Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Sob pressão, setor de moda reage para poluir menos

A preocupação não é só com o destino do produto que o consumidor não quer mais usar, mas como produzir poluindo menos.

Por Gabriela da Cunha

O setor têxtil vem sendo pressionado, por consumidores e investidores, para diminuir o uso de recursos naturais, poluir menos e fazer gestão mais eficiente de resíduos. E no Brasil há exemplos de fabricantes e varejistas que estão reagindo a essa pressão.

Antes da pandemia, em 2019, foram descartadas 170 mil toneladas de resíduos têxteis de maneira inadequada em aterros sanitários no país, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). A produção no ano seguinte chegou a 8 bilhões de peças de vestuário e acessórios. Segundo estimativa da consultoria IEMI – Inteligência de Mercado, das 963 mil toneladas de tecidos usados na produção de vestuário em 2021, cerca de 10% foram descartados como resíduos dos cortes.

A preocupação não é só com o destino do produto que o consumidor não quer mais usar, mas como produzir, poluindo menos. “A melhoria do processo de produção é crucial para a redução de água, energia e insumos”, diz Victoria Santos, coordenadora de inteligência competitiva do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Senai-RJ. “Os desafios são grandes de maneira global, mas no Brasil é mais desafiador porque temos dados confiáveis somente em algumas etapas. O nível de incerteza se torna crítica quando observamos a emissão e a geração de resíduos tanto dos processos produtivos quanto do pós-uso”, diz. Ela lembra que são quase 25 mil empresas do setor no país, a maior parte de pequeno e médio portes, que têm mais dificuldades para apresentar dados e fazer esse encadeamento produtivo. “Sem uma melhor gestão, mais estratégica, essa transição é mais difícil”, diz.

A urgência do cenário tem levado empresas, principalmente grandes grupos, a adotarem melhores práticas. A Lupo é um exemplo. A empresa já atua em sustentabilidade há um tempo, mas vem traçando metas mais audaciosas, em especial, na frente ambiental. Entre as iniciativas, estão a reutilização de água e processos de tingimento com maior eficiência. Investiu nos últimos anos em máquinas e tecnologias que ajudam a reduzir o consumo de água durante a produção. Agora a marca vem mudando as embalagens de seus produtos, o que já resultou em redução de 90% de papel.

“A redução de papel nas embalagens era algo que nós já estávamos estudando, e o resultado foi muito positivo pois também agregou na redução de resíduos sólidos”, diz Liliana Aufiero, presidente da Lupo.

A nova embalagem, transparente e acompanhada de um adesivo com os dados da composição do item, permite que o cliente veja o produto e a cor, sem ter de abrir o pacote. A Lupo usa papel cartão com certificado de manejo adequado de árvores e plásticos livres de ftalatos (substância química que polui a água). A mudança começou com a linha de cuecas sem costura e se estendeu aos produtos da marca Lupo Sport. Em breve chegará às demais linhas.

A Malwee está focando em produtos sustentáveis. Segundo Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, é considerada assim aquela peça de roupa que tem, no mínimo, 30% de insumos menos poluentes ou reciclados em sua composição e/ou uma redução de 50% do impacto ambiental (desperdícios e uso de água e energia) do processo. Assim, pelo menos 92% das peças da marca têm processos sustentáveis, sendo o jeans o principal exemplo. A empresa reduziu em até 98% o uso de água na confecção do jeans e zerou o uso de produtos químicos nocivos. Este ano a Malwee fabricou um moletom a partir de roupas usadas que seriam descartadas, em uma parceria com o grupo Eurofios e a Cruz Vermelha. “Temos a meta de promover até 2030, a reciclagem e a logística reversa em toda a cadeia de valor”, diz Weege.

Outra empresa que se comprometeu com metas sustentáveis foi a Lycra Company. Até 2030, a empresa quer reduzir 40% dos resíduos produzidos nas fábricas, 10% da pegada hídrica e tratar 100% dos resíduos sólidos. Até 2023, todos os produtos terão pelo menos um atributo sustentável.

Uma das principais apostas para atingir a estratégia é a nova geração do fio Lycra bioderivado. Recentemente a empresa firmou um acordo com a Qore, joint venture entre a americana Cargill e a empresa alemã de tecnologia Helm, para a primeira produção em grande escala de elastano de base biológica, tendo como um de seus principais ingredientes a Qira, nova geração de 1,4-butanodiol (BDO).

A expectativa é que o novo produto, que vai usar milho produzido em Iowa (EUA), reduza em até 44% as emissões de CO2 em comparação ao material com recursos baseados em combustível fóssil. O primeiro fio Lycra renovável feito com QiraC será produzido pela unidade da Lycra em Cingapura, a partir de 2024.

A empresa já usa a tecnologia Lycra EcoMade, fabricado com 20% de material reciclado pré-consumo e certificado pela Global Recycled Standard (GRS).

No varejo, C&A, Riachuelo e Farm são algumas das companhias que têm pautado ações ESG em suas estratégias.

Na Farm, por exemplo, 5% da coleção de verão de 2023 são de roupas jeans feitas com menor liberação de carbono e microplásticos, e que passa por lavagens com insumos biodegradáveis em locais com certificação. Desde 2019, cerca de 162 mil peças de jeans foram produzidas, usando 133 mil kWh de energia elétrica a menos do que em processos comuns, além de ter 100% do algodão empregado com certificado ABR (Algodão Brasileiro Responsável). Os produtos integram a linha re-Farm, um projeto de “upcycling” (reutilização) iniciado em 2015.

De acordo com Diego Francisco, líder de marketing da Farm, antes da re-Farm, as peças excedentes ficavam paradas em estoque e as sobras de tecidos destinadas a aterros sanitários. O projeto de circularidade ganhou corpo com parcerias com artesãos, negócios sociais e consultorias de sustentabilidade. De 2017 até 2021 foram oito coleções “upcycling” e 112 produtos diferentes. A meta para 2023 é expandir o percentual de matéria-prima responsável nas coleções e, até 2025, aumentar em 20% o número de peças que têm seu ciclo de vida alongado. A empresa estuda ainda compensação de emissões de gases de efeito estufa.

Marcas com menos tempo de mercado também veem na sustentabilidade um diferencial. Na Yes I am Jeans, a maioria das roupas é de tecidos compostos por fios de algodão reciclado, que economizam até 95% de água durante a fabricação e não passam pelo processo de purga (procedimento que elimina as impurezas do algodão), valorizando seu aspecto natural, explicam as sócias Raquel Ferraz e Fernanda Veríssimo.

Fonte: Valor Econômico

https://sbvc.com.br/sob-pressao-setor-de-moda-reage-para-poluir-menos/

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