A indústria têxtil no Brasil movimenta cerca de US$ 60 bilhões ao ano e é um setor que paga mais de R$ 12 bilhões somente de salários ao ano. No entanto, em impostos – como PIS e Cofins, em 2012 –, foram mais R$ 3,6 bilhões. Além disso, com relação a encargos sobre faturamento de folha, serão pagos em 2013 cerca de US$ 600 milhões em contribuições patronais e, para a Previdência, mais US$ 1 bilhão. Os dados, que apontam a força do segmento no país, revelam ao mesmo tempo a dificuldade de conseguir competitividade em comparação a concorrentes como a China e Bangladesh, que hoje, graças a subsídios e mão de obra barata, entram com força no mercado brasileiro e dominam o setor pelo mundo afora.
Esse quadro, todavia, não deve servir apenas como desestímulo para o empresariado nacional, que, em vista disso, já começa a procurar alternativas de se diferenciar no mercado. Foi com esse objetivo que o Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará (Sinditêxtil/CE), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), promoveu no dia 22 de maio, na Casa da Indústria, o 1º Seminário Internacional de Inovação Têxtil. Participaram representantes de governos nas esferas federal e estadual, além de empresários e líderes do setor, que discutiram aspectos do contexto atual da acirrada participação da China no segmento têxtil e de confeccionados, assim como a busca por possíveis respostas por meio da inovação.
Para o presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, que abriu o evento, a entidade tem incentivado o investimento em inovação como forma de se contrapor aos desafios que têm se apresentado no mercado. Ele dissse que, ao participar no dia anterior, em Brasília, do lançamento da Agenda Legislativa da Indústria, o setor têxtil foi colocado como estratégico para o país, mas que esse avanço só se concretizará mediante ações no âmbito da inovação. Roberto Macêdo destacou que falta ao país um projeto ousado de nação, mas que, por meio de ações setoriais, se está contribuindo para fazer despertar nos dirigentes tal necessidade. O presidente da FIEC contou que esteve recentemente em Israel e lá pôde aquilitar a diferença existente entre o que é feito no Brasil e em Israel em relação à possibilidade de inovação.
Segundo Roberto Macêdo, naquele país, cerca de 90% da pesquisa acadêmica é feita de forma aplicada no setor produtivo, enquanto no Brasil a maior parte termina na prateleira das universidades. Para o presidente da FIEC, se não houver uma transformação nessa relação em nosso país, estaremos fadados a perder cada vez mais espaço no mercado. O presidente do Sinditêxtil, Germano Maia, ressaltou que o custo sistêmico no Brasil impede o empresário de ser competitivo da porta da fábrica para fora. "Temos bons produtos, qualidade e know-how, mas nossa competitividade cai quando enfrentamos as condições estruturais que nos são impostas." Esse quadro, apontou, precisa ser mudado rapidamente. Para ele, a inovação é um passo fundamental no sentido de buscar alternativas para oferecer produtos e processos diferenciados.
Presidente do Conselho Estadual do Desenvolvimento Econômico (Cede) do Ceará, Alexandre Pereira, ressaltou que o segmento têxtil e de confecção no estado é representativo por contar com a união da cadeia produtiva. No entanto, afirmou, ainda carece da cultura da inovação. "E sem inovação não existe crescimento." Ele destacou que, para ser inovador, não é preciso pensar apenas em grandes coisas: “Muitas vezes, a inovação se dá mediante mudanças de processos, gerando enormes ganhos no final”. Outro ponto destacado por Alexandre está relacionado ao apoio governamental. "Diz-se que se o governo não atrapalha o setor produtivo, isso já é uma grande ajuda." No caso do governo do Ceará, relatou, "o governo não atrapalha e ainda está disposto a ajudar".
Alexandre destacou que o governo estadual tem usado a política de desonerar tributariamente alguns setores, apostando que, assim, arrecadará mais com o aumento da base de contribuintes. Especificamente no segmento têxtil e de confecção, apesar de não ter havido o ganho esperado por conta de outros fatores, disse que se reuniu com o secretário da Fazenda, Mauro Filho, e ficaram de levar ao governador Cid Gomes o pleito de manter a redução, apostando que a cadeia produtiva tem potencial para ir além do que está sendo registrado agora.
A ameaça e o drama chinês
O modelo industrial da China e a força do segmento têxtil e de confecção foram um dos temas abordados no 1º Seminário Internacional de Inovação Têxtil. A apresentação coube ao pesquisador na área de internacionalização de empresas Yongjiang Shi, que atua no Institute for Manufactoring, da Universidade de Cambrigde. Segundo ele, que é chinês e há 35 anos estuda o modelo de industrialização têxtil daquele país, a transformação ocorrida desde os anos 70 foi substancial. Durante muito tempo, a China manteve as portas de seu mercado fechadas para a inserção de capitais estrangeiros, fato proveniente do regime socialista adotado no país. Com a abertura do mercado para o capitalismo mundial, houve uma ascensão no sistema produtivo industrial, sobretudo, um aumento na produção de bens de consumo.
Shi disse que um dos fatores primordiais que levaram a isso foi a atração de investimentos, o que acelerou o desenvolvimento industrial. Além disso, outro fator determinante foi a implantação de Zonas Econômicas Especiais. Nessas áreas, foram concedidas permissões para a entrada de capitais estrangeiros. Ao longo das zonas, foram criadas áreas de livre comércio, medida adotada em decorrência de leis de incentivo, como redução parcial ou total de impostos. A redução de impostos também proporcionou a atração de investimentos e inovações tecnológicas oriundas de países desenvolvidos.
Os principais investidores nas Zonas Econômicas Especiais são japoneses e norte-americanos. Mas o que incentiva os países a investir na China não é somente o fator tributário, mas também a abundante e barata mão de obra, enorme potencial de mercado interno (1,3 bilhão de pessoas) e leis ambientais frágeis, dentre outros.
Segundo Shi, enquanto no período pré-capitalista 75% das empresas eram estatais, hoje esse índice gira em torno de 15%. Para que isso se concretizasse, todavia, a industrialização começou de forma modesta. Com o tempo, porém, empresas foram emergindo e atraindo multinacionais interessadas na mão de obra e potencial de consumo local. “Hoje, a China tem crescido fortemente, exigindo até mesmo das multinacionais lá instaladas certas reconfigurações de seus modelos. Se antes havia facilidade de terceirização de mão de obra e pouca preocupação ambiental, essas empresas começam agora a se preocupar com essas questões. Diante disso, ressalta Shi, estamos diante de um quadro de indefinições: “Na China, a poluição é algo terrível. Os rios e o ar têm sido muito poluídos. Como lidarão com isso no futuro? É cada vez mais imperioso se pensar nisso!"
Para ele, esse crescimento acelerado se deu basicamente porque se antes da abertura de mercado havia muitas restrições, depois passou a valer tudo. Isso teria feito com que o conceito "se eu posso vender, eu posso fazer", deixando de lado questões de valores, se sobrepusesse ao aspecto ético. Por outro lado, em termos de inovação, Shi considera que os processos industriais ganharam impulso, aumentando a produção, o que gerou a conquista de mercados. A grande inovação, porém, na sua opinião, foi a possibilidade de poder oferecer produtos a preços muito baratos. Com isso, se criou muito emprego e aumentou a base de consumo. "Certamente isso não foi bom para os concorrentes, mas não deixa de ser uma inovação."
Cobranças e desafios
A aposta em inovação não é a única saída proposta pelo setor têxtil e de confecção para alcançar competitividade no mercado. Para o diretor-presidente da Associação Brasileira da Indústria e de Confecção, Fernando Pimentel, o pleito é também voltado ao governo, principalmente em relação à alta carga tributária que pesa sobre o setor, em disputa por mercado com produtos subsidiados pelo governo chinês. "O governo chinês dá subsídios de 80% na produção do algodão, impactando no valor de finalização dos têxteis. A concorrência se torna desleal", destaca.
Outro fator que necessita de atenção tanto do governo federal quanto da cadeia produtiva é o investimento em qualificação de mão de obra e maquinário de ponta. "Estamos trabalhando junto com o Pronatec para capacitar os trabalhadores. Os empresários também precisam apostar e promover uma cultura de inovação nas fábricas", diz, frisando que a responsabilidade é também do setor privado.
Fernando Pimentel apontou ainda como estratégias para um maior fortalecimento da cadeia produtiva a criação do Regime Tributário Competitivo para a Confecção (RTCC) e a repetição da salvaguarda para 67 itens de vestuário, que representam 75% do total das confecções importadas no Brasil. "Não é protecionismo. A salvaguarda é um instrumento previsto para resguardar setores em risco de sobrevivência. Já o RTCC é um modelo similar ao Simples, em que tributos como PIS, Cofins, contribuição previdenciária e imposto de renda serão pagos com 4% da receita bruta das empresas, deduzindo as vendas canceladas e mercadorias devolvidas, além das exportações", explica Pimentel.
Além desses dois pontos, fazem parte da agenda da cadeia têxtil e de confecções outros tópicos como qualidade, Pronatec, compras governamentais e a melhoria do mercado consumidor. A Abit defende também outras estratégias para ampliar a competitividade do setor, melhorando a infraestrutura de rodovias, superando a deficiência dos portos, a burocracia, o sistema tributário e os atrasos das obras públicas. "Tudo isso tem de ser resolvido para garantir nossa competitividade interna, mas não podemos competir lá fora com produtos vindos de Bangladesh, da China ou do Vietnã", afirma.
Fonte:|http://www.sfiec.org.br/portalv2/sites/fiec-onlinev2/home.php?st=ex...
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