Tecnologias Emergentes para o Desenvolvimento de Processos de Produtos e Processos Inovadores”, contou com as participações da gerente de Pesquisa Avançada da L’Oréal, Fabiana Munhoz; do diretor-geral da Assessa, Daniel Barreto; do diretor de Marketing e Negócios Internacionais da Chemyunion, Sergio Gonçalves; e do diretor de Operações da Embrapii, Carlos Eduardo Pereira. A mediação ficou a cargo de João Bruno Bastos, coordenador de Engenharia de Processos e Síntese Química do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras.

O segundo painel foi “Regulação e Sustentabilidade na Indústria de Cosméticos: Desafios e Oportunidades”. Sob a coordenação de Victoria Santos, pesquisadora e especialista em Economia Circular e Sustentabilidade do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, reuniu a manager da Bioactive, Cristina Saiani; a sócia-fundadora da 100% Amazônia, Fernanda Stefani, e o pesquisador William Lima; e a sócia-proprietária da empresa de consultoria 14 Bisiness, Diana Jungmann.

Coordenador de Engenharia de Processos e Síntese Química do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, João Bruno Bastos abriu os trabalhos com algumas “provocações”, sugerindo temas como as vantagens das novas tecnologias, sua viabilidade e gestão de risco. Fabiana Munhoz foi a primeira a comentar, fornecendo dados fascinantes sobre a gigante francesa: “A L’Oréal tem mais de 100 anos e é a maior empresa de cosméticos do mundo. Em 2019, teve um faturamento de quase 30 bilhões de euros. Estamos presentes em 150 países, temos 36 marcas internacionais e cerca de 88 mil colaboradores. Nossa missão é atender as especificidades das diferentes belezas que temos no planeta. Isso traz enormes desafios tecnológicos em termos de desenvolvimento de formações cosméticas e de matérias-primas”, observou. “Mas pesquisa e inovação estão no DNA da L’Oréal, fundada por um químico que criou a primeira coloração capilar não-tóxica. E o Brasil tem um centro de pesquisas da empresa pela pluralidade de belezas trabalhando com as ciências verdes”.

Foto: Divulgação/site L’Oréal

 

 

Daniel Barreto, diretor-geral da Assessa, empresa brasileira pioneira no desenvolvimento e produção de ingredientes derivados da biodiversidade brasileira e de outras fontes botânicas sustentáveis, mantendo elevados padrões de qualidade, e cuja equipe técnica fornece soluções para formuladores de produtos cosméticos inovadores e eficazes, lembra que a Assessa possui ingredientes bioativos de alto desempenho inovadores para as indústrias de cuidados pessoais em todo o mundo, graças a uma ampla rede de distribuição que se estende pelos cinco continentes. “Não me lembro nada que junte tanto ciência e tecnologia com emoção. Uma reação emocional do consumidor é capaz de causar um grande impacto e transformação nas nossas indústrias. O cliente percebe uma questão ambiental e a indústria tem que se adaptar. Uma reação emocional sobre pertencimento, tipo ‘Quem eu sou? Qual é o meu lugar no mundo?’, também pode provocar mudanças nessa indústria, que é muito direcionada pela busca do consumidor por inovação e por suas reações emocionais. Totalmente desafiador para o setor”.

Pensando nisso, a Assessa está implantando a rastreabilidade em seus produtos. “Temos um programa que usa tecnologia para chegar ao coletor primário, aquele que colheu a plantinha. Porque lá na ponta, o público vai querer saber. O ‘consumidor detetive’, que quer conhecer cada etapa, vai escolher a empresa A ou B de acordo com sua identificação com as ofertas de valor que encontrar no produto na prateleira. Temos os caminhos de cada matéria-prima para que o consumidor saiba o que está comprando e consiga ver a dona Maria lá na base. O que ele comprou hoje fez a dona Maria mais feliz”, pontua.

Para o diretor de Marketing e Negócios Internacionais da Chemyunion, Sergio Gonçalves, “tecnologia é um meio para a inovação que depende de viabilidade e de uma escala. Tem que ser pensada na perspectiva do que vai levá-la ao consumidor. Aplicar tecnologia por aplicar não faz sentido do ponto de vista de negócios. Quem trabalha com inovação está comprometido com fazer uma nota fiscal na ponta. Tem que entregar um valor que alguém queira trocar com você para que o seu produto vire mercadoria”. Ressalta a importância da biotecnologia e fitoterapia. A Chemyunion é uma indústria química de ingredientes cosméticos, excipientes farmacêuticos, além de ativos para higiene e limpeza. Exporta para mais de 50 países e as unidades de negócios em Cuidados Pessoais, Ciências da Vida e Cuidados do Lar operam no modelo de inovação aberta para o desenvolvimento e fabricação de produtos inovadores e sustentáveis, utilizando matérias-primas naturais e cooperando com seus clientes para a oferta de produtos acabados conectados às últimas tendências e desejos de beleza, saúde e bem-estar.

O diretor de Operações da Embrapii, Carlos Eduardo Pereira, concorda: “Tecnologia tem que gerar lucro. As empresas só têm sucesso se efetivamente entenderem as demandas dos consumidores”. A assinatura do Termo de Cooperação entre o Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI CETIQT), localizado no Rio de Janeiro, como unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII)  oferece, como ressaltamos, cada vez mais à indústria o desenvolvimento de produtos e processos inovadores em consonância com as práticas sustentáveis de produção, gerando benefícios econômicos e sociais para fazer a roda da economia girar sempre.

O credenciamento comprova o nível de excelência dos centros do SENAI, que são hoje os principais parceiros da indústria brasileira no apoio à inovação tecnológica. A EMBRAPII reúne o que tem de síntese das melhores experiências mundiais ajustadas à realidade brasileira criando uma agenda pró-desenvolvimento tecnológico para a indústria nacional. Portanto, veremos a ciência gerando PIB e a construção de um novo futuro. E, segundo pesquisa recente da Forbes sobre as empresas mais solidárias durante a pandemia, o SENAI conquistou o oitavo lugar e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que lidera a atuação do SENAI, tem orgulho da construção dessa parceria em torno da EMBRAPII.

Carlos Eduardo Pereira apresentou os projetos em desenvolvimento ou já concluídos EMBRAPII para o setor Cosméticos: desenvolvimento de novas formulações; de insumo farmacêutico ativo com ação dermocosmética a partir de biomassa vegetal; otimização da extração de óleo dos grãos de café verde e sua utilização para o desenvolvimento de diferentes produtos cosméticos; sistemas avançados de encapsulação e liberação de substâncias ativas; ingredientes ativos empregando matérias-primas amazônicas visando posterior incorporação na linha de cosméticos; novo sistema alternativo ao uso de animais para a realização de testes toxicológicos em cosméticos, dermocosméticos e suplementos orais; desenvolvimento de composição polimérica para embalagens degradáveis, entre outros.

Quando o assunto é risco, Sergio Gonçalves tem a seguinte visão: “A gente tende a refutar. Mas ele anda de mãos dadas com a oportunidade. No Brasil, a palavra tem uma conotação de algo ruim. Não. Existem riscos bons, os que eu devo correr, os que devo assumir e aqueles que devo evitar. No caminho da oportunidade, existe a inerência do risco. A oportunidade reside na incerteza”. Apesar de encarar o risco como algo até certo ponto positivo, porém, ele dá exemplos de como se proteger: “Trabalhar em taylor made é uma forma de se reduzir riscos. Perguntar ao cliente ‘De que você está precisando?’, desenvolver algo sob medida para ele a partir de uma tecnologia que você domina reduz riscos e acelera retornos. No setor, a maior parte das empresas é seguidora. Quando surge uma tendência todo mundo segue. Quando eu sigo, empurro a decisão de valor para o consumidor e perco a chance de diferenciar a minha oferta. Agilidade é importante, mas diferenciação faz toda a diferença. Precisamos ser rápidos, diferentes e precisamos competir. E fazer com que a engrenagem gire”.

Fabiana Munhoz prefere evitar grandes ameaças de riscos. Como? “Diluindo os riscos. Uma das formas de fazer isso é trabalhar com parceiros. Cada um traz seu valor agregado. A L’Oréal está em busca de novos insumos, mas não tem expertise no desenvolvimento de matérias-primas. Temos que confiar no fornecedor. Ao mesmo tempo, a gente estuda muito o que o nosso consumidor quer. Então, conseguimos trabalhar em colaboração e cada um traz seu valor agregado. Assim diluímos os riscos”. A fórmula de Daniel Barreto para encarar o perigo é a seguinte: “Tem que errar rápido e barato. Não posso me agarrar com uma ideia que não vai dar certo. Tenho que inovar rápido e barato, senão afundo. Esse é o desafio”.

Foto: Divulgação/site L’Oréal

Para correr o mínimo de riscos possível, a L’Oréal mantém no Brasil (mais precisamente na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro) um sofisticado centro de pesquisas. Voltado totalmente para a Inovação, tem seu foco no consumidor, contando, inclusive, com tecnologias para avaliar a aplicação e a eficácia dos produtos no cliente. Além disso, o Brasil é um dos poucos países em que a empresa investe na construção de pele humana para fazer testes de segurança. Mas por que o Brasil? “É o quarto mercado de beleza do mundo, com consumidores muito exigentes. Tem uma incrível diversidade de beleza. A L’Oréal mapeou oito tipos de ondulação de cabelos e aqui é o único lugar do planeta que reúne todas elas. Tem mais. Foram listados 66 tons de pele e encontramos 55 deles no Brasil. E toda essa diversidade em condições climáticas desafiadoras, graças ao clima quente e úmido, que antecipam o que esperamos encontrar no futuro com as mudanças no clima”.

O diretor da Assessa complementa: “Faz sentido ter um centro de pesquisas no Brasil com cabelos e peles tão variados. No caso dos cabelos, ainda tem um aspecto cultural da mulher brasileira, que testa sem medo tudo que ela pode para se enquadrar, pertencer, se sentir mais bonita”.

A pesquisadora e especialista em Economia Circular e Sustentabilidade do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, Victoria Santos, mediadora do segundo painel do dia (Regulação e Sustentabilidade na Indústria de Cosméticos: Desafios e Oportunidades), definiu assim a função do ISI: “Nós atuamos no desenvolvimento de novos produtos valorizando a economia circular na indústria, para o uso em cosméticos e perfumaria. Também fazemos avaliações de ciclo de vida e de impacto ambiental. Buscamos que o nosso desenvolvimento incremente o setor de forma a ter, cada vez mais, impacto positivo, tanto nos negócios como nas pessoas e nos ecossistemas”. Antes Victoria havia lembrado que o setor ainda tem alto consumo de matérias-primas petroquímicas que impactam o meio ambiente.

Country manager da Bioactive, empresa criada em 2018 com o objetivo de pesquisar a flora nos sete estados do Norte do país, Cristina Saiani acredita na necessidade de “vegetalização” para o mercado cosmético e tudo o que isso envolve. “Temos 600 plantas para usar, mas, se pensarmos em óleos essenciais, por exemplo, temos um portfólio gigantesco de possibilidades, mas só um óleo essencial desenvolvido no Brasil. É uma possibilidade enorme que não sai do teste, não sai do papel”, comenta Cristina, lembrando de outro caso em que as plantas podem ser uma solução: “No Pará, o pessoal gosta muito de açaí natural. É maravilhoso, mas pode se tornar um problema de saúde pública. Hoje os batedores de açaí às vezes lavam e matam os besourinhos. Mas a doença pode estar lá dentro. Eles não veem o vírus, veem o besouro. Que tipo de biocida podemos criar a um custo baixo para que os batedores se motivem a lavar o seu açaí e não criar um problema de doença de Chagas nacional?”.

Enquanto o biocida pode ser desenvolvido, Fernanda Stefani, sócia-fundadora da 100% Amazônia, comercial-exportadora aberta em 2009 para criar cadeias produtivas de diversos produtos, fala de como a sustentabilidade é encarada pelos amazônicos. “As pessoas na Amazônia não têm muito a ideia do que é. O que nós entendemos por sustentabilidade, grossíssimo modo, é retirar produtos da floresta de maneira que ela consiga se regenerar.  Então, além de criar cadeias produtivas, precisamos envolver as pessoas locais. Porque quem de fato faz a preservação da floresta é quem mora lá”, diz Fernanda, que tem em seu portfólio 50 produtos e já chegou a exportar para 60 países. Ajudando a resolver um dos maiores gargalos dos produtos da sociobiodiversidade, que é a comercialização, a 100% Amazônia promove acesso a mercados respeitando o calendário produtivo e o saber da floresta, sempre buscando o estabelecimento de relações horizontais com as comunidades e apoiando capacitações técnicas.

(Foto: Divulgação/site 100% Amazônia)

O outro tema do painel, a regulação, ficou por conta de Diana Jungmann, sócia-proprietária da 14 Bisiness, empresa de consultoria e capacitação com foco na área de bioeconomia. “Vim da área acadêmica, fui pesquisadora durante muito tempo. Tive a oportunidade de implantar as áreas de bioeconomia e propriedade intelectual na CNI. Com isso, pude acompanhar com a equipe de sustentabilidade todo o processo de elaboração do Novo Marco Regulatório. Meu objetivo na empresa é trabalhar a expansão do conhecimento sobre a regulação e a questão de propriedade intelectual e inovação. Como consultora, levo esses conhecimentos à sociedade para que as pessoas, sabendo os caminhos, as possibilidades e as dificuldades, tenham mais segurança jurídica nas questões de suas empresas”.

De acordo com Diana, o setor vai muito bem e tem muita capacidade de crescimento. “Existe uma relação histórica do país com a higiene pessoal desde o Descobrimento: documentos relatam como nossos nativos valorizavam a higiene, a beleza e o bem-estar. É um segmento em franca expansão e nós, consumidores, somos beneficiados por tantas inovações que são colocadas no mercado. Afinal, trata-se de um setor muito baseado em inovação. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), em 2018 foram lançados cerca de 7.400 produtos”, pontua Diana. “Nossas oportunidades são imensas. O Brasil é o país mais megadiverso do planeta. Isso nos coloca numa posição de vantagem bastante grande, não só por conta da nossa biodiversidade, mas também pela riqueza de conhecimentos tradicionais associados ao uso dessa biodiversidade”.

Toda essa riqueza oferecida pelo Brasil, porém, ainda não pode ser explorada em todo o seu potencial, pois a segurança jurídica de que fala a consultora ainda não é obtida facilmente. “Muitos dizem que a nova legislação simplificou a burocracia de acesso a PG (Patrimônio Genético) e CTA (Conhecimento Tradicional Associado ao PG). Será mesmo? Por essa nova legislação, conhecida como Lei 13.123/2015, Patrimônio Genético é informação. Nos outros países, PG é algo tangível, uma amostra, seja animal, vegetal ou microbiana. E o Conhecimento Tradicional também fala de informação, de práticas das populações indígenas e agricultores tradicionais que estão, nesse caso da legislação, associados ao Patrimônio Genético”, observa.

O acesso a PG e CTA se dá por duas vias: a da pesquisa (teórica ou prática) e a do desenvolvimento tecnológico (baseado em procedimentos já existentes ou através de pesquisa, sempre com o objetivo de exploração econômica). Os usuários (ou seja, todas as empresas que usam a biodiversidade) precisam fazer o compliance. E o compliance, pela legislação atual, envolve uma Lei Federal com 50 artigos; um Decreto de Regulamentação com 120 artigos; 23 Resoluções, sendo que três foram revogadas; e dez orientações técnicas. Uma microempresa tem condições de entender e operar um Marco Regulatório desse nível de complexidade? Será que simplificou mesmo, uma vez que os pequenos também são obrigados a fazer o compliance de acesso? Eles não pagam o compliance de repartição de benefícios, mas precisam fazer o de acesso. Para os grandes que não fazem, as multas são gigantes”.

O número de empresas cadastradas, porém, ainda é baixo: “Digamos que temos dez milhões e 600 mil empresas. Se apenas 0,1 por cento fizer acesso a PG/CTA brasileiro, dez mil e 600 empresas precisariam ter o compliance. De acordo com dados do CGen, temos menos de 500 empresas cadastradas e validadas no sistema. Para uma lei que está em vigor há cinco anos, a quantidade de cadastradas e validadas é baixíssima”.

Voltando ao tema da sustentabilidade, o pesquisador e consultor da 100% Amazônia William Lima tem uma visão muito lúcida. Amazônico da raiz, ele defende uma visão bem mais ampla de sustentabilidade: “Temos um monte de fornecedores de matéria-prima que são só isso, fornecedores de matéria-prima. Um exemplo básico é o murumuru. As grandes empresas compram apenas as sementes, por um real o quilo. Não seria sustentável ajudar a cooperativa a beneficiar a semente? O social em sinergia com a sustentabilidade ambiental. Ajudá-los a passar de um real para dez reais o quilo da manteiga do murumuru. Afinal, sustentabilidade não é só falar de meio ambiente, não é só manter a floresta em pé. Isso é um braço. E a questão social? Não é só ‘Eu vou ajudar comprando a semente’”.

(Foto: Divulgação/site 100% Amazônia)

O pesquisador chama a atenção: “A floresta está cheia de aromáticos, por exemplo, mas ninguém desenvolve produtos. O pesquisador tira o cheiro de uma folha, mas não sabe quanto custa fazer o manejo, pensa que só vale aquilo”, conta, ampliando o conceito de sustentabilidade: “Vivenciar, estar aqui, é muito mais forte. E a repartição de benefícios? Muito cooperativados, quando veem o dinheiro, pensam logo em comprar uma moto. Por que não investir num maquinário melhor? Por que não ensinam a eles como fazer para serem mais produtivos?”, questiona William. “O sustentável é muito maior do que o que é difundido hoje, apenas o lado ambiental”.

Cristina Siani, da Bioactive, concorda – até certo ponto. “Essa visão não mercadológica dos professores é muito mais embaixo. A nossa universidade segue uma visão francesa de pesquisa, mas não podemos ser só pesquisa, temos que fazer dela um negócio para que a sociedade se beneficie e haja mais pequenas empresas e empregos. A pesquisa fica engavetada porque é do professor. É “my precious”, não pertence à sociedade, e isso é um problema muito sério”, conclui.

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