Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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“A moda são as imagens da moda”. Assim, concedendo à visualidade sua absoluta e inquestionável preponderância, dediquei um texto acadêmico escrito há alguns anos atrás acerca do papel que a imagem desempenha na História da Moda.

Antes de a fotografia ser inventada no Séc XIX, o movimento do retratismo na Renascença não deixa margem para dubiedades no que diz respeito à potência sedutora de uma imagem. Todo o aparato técnico, assim como o virtuosismo pictórico alcançado por meio da perspectiva e da crescente preocupação anatômica, serviam ao propósito de emitir sentidos atrelados ao poder da nobreza européia deste período: luxo, riqueza, altivez e toda uma atmosfera que exala a majestade que se associa à aristocracia foram elementos de uma gramática visual estabelecida pela pintura renascentista.

Poses, posturas, olhares, penteados, calçados, vestimentas, jóias e acessórios finalmente retratados com todo o esplendor que mereciam desempenharam um papel determinante no estabelecimento daquilo que consideramos “luxo”.

É inegável que o poder retórico (de convencimento) da imagem só tenha se amplificado ao longo dos séculos e que hoje vivamos em um mundo invadido pela imagem em suas mais diversas formas e desdobramentos: salas de espelhos que se multiplicam ao infinito. A moda se resolve na imagem: editoriais, desfiles, vídeos e filmes promocionais, apenas para que se citem exemplos de utilização explícita da imagem de moda.

Há ainda, não se pode esquecer, os filmes de ficção em que, muitas vezes, a imagem acaba por tornar-se inspiração para a moda. Os exemplos são numerosos: Rebelde sem Causa com James Dean, Um Bonde Chamado Desejo com Marlon Brando, os filmes com Audrey Hepburn, Matrix…

Os blogs de moda são superfícies eminentemente visuais, com pouquíssimo espaço para o comentário verbal. Em poucas palavras, em um mundo tão brutalmente dominado pela visualidade, qual o lugar da escrita da moda? Haveria uma moda escrita e a quem ela poderia interessar? O que pode uma escrita que pretenda dar conta da sedução visual que por vezes emana das manifestações da moda? Como traduzir verbalmente esse impulso

O título deste texto responde, na verdade, a uma demanda interna. Em um cenário – aquele da Moda – dominado pela visualidade e por atos e ações eminentemente práticos, qual seria o lugar da escrita? Que propósito serviria o ato de aproximar-se da moda pelo viés da escrita? Haveria espaço na mente e nos corações daqueles que dizem amar a Moda para a experiência da leitura de uma escrita que propõe uma pausa para olhar e refletir?

Haveria, ainda, uma outra questão a pairar sobre nós. Qual seria essa escrita capaz de acompanhar a sedução essencialmente material e ao mesmo tempo fluida, pois que também estética, da moda?

Como já exposto em outro texto publicado aqui, a Moda, eu a encontro por meio da palavra e é com a mais profunda devoção que o faço. Como poderia ser diverso se traduzo impressões a análises para que me leiam? Bombardeados que somos por mensagens visuais de impacto imediato, independentemente de quão complexos sejam os conteúdos revelados para além da superfície exposta e visível, a escrita demanda o tempo de sua leitura e interpretação. Quem está de fato disposto a utilizar um pouco de seu precioso tempo para a contemplação que, por vezes, a escrita exige?

Qual seria a solução sedutora para que me lessem? A escrita não pode derramar sangue, o sensacionalismo nos seduz. A escrita não pode desnudar-se diante das câmeras como mulheres frutas expondo suas carnes intimas no frigorífico vítreo que é a televisão, a pornografia vende e vende-se. A escrita não pode trocar-se mil vezes diante do espelho instagrâmico para o deleite narcísico de seus atores.

A escrita da moda, como eu a vejo, só pode ser aquela que se deixa afetar pela poesia em algum momento, pois que, de resto, ela seria mero comentário dispensável de imagens auto-explicativas ou inegavelmente mais envolventes que o que delas se diz, como, por exemplo, as descrições acompanhadas das marcas e preços de peças fotografadas em um editorial de moda. Uma escrita acessório nunca seria a escrita moda. A moda e a escrita merecem mais que esta servidão humilhante.

Uma escrita-imagem. Imagem-escrita. E é isto que pode, por exemplo, a escrita da moda, “ modescrita”:

Da imitação: pétalas, camadas, carapaças, couraças, cascas ovíparas. Pele, pelo, plumas. A moda são as imagens da moda e ousam desrespeitar as margens das páginas em que as lemos, estas imagens. Elas escorrem em fios e tramas, costuram-nos à roupa. Segunda pele ou a pele primeira? Pele e pelo e plumas.

http://finissimo.com.br/2012/12/26/modescrita-sobre-o-lugar-da-escr...

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Matéria assim; da gosto.

Texto com a profundidade que a matéria merece, Obridado. 

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