Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Eu me lembro bem quando comecei a me interessar por moda. Eu era adolescente e estava naquela fase de decidir o que eu seria da vida. Eu estava mergulhada no universo da moda. Naquele tempo, as coisas não eram tão facilmente acessíveis como hoje e para acompanhar as tendências e desfiles era preciso ir na banca comprar Caras Modas e assinar Directv para ver semanas de moda. Faculdade de moda era novidade e ninguém entendia bem o que se estudava lá.

Nem o fast fashion era fast. Lembro de ver peças em desfiles internacionais que só chegavam nas araras das grandes redes 1 ano depois. Conhecimento do vocabulário de moda? Pra poucos! Lembro que em 2003 entrei na Ellus pedindo por uma calça Skinny e recebi um ponto de interrogação como resposta. Hoje, qualquer vendedora sabe bem o que é o modelo skinny, boyfriend e flare. A informação de moda está absurdamente acessível com a internet e seus milhões de sites e blogs especializados no assunto. O que está no desfile de uma grife internacional hoje, estará facilmente em poucas semanas na vitrine da sua fast fashion favorita.

Não existe mais só coleção de primavera/verão e outono/inverno. Agora também temos alto verão, pre-fall, resort e cruise. Isso tudo acontecendo em 1 ano. Semanas de moda? Já perdi as contas de quantas acontecem ao redor do mundo.

Claro, é muito legal poder comprar peças que grandes estilistas fizeram parceria com redes de fast fashion, ou ver um desfile em Milão hoje e achar uma peça inspired na semana seguinte no shopping do lado da sua casa, ou ter aquela saia linda por apenas 10 dólares. Mas será que não estamos consumindo moda rápido demais? E será que não tem nada mesmo de negativo em relação a isso?

sobre-slow-fashion

Eu parei para pensar e vi muita coisa. Das mais fúteis, às mais sérias, muita coisa está errada na forma que consumimos moda nos dias de hoje. Já reparou como de um dia para o outro ficamos uniformizados? Consumimos peças dos mesmos lugares, das mesmas referências. As pessoas que fabricam moda assistem as mesmas palestras do líder mundial de previsão de tendências. Já vem tudo mastigado. Não tem que criar nem se inspirar. Só produzir e vender, vender e vender.

Nós, consumidores, também não temos mais que criar nada nosso. O “seu estilo” já está lá, pronto para ser consumido na vitrine da sua loja favorita. É só fazer uma ronda pelos blogs de looks do dia ou passear pelos corredores de uma semana de moda para perceber que mesmo que super “”estilosas”", as pessoas parecem em sua maioria, uniformizadas. Com o tênis da vez, a calça do momento, o acessório da temporada. Mas pera aí, estilo não era algo para refletir sua personalidade?  Tudo aquilo que te torna única?

Vivemos em um tempo que a moda virou sinônimo de frustração. Hoje o legal é ser seapunk, amanhã (literalmente) é normcore e nada parece mais contraditório. E não me venha falar que você tem opção. Se saia midi godê estiver na moda, as chances de você encontrar uma saia lápis caem 80%. Se cropped é o modelo de blusa da vez, esquece, porque não vai achar aquela long que você adora. E os tamanhos e diferentes tipos de corpo? Esquece! Você tem que vestir de 36 até 46 se quer ser considerada digna de andar vestida. E a mesma calça tem que servir em você que tem 1,75 e na sua amiga com 1,58. E aí a frustração não é só fashion, bate na autoestima também. E a maior frustração de todas: A coisa muda tão rápido, que enjoamos de tudo do nosso armário em uma velocidade absurda e nunca conseguimos ter o suficiente. A indústria da moda está produzindo 52 “micro-estações” por ano. Com as novas tendências que saem a cada semana, o objetivo do fast fashion é para que os consumidores comprem tantas roupas quanto possível, o mais rápido possível.

Se a essa altura do texto você também já acha que tempos os motivos suficientes para desacelerar, imagina se eu te falar que esses são os motivos mais fúteis? Não adianta mais tapar o sol com a peneira, gente. A forma que consumimos moda está fazendo mal ao nosso planeta, a nossa saúde física e mental e destruindo vidas de seres humanos e animais.

Atualmente, a indústria da moda usa um fluxo constante de recursos naturais para produzir peças de vestuário fast fashion. No modo de funcionamento, esta indústria está constantemente contribuindo para o esgotamento dos combustíveis fósseis utilizados, por exemplo, na indústria têxtil, vestuário, produção e transporte. Reservatórios de água doce também estão sendo cada vez mais reduzidos para a irrigação do algodão nas safras. A indústria da moda também está lançando de forma sistemática, e em quantidades cada vez maiores, compostos artificiais como pesticidas e fibras sintéticas, o que aumenta a sua persistente presença na natureza. Alguns recursos naturais estão em perigo e as florestas e os ecossistemas estão sendo destruídos por coisas como a produção de fibras, levando a problemas como secas, desertificação e alterações climáticas. Isso sem falar no mais grave de tudo, o trabalho escravo. Você realmente acha sua bolsa baratex do site chinês é mais importante que a vida de uma pessoa? Acredite, tem alguma coisa muito errada e nada democrática no princípio de comprar roupas por preços irrealistas. Um salário digno é um direito humano e nós, consumidores temos que ter consciência do poder em nossas mãos. Nós estaremos no caminho certo somente quando olharmos para um vestido novo de U$8 como um alerta vermelho e não como uma boa pechincha.

A indústria mainstream da moda depende de produção globalizada, onde roupas são produzidas a partir da fase de concepção para o varejo em apenas algumas semanas. Com os varejistas que vendem as últimas tendências da moda a preços muito baixos, os consumidores são facilmente seduzidos a comprar mais do que realmente  precisam.

Então o que podemos fazer para mudar essa realidade? O movimento Slow Fashion, ou moda lenta pode ser a solução. Na contramão da produção de roupas massivas e de baixa qualidade, o slow Fashion defende a criação de peças atemporais, feitas à mão, com tecidos naturais e duráveis além da produção em baixa escala e em locais que funcionam mais como ateliês do que como indústrias. Aqui no Brasil, uma das marcas que já trabalha esse conceito é a paulista Honey Pie.

O slow fashion acredita  na reutilização das peças, de compras em brechó, em peças feitas na costureira e no escambo e compartilhamento entre amigos e familiares da mesma peça. E eu pessoalmente acredito que essa é a forma mais fácil de praticar slow fashion.

Por que vamos ser realistas? Na vida prática ainda é muito difícil viver sem as facilidades que o fast fashion apresenta. Nosso salário nem sempre é compatível com a vontade de comprar peças de ateliês, a facilidade de parcelamento das grandes redes também ajuda e a lista de “vantagens” não tem fim. Mas quando a gente acredita em uma coisa, temos que fazer ela acontecer.

Por a gente acreditar tanto nisso, sentirmos vontade de fazer alguma diferença no mundo. E foi assim, conversando sobre consumo consciente que tivemos a ideia de fazer um evento com essa proposta. Quantas peças até sem uso que você comprou em alguma fast fashion está aí, parada no seu armário? Ou com certeza você também tem uma calça jeans que você amava, mas não te serve mais. E tem um monte de gente como você, inclusive, eu. No dia 07/12/14 (anotem aí na agenda de vocês), o GWS vai fazer um evento em Botafogo, Rio de Janeiro, misturando tudo que a gente acredita: Consumo consciente e autoestima. Amanhã vamos falar mais sobre isso aqui e nas nossas redes sociais, então, fiquem ligadas.

Por enquanto eu espero que vocês tenham captado a ideia. Se você se tornar mais consciente na hora de consumir, com certeza irá refletir de alguma forma nas indústrias. Se o desinteresse por esse consumismo exacerbado for cada vez mais aparente, uma hora a indústria acabará se adaptando aos novos perfis de consumidores. Seja a mudança que você espera do mundo.

http://www.girlswithstyle.com.br/slow-fashion-o-que-e-essa-nova-for...

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