Você circula despretenciosamente por um shopping em busca de uma calça jeans. Em uma vitrine, encontra um modelo por R$ 150. Mais uma voltinha e um modelo praticamente idêntico é encontrado em uma loja de departamento por menos de R$ 60. A escolha pela calça mais barata é quase instintiva. Agora vamos a uma discussão mais ampla: apesar do bolso agradecer a diferença de preço, antes de chegar ao caixa você realmente pondera o que levou a uma diferença tão grande no valor?
Nesta segunda-feira, veio a público uma nova autuação da Zara, por descumprimento de acordo firmado em 2011 para melhorar as condições trabalhistas. Muita gente não deve ter tomado conhecimento da notícia ou ela não teve impacto suficiente para questionar o consumo não só da marca, mas da indústria têxtil em geral.
Para o professor Júlio César Nogueira de Sá, especialista em Marketing, Vendas, Liderança e Inovação pela IBE-FGV, o problema não fica isolado somente em uma empresa. “É preciso questionar o que levou a empresa a partir para a irregularidade. Punir uma situação dessas está correto, porque chegamos ao ponto extremo de termos pessoas trabalhando em situação degradante. Mas não adianta a Zara corrigir seus problemas e enfrentar uma concorrência de preço desigual com os demais competidores no mercado”, afirma.
O especialista pondera ainda que, para escapar da fiscalização, muitas gigantes da indústria têxtil recorrem ao produto chinês ou de outras regiões da Ásia, que produzem roupas baratas, porém fabricadas em condições de desumanas.
Na avaliação do especialista, a reversão deste quadro alarmante é complexa, mas depende de uma mudança de postura não só poder público, mas também da comoção pública, para que o consumo seja impactado. “A minha visão é de que o governo deveria intervir o mínimo possível para que o mercado se autorregulasse. Mas se existe uma intervenção no sentido de punir as irregularidades – que realmente devem ser repreendidas – é preciso que também exista um ambiente propício para que a indústria possa se estabelecer em condições mais competitivas. Com a quantidade de encargos que são impostos hoje, o empresário não tem como competir com o produto que vem da China”.
Ainda sobre a indústria têxtil, ele cita o exemplo de várias fábricas que foram fechadas no interior de São Paulo por falta de condições para competir com o produto chinês. Além da crítica que é feita quanto ao excesso de encargos à indústria no Brasil, ele menciona ainda bons exemplos que precisam ser incentivados e vistos com maior frequência e cita como exemplo a Natura. “A empresa desenvolve um trabalho que colabora para o crescimento das cooperativas de comunidades da Amazônia e mostra o trabalho que vem sendo feito ao seu consumidor final”, ou seja, os consumidores são incentivados a arcar com maior valor agregado ao verem uma boa iniciativa atrás da produção.
Recentemente, uma campanha global do canal Fashion Revolution viralizou na internet, mostrando um experimento social. Uma máquina, similar a essas de refrigerante, era colocada na rua oferecendo camisetas por dois euros. Quando as pessoas selecionavam o botão para comprar, um vídeo era exibido mostrando como aquela roupa era produzida para custar dois euros, por pessoas que ganham 13 centavos de euro por hora e trabalham até 16 horas por dia. A mensagem e as imagens eram tão impactantes, que as pessoas desistiam da compra e doavam o dinheiro.
O especialista relembra a febre ocorrida no ano passado com os produtos diversos importados da China, pelo Aliexpress ou Deal Extreme. “As pessoas as vezes esperavam por mais de trinta dias para ter um produto em casa, mas pagavam dois dólares em algo que se fossem comprar aqui pagariam R$ 50. Vai da consciência de cada um, quantas crianças trabalharam em condições precárias para este produto chegar barato no Brasil?”, comenta.
O questionamento da massa ao consumir serve de incentivo para que as empresas busquem alternativas, que também se empenhem em promover o consumo consciente, defende o especialista. O tema é cheio de situações problemáticas e de soluções que dependem de ações conjuntas. Mas tocar no assunto e incitar a discussão é um passo que precisa ser dado.
FONTE: http://financasfemininas.uol.com.br/suas-compras-financiam-trabalho...
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Muita coisa certa, mas confundiu-me. A citada Zara com trabalho escravo vende mais barato do que quem? Como o consumidor vai saber que o mais barato advem de escravidão ou a mais cara só cobra grife? Dificil comparar.
Quanto($) de material tem uma calça jeans? Talvez chegue a R$15,00. A Avon comparada com Natura, são iguais em produtos e ninguem prefere Natura pela ecologia. Produtos iguais compramos pelo menor preço e às vezes, pela melhor embalagem. Quantas empresas se gabam de dar trabalho ao menor, por tirá-lo d a rua e dar-lhe profissão?
Como dito, é muito complexo.
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