Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Antes que se fale sobre os gordos e a moda, cabe que nos perguntemos quais os parâmetros utilizados para definir o que é ser magro ou gordo. Em uma sociedade obcecada com a magreza, “ser magro” implica igualmente o parecer magro. Há aqueles que aparentam ausência de volumes, circunferências reduzidas e próximas à pele.

“Pele e osso” diz-se daqueles magros clássicos, por assim dizer. Os magros esqueléticos. Hoje em dia, todavia, adotam-se parâmetros relativos ao IMC (Ïndice de Massa Corporal) para estabelecer a “magreza muscular”, a magreza saudável, bela, torneada e definida daqueles que possuem mais massa magra (músculos) que massa gorda (gordura), no corpo.

O espelho devolve ao indivíduo algo que já se vivenciou simbolicamente. Em outras palavras, o espelho nada reflete senão algo a que só o sujeito diante dele tem acesso. Ver-se magro ou gordo também é da ordem de uma realidade psíquica e a “verdade” dessa visão não se mede necessariamente pelo senso comum ou mesmo pelo bom senso mas sim pela experiência internalizada de uma imagem inalcançável no plano da realidade comum, mas desejada no inconsciente mesmo que a aproximação de tal imagem represente a doença ou a morte, como nos casos de anorexia e de bulimia nervosa.

O que não estamos dispostos a fazer para caber nesse corpo idealizado?

Cabe aqui, uma repetida vez, a ressalva histórica de que a moda é caprichosa e, portanto, os padrões estéticos vigentes em uma determinada época e sociedade são tão oscilantes quanto as estações que se sucedem infinitas e podem mudar por completo na estação seguinte.

Houve um tempo em que o belo era o robusto, hoje certamente tido como gordo, pois que a robustez era sinônimo de fartura, opulência, riqueza e fertilidade. A Vênus de Willendorf, estatueta datada de 2500 A.C.,exibe formas rotundas e redondas, o que remete à fertilidade que se alojava no corpo então idealizado desta mulher, hoje considerado indesejavelmente gordo, mas que à época de sua feitura representava os valores do desejo pela fertilidade do corpo mas igualmente pela fertilidade da terra. Esta gordura associada à riqueza da terra era sinônimo de luxo e, por conseguinte, “boa”.

O corpo humano sofreu alterações consideráveis ao longo do tempo, as pessoas eram mais baixas e menos delgadas. As roupas ocidentais contribuíram de forma definitiva para a percepção estética que temos do corpo aceitável e desejável. Basta uma análise panorâmica da História da Arte para que se perceba que um dia a beleza foi mais farta e redonda.

Se um de meus últimos textos para esta coluna dedicava-se a uma breve reflexão em torno do envelhecimento e do espaço que a Moda tem concedido recentemente aos mais velhos e maduros, sobretudo no que tange à presença madura nas imagens que se encarregam de promover a moda e novos estilos de vida, o texto que se apresenta aqui tem como objeto os gordos, igualmente banidos, por um longo tempo ao menos, da mídia associada à Moda.

A gordura ou “aparência da gordura” é hoje indesejável e os tratamentos e procedimentos estéticos e cirúrgicos para que nos livremos dela, incontáveis e dispendiosos. Há, todavia, uma onda estética que privilegia a opulência das formas do corpo e encontra na moda “plus-size” um nicho de mercado inexplorado até bem pouco tempo atrás. Modelos maiores (“big” em inglês) encontram aos poucos um mercado para exibir o que antes deveria ser ocultado, disfarçado ou extirpado do olhar público.

A gordura antes obscena agora parece dominar a cena da moda com ícones como Beth Ditto, vocalista do grupo Gossip e queridinha de Karl Lagerfeld e Adele, a cantora inglesa de belo rosto e voz potente que se apresenta invariavelmente elegante e confortável em sua magnitude física. No Brasil, Preta Gil assume sua robustez, a qual apresenta nítidos contornos de uma sensualidade tipicamente brasileira acentuada pela herança negra de nosso povo.

No cenário iconográfico dedicado às imagens que veiculam conteúdos homoeróticos, cabe lembrar que os ursos (“bears”) em suas mais diversas declinações estão na crista da onda e em cidades brasileiras como Rio e São Paulo causam furor e atraem um número cada vez maior de admiradores que se identificam com uma estética francamente oposta àquela preconizada pelos manuais gays por pelo menos uma década.

Jean-Paul Gaultier, notório iconoclasta, levou à passarela há cerca de dois anos atrás uma mulher grande usando diminutas peças íntimas. Mais que mais um escândalo da moda, natural no universo estético do criador francês, o que podem esses corpos fartos, robustos e férteis para além de um espetáculo
teatral? Quando e como os mais gordos de fato ocuparão seus lugares na moda contemporânea?

http://finissimo.com.br/2013/02/03/sobre-os-gordos-e-a-moda-excomun...

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