Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

SERTÃO, SONHO E RENDA... Como um cadastro que lista as ambições de rendeiras alagoanas pode abrir para 400 artesãs uma porta de saída do Bolsa Família

abre.jpg
MULHER RENDEIRA

Artesãs cooperativadas trabalham em Entremontes (AL)

Mandacaru quando flora na seca não é só um sinal de chuva no Sertão. Quando reproduzida nos bordados de renda, a flor da espinhosa planta da caatinga, símbolo de esperança no Nordeste, pode mandar outro sinal: o de que sonhar produz frutos e realizações. Tem sido assim para cerca de 400 rendeiras que há 12 anos viviam essencialmente do Bolsa Família, no interior de Alagoas. Suas flores e tramas rendadas viraram literalmente fonte de renda. A experiência do projeto Olhar do Sertão, comandado pela estilista Martha Medeiros, começa a mudar uma realidade nessa região do sertão nordestino, em Entremontes (AL). A partir de um “cadastro de sonhos” criado para recuperar a auto-estima e a capacidade de ambicionar das mulheres rendeiras, a estilista alagoana incentiva a produtividade em lugares onde a pobreza e a aridez demolem vontades e energia. “Na Casa de Bordados, a gente ensina a fazer renda e a sonhar. Para prosperar na dureza do sertão, sonhar é vital”, diz Martha, famosa pelos luxuosos e magníficos vestidos de renda que encantam celebridades nacionais e internacionais, empresárias e socialites.

A ideia é inverter uma ordem vigente há anos: o projeto “Olhar do Sertão” quer mostrar às rendeiras cooperativadas que os bordados podem ser a principal fonte de sustento das famílias e o benefício do governo, um reforço. O exemplo da renda como negócio organizado, com preços definidos pelo Sebrae, pode ter um efeito até mais transformador: ser uma porta de saída do Bolsa Família para muitas mulheres.

Em localidades marcadas pela tragédia da seca e pela falta de acesso às necessidades básicas, a renda sempre foi um lazer. O prazer de fazer renda é antigo. “Mulher Rendeira”, canção do xaxado brasileiro de autoria atribuída a Lampião, em 1922, já cantava essa tradição. Mas poucas rendeiras olhavam a atividade como um meio de ganhar dinheiro. “No máximo, era uma complementação”, diz Martha, que começou a trabalhar com rendas há cerca de 12 anos.

01.jpg

Sua ideia de alimentar sonhos nas comunidades funcionou como um combustível para revigorar o motor de ambições, corroído pela miséria. Quando elas se organizam para fazer as flores de renda, agora cada profissional pode receber R$1.200 por 20 flores bordadas no mês, dependendo do tempo que se dedicam à atividade. Rendar uma flor leva um dia de trabalho de oito horas.“Reunimos nossas mulheres na associação e fazemos isso há anos”, diz Martha. “Às vezes são sonhos muito fáceis de realizar.” Devolvendo esperança às rendeiras, acredita a estilista, elas conseguem sair do estado de acomodação e vão à luta para planejar suas realizações.

“Queremos que elas se acostumem a viver com os R$ 1.000 recebidos com o trabalho da renda, fora qualquer outro tipo de ajuda. Muitas não têm esse ânimo”, afirma. O Bolsa Família paga a cada uma delas em torno de R$127 por filho, computando outros benefícios. As rendeiras têm em média seis filhos. Algumas têm 14. Outras raramente têm dois. Considerando o cálculo dos rendimentos por seis filhos, o valor pago pelo governo seria R$762. O projeto incentiva as mulheres a não se contentarem com isso. A meta é mostrar que elas podem empreender e ganhar R$1000, R$1.100 ou R$1.200 só com a renda.

02.jpg

As rendeiras recebem por flor e folhas rendadas. Os vestidos são confeccionados por junções de flores e folhas. Em média, uma rendeira é remunerada com R$50 por flor. Há rendeiras que fazem 22 flores por mês. Há quem faça duas. Mas a maior parte das 400 profissionais cooperativadas de Entremontes acaba produz em média 10 flores por mês e recebem por isso R$ 500.

O cadastro de ambições é singelo: casar com um vestido de noiva bonito, reformar a casa, estudar e pagar uma faculdade, viajar. “Talvez falte a elas saber que podem realizar um sonho com o dinheiro da renda”. O exemplo do Projeto Olhar do Sertão aponta que o debate em torno Bolsa Família talvez seja mais profundo que a tese recorrente de que as pessoas beneficiadas pelo programa não querem trabalhar. O projeto foca num ponto chave: recobrar ambições destruídas pela pobreza e pela falta de horizontes. “A miséria tira o sonho da pessoa”, diz Martha. “E tira por muito tempo”.

O projeto é amplo. Martha ganhou a adesão de amigos como a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, e o casal de oftalmologistas Marcelo e Rosana Cunha, entre os apoiadores.“Se eu morrer isso precisa continuar”, afirma. Uma nova sede do projeto Olhar do Sertão está em construção. O local abrigará uma escola de rendas, com salas de aula. Haverá ainda consultório médico, cozinha para ensinar a preparar comida mais saudável com ingredientes de lá, como jerimum, bode e macaxeira. Foram feitos 179 exames de vistas na região para garantir óculos às rendeiras com problemas para enxergar. “Fico muito emocionada com a mudança que o nosso trabalho está fazendo. Pela primeira vez os maridos estão ajudando as mulheres a fazer renda”, diz Martha. “Elas estão ganhando mais que eles e estão sendo respeitadas.”

O maior sonho cadastrado é conhecer São Paulo. Sabendo disso, a estilista organizou uma espécie de premiação para estimular a produtividade. Quem bater a meta de 10 flores por mês durante três meses, ganha uma viagem para São Paulo, com o marido e dois filhos. “Elas precisam ver que o mundo é muito maior que Entremontes”, ensina Martha.

IEpag48a51Rendeiras-03.jpg

FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/416145_SERTAO+SONHO+E+RENDA?pat...

Exibições: 272

Responder esta

Respostas a este tópico

tudo de mentira, em alagoas nao tem renda renascença, e tudo feito aqui na paraiba em sao joao do tigre, congo, ela nao assina contrato e o grupo cunhan acompanha a revolta das mulheres que ganham 40 reais por semana fazendo renda para esta oportunista

Responder à discussão

RSS

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço