Poucos processos produtivos são tão apaixonantes quanto o processo têxtil. Ele desperta, a meu ver, uma fascinação em quem gosta do ambiente fabril, pois da lavoura algodoeira que fornece a fibra e que passará por processos precisos e interessantíssimos, com ou sem misturas, até se transformar no que você veste agora, é algo que tem minha admiração e meu respeito.
www.logisticadescomplicada.com/wp-content/uploads/2016/05/logistica-setor-textil.jpg?resize=150%2C67" alt="logistica setor textil" width="150" height="67"/>Porém, se ao longo desse processo podemos ver essa transformação admirável, não enxergamos o respeito por parte de políticas públicas que maltrata, do agricultor ao empresário, aquele que depende do setor para o sustento de sua família e que continua trabalhando pela realização de seus sonhos passando por cima de dificuldades inimagináveis aos olhos de leigos. Se a cultura algodoeira sofre com os devastadores ataques do bicudo (inseto originário da América Central que, junto à Helicoverpa Armígera, representa a maior ameaça à cultura do algodão) desde meados da década de 80, todo o setor comercial dessa transformação sofre com ações equivocadas ou inexistentes de nossa política omissa e interesseira que se tornou a pior praga para o algodão pós-campo.
Longe de mim a defesa de certas medidas protecionistas adotadas por muitos países produtores, mas no caso do Brasil, é evidente o desprezo pelo setor agrícola, que tanto contribui para as riquezas do país, em especial pela cultura do algodão que vê seus gastos extraordinários elevados em até US$ 150 por hectare devido pragas e com efeitos financeiros aumentados por aberturas indiscriminadas do mercado internacional, em especial o da China, visando uma maior parceria… Parceria? Como assim? Sacrificar um setor que produziu, em 2014, mais de R$ 126 bilhões com quase 17% do total de trabalhadores da produção industrial deste mesmo ano – e que já representou bem mais antes dos ataques à sua economia – para proteger outros setores? Isso nos remete à situação da saúde pública que decide quem morre pela falta de atendimento. Estaria então, nossa economia doente e as mesmas ações políticas determinando o fim de segmentos inteiros para salvar outros? Na saúde o efeito disso não acaba quando o paciente morre, nem na economia, pois o segmento sobrevivente perecerá, mais cedo ou mais tarde, do mesmo mal acometido àquele que custeou sua “salvação”.
Segundo o “Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira – Brasil Têxtil 2015” elaborado pelo IEMI (Inteligência de Mercado, especializado em pesquisas e análises do setor têxtil e de vestuário), de 2010 a 2014, o número de unidades produtivas em atividade na cadeia têxtil cresceu 6,4%, mas as fiações apresentaram queda de 3,7%, as tecelagens de 3,6% e as malharias de 3,2%. Demonstrando que as importações da China são bem impactantes e que merecem maior atenção. E sabemos que não há essa coisa boa sobre a competitividade, pois o contexto está mesmo em questões que envolvem a exploração da mão-de-obra e do déficit tecnológico que deixou o Brasil de mãos atadas.
Contudo, a logística têxtil, não diferente de outros setores brasileiros que lidam diariamente com a falta de infraestrutura, é magnifica e consegue ainda se sobressair quando muitos já teriam entregado os pontos. O mesmo relatório do IEMI aponta que os investimentos em modernização e/ou ampliação da capacidade produtiva cresceram 8,1% de 2010 a 2014, embora neste último ano, a estimativa tenha chegado a R$ 4,3 bilhões, representando uma queda de 14,7% sobre 2013, mostra que o setor “tira leite de pedra” e que não se entrega facilmente.
Eu poderia trazer aqui vários números negativos que apontam para o aumento do déficit da balança comercial da cadeia têxtil que, em 2014, somou US$ 4,7 bilhões e que sobe em média 14% ao ano, mas prefiro destacar que nesse mesmo 2014, os investimentos em máquinas e equipamentos atingiram R$ 2,3 bilhões celebrando um crescimento de 21,9% no período de 2010 a 2014, para mostrar o quão grande e importante ainda é o setor têxtil brasileiro com seus empresários apaixonados, funcionários dedicados e habilidosos, uma logística forte e criativa e, sobretudo, um setor solidário que alimenta tantos outros setores com o desenvolvimento a ele negado pelas políticas públicas. Um setor cuja crise atravessa décadas e ainda se mantém vivo e resistente às turbulências e terremotos, não naturais, mas provocados por erros de governos que não enxergam um palmo além de uma economia desinteressada pela produção nacional, é realmente diferenciado e merecedor do sucesso que, com correções, trabalho, criatividade e a paixão que não lhe falta, está por vir.
Claro, ainda há muito que se modernizar, mas como é forte esse setor!
Posted on 16 de maio de 2016 by Marcos Aurélio da Costa in Logística
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Ótimo. Vamos então, montar um plano de ação, provar que é exequível e exigir sua implantação.
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