Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Excomunhão: punição religiosa que implica em suspensão, expulsão e proibição de culto e pertencimento a uma comunidade religiosa. Estigmatização do fiel considerado merecedor da pena.

Tirânica e caprichosa, a moda é um terreno de prescrições (aquilo que se deve fazer e “ser”) e proscrições (o que não se deve fazer ou “ser, as proibições e interdições).

A moda, a associamos desde sempre com o novo, no sentido daquilo que é novidade e igualmente no que diz respeito às qualidades intrínsecas da juventude: a beleza, o frescor, o vigor e o viço. Envelhecer é um ato criminoso no mundo em que vivemos e mais pecaminoso ainda para aqueles que trabalham com moda.

A capacidade de renovação a cada nova estação, como árvores que, após perderem suas folhas e frutos, renascem primaveris é uma das virtudes mais apreciadas pelo teatro de encenações estetizadas que é a moda.

Os recursos hoje disponíveis para a manutenção, pelo maior tempo possível, de uma aparência jovem são inúmeros, ainda que questionáveis. Evitar a dor, da superfície que é o corpo, desgastada pelo tempo tornou-se uma obsessão dispendiosa e desesperada.

A moda, que vive da imagem, encontra nos mecanismos de sua manipulação (photoshop) a ilusão corretiva que contribui para a perpetuação de valores que advogam a supremacia do perfeito, pois que jovem.

Que moda poderia abraçar este corpo que envelhece graciosamente sem o enclausurar num terreno de naftalinas? Qual o segredo para a aceitação da velhice sem a companhia da desistência? Qual o limite entre resistência – lutar pelo melhor possível – e desistência – a indesejável entrega dos pontos?

Uma das mulheres mais lindas de nosso país é uma senhora que entregou sua vida à moda: Costanza Pascolato. Símbolo de tudo o que é correto e elegante, ela está invariavelmente impecável aos mais de 70 anos de idade. Majestosa, recebeu recentemente uma justa e digna homenagem da FFW MAG que a retrata absoluta como a papisa de nossa moda.

Costanza mantém os contornos de seu belo rosto mesmo que se percebam ali os rastros do tempo. Não poderia ser diverso para alguém que encarna com indiscutível soberania o estandarte de tudo o que se espera de alguém que trabalhe com moda.

Os desfiles de moda são comumente povoados por modelos escandalosamente jovens e assistir a momentos em que a maturidade se apresenta como a possibilidade de um outro olhar, ainda que à margem da estética vigente para as passarelas, é, no mínimo, estimulante. Exemplos desta ousadia incluem desfiles das coleções masculinas de Yohji Yamamoto e Alexandre Herchcovitch, por exemplo.

O número de campanhas que recorre a modelos mais velhos e maduros aumentou consideravelmente nos últimos tempos e contemplam desde abordagens mais conceituais como no caso da Lanvin, passam por leituras densamente sexualizadas como a ardente campanha da marca masculina brasileira Sérgio K em que a modelo Carmem Dell’Orefice, 82 anos, contracena com modelos mais jovens que a desejam carnalmente e incluem ainda campanhas com homens mais velhos na posição de objetos sexuais sejam modelos ou atores como se pode ver nas campanhas do perfume Chanel Nº 5 com Brad Pitt, ou Matthew McConaughey para Noir, le Lis.

O que reserva a moda para a fase crepuscular do corpo certamente deve ocupar a mente dos mapeadores de tendências mundo afora, de vez que a longevidade em muitos países do globo configura-se como uma realidade cada vez mais presente.

E, ainda que se insista em associar cronologia e decrepitude, há muito mais em jogo e infinitamente mais a explorar-se no terreno das possibilidades para um outro corpo que não aquele consagrado pela vasta maioria das publicações e imagens ligadas à moda.

Que se celebrem também as luzes de outonos e invernos do corpo da moda e que se as possa celebrar com a beleza da luminosidade que lhes é dada e única. Vítimas de uma entre as várias excomunhões da moda, os mais velhos e maduros, por muito tempo, expulsos da cena da moda, reivindicam, altivos, seus lugares restaurados.

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Respostas a este tópico

Olá Marco Antônio!

Bravo pelo texto!...

A longevidade é realmente, no meu ponto de vista, um privilégio para quem alcança...

Questiono muito a discriminação que a sociedade impõe aos mais experientes e maduros...é até compreensível e aceitável tanta "maquiagem" para não mostrar as marcas do tempo...mas o que importa mesmo é ter uma mente jovem e um espirito jovem, pois retrata a alma na sua mais pura imagem...

A moda para quem tem personalidade e estilo prórpio não tem idade...

Admirei seu texto e sua linha de pensamento.

Abraços

 

Marilan

Magnifico!! É esplendido. O envelhecer é tão normal e divino quanto o nascer. Lembrando que aqueles que chegam a velhice são merecedores. Linda a matéria... Justa e significativa.

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