Sobre o consumo compulsivo-Moda

[Romildo de Paula Leite]

Fui vítima do vício por muitos anos e acredito que muito mais mulheres (e homens) sofram desse mal, embora não o assumam. O mercado capitalista trata como algo corriqueiro o consumo excessivo, como os eventos sociais fazem vista grossa para o alcoolismo – como se nenhum deles fosse um problema. Por ter passado por isso, acredito que preciso falar sobre o assunto de vez em quando, para ajudar outras pessoas a ter uma relação mais equilibrada com o consumo. O próprio comércio ganharia muito se fizesse a sua parte por consumidores mais saudáveis. Melhor um consumidor comedido por anos e anos do que um comprador que exagera por pouco tempo, e depois é obrigado a sair de circulação por inadimplência – e só quem já passou por isso conhece o sofrimento.

A compulsão por compras é uma doença, como o vício por jogo ou por drogas. Não é algo de que nos curamos, mas que aprendemos a controlar. O sentimento de culpa retroalimenta o vício. O caminho é o autoconhecimento para entender as verdadeiras causas, normalmente carências e vazios com os quais não conseguimos conviver.

No meu caso, a chave se deu com a ajuda de uma psicanalista que me incentivou a olhar para a moda como um prazer e um dom, e não como um pecado. Minha relação com as roupas deixou a culpa de lado e pude discernir o que era exagero e o que era potencialidade. O prazer pela novidade na sacola começou a ser substituído pelo prazer de usar cada peça em todo o seu potencial, de todas as formas possíveis. Canalizei a minha obsessão para a composição de novas produções, muito mais do que para a aquisição de novos produtos. Passei a querer criar mais, em lugar de desejar ter mais.

Continuo amando novidades, mas foco em descobrir novidades no que já tenho. Fica a dica para quem quer deixar de ser vítima da doença e aprender a fazer de cada compra um ato feliz e equilibrado.

http://www.crisguerra.com.br/hoje-vou-assim/2014/09/19/sobre-consum...

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