Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Da lavoura à indústria. Elaboração das regras vai envolver toda a cadeia produtiva têxtil: produtores de algodão já controlam substâncias que podem fazer mal ao ser humano - Adriano Machado / Bloomberg News.

RIO – A exemplo do que já existe na Europa, há quase uma década, a indústria têxtil brasileira, com apoio da cadeia produtiva do setor, trabalha na elaboração de normas para limitar a presença de substâncias tóxicas em peças de vestuário. Há três meses a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) criou um grupo de estudos para discutir o tema e elaborar as regras. Nas duas primeiras reuniões — a terceira ocorre nesta quarta, em São Paulo — foram mapeadas as 12 substâncias que terão a presença limitada, por trazerem riscos à saúde quando em contato com a pele por meio das roupas. Elas podem estar presentes nos tecidos em razão do uso de corantes nos fios e até de pesticidas na produção do algodão.

Os danos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Toxicologia, podem ir desde a inflamação da pele, causada pelo contato direto com a substância irritante, às dermatites, passando por problemas nos rins, no sistema nervoso e até câncer. A previsão da Abit é que as regras, que serão de adoção voluntária, entrem em vigor no segundo semestre do ano que vem. Tempo para concluir a normatização, colocá-la em consulta pública, finalizá-la e publicá-la.

REGISTRO DE CASO DE DERMATITE LEVOU AO ESTUDO

Não há registros de casos de doenças associadas ao vestuário em bancos de dados oficiais no Brasil, e o gerente de Tecnologia e Inovação da Abit, Sylvio Napoli, que dirige o estudo, garante que não há motivos para “alarde”, mas admite que houve o relato de um caso de dermatite à associação.

— Não está havendo explosão desse problema. Mas tivemos um caso pontual, de um consumidor que teve uma dermatite causada por alergia a uma dessas substâncias. Como forma de prevenção, resolvemos implementar o grupo para criar uma regulamentação, que será voluntária, e minimizar os riscos de outros casos — afirma.

Durante a última Copa do Mundo, a certificadora alemã TÜV Rheinland realizou em seu laboratório na Turquia testes em 90 camisetas não oficiais, voltadas para o público mirim, das seleções que participaram do mundial. Na avaliação, foram verificadas a qualidade das peças e se havia substâncias químicas nocivas nelas, segundo os valores limite para produtos têxteis definidos pela União Europeia: 30% foram reprovadas. Apresentaram substâncias tóxicas não permitidas, inclusive cádmio (considerado altamente tóxico), corantes azo (alguns deles apontados como cancerígenos) e ftalatos. Entre as camisetas reprovadas estavam duas fabricadas no Brasil.

— Em duas delas foram constatados ftalatos, que são plastificantes utilizados principalmente para impressões sobre tecidos e podem causar disfunção hormonal e infertilidade — alerta Daniel Vilhena, porta-voz para o Brasil da TÜV.

Danielle Palma de Oliveira, mestre e doutora em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela Universidade de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, afirma que, quando em contato com a pele humana, essas substâncias, principalmente presentes em corantes, podem causar dermatites e provocar a quebra de DNA das células, o que, associado a outros fatores, pode até gerar um câncer de pele.

— As pessoas que vivem em regiões mais quentes e suam mais estão mais expostas a esses efeitos, pois o suor ajuda a extrair os corantes das roupas e intensifica o contato com a pele. Mas existem corantes disponíveis para a indústria livres dessas substâncias — ressalta a especialista.

O médico Alexandre Filippo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que bebês e alérgicos crônicos são mais sensíveis a estas substâncias. Como não são identificadas em testes de alergia, têm o diagnóstico feito por exclusão.

— Geralmente são causadoras daquelas coceiras que se sente após um dia de trabalho, ao tirar a roupa — exemplifica o dermatologista.

O tratamento, neste caso, é simples. Inclui a diminuição do tempo de banho e uso de sabonete neutro para manter a pele hidratada e para que se crie uma barreira cutânea. Roupas 100% algodão são as menos alergênicas, ensina.

A Abit adianta que será necessário habilitar uma rede de laboratórios capacitados para identificar essas substâncias. Hoje, esses testes só podem ser feitos no exterior.

— Se quisermos fazer análises das 12 substâncias, constatar a presença e quantidade, não temos laboratório em condições no Brasil. Mas eles já estão fazendo um trabalho coletivo de preparação — garante Napoli, gerente da Abit.

NORMAS TAMBÉM VALERÃO PARA IMPORTADOS

As diretrizes, explica Napoli, vão estabelecer o limite seguro de presença nos produtos para que não haja riscos à saúde do consumidor. As 12 substâncias que serão reguladas são as mesmas que tiveram o uso restringido na União Europeia (alquilfenóis, retardadores de chama bromados e clorados, corantes azóicos, compostos organoestânicos, substâncias químicas perfluoradas, clorobenzenos, solventes clorados, clorofenóis, parafinas cloradas de cadeia curta, metais pesados como cádmio, chumbo e mercúrio, formaldeído e fetalatos). No Brasil há restrições a algumas dessas substâncias para alimentos e embalagens, cosméticos, medicamentos, brinquedos e artigos infantis. O Inmetro também discute a criação de normas para a presença de cádmio em bijuterias.

— Essas substâncias passam a ser nocivas a partir de uma determinada quantidade. Esses limites é que estão sendo tratados dentro da comissão. Como já existem na Europa diretrizes a respeito, nos baseamos nelas — diz o representante da Abit.

As normas também vão valer para os importadores, que deverão exigir dos fornecedores internacionais que estejam adequados à regulamentação brasileira. Apesar da normatização não ser compulsória, Napoli diz que o Inmetro terá poder fiscalizador junto ao varejo. Ele acredita que as grandes fabricantes não vão ignorar a questão:

— Já existe uma norma internacional que o mundo conhece, e quando nosso fabricante exporta ele já produz dentro dessas regras.

Em nota, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) garante que os defensivos usados no campo na produção de algodão não são nocivos ao consumidor final da fibra. A entidade informa que o algodão de seus associados é certificado por ser produzido “com cuidados em relação ao uso adequado de defensivos”. Contatada a Associação Brasileira da Indústria Química, que a Abit diz participar do estudo, não deu retorno ao GLOBO.

O Inmetro informou não integrar o grupo de estudos sobre o tema e disse não existir na Agenda Regulatória previsão de desenvolvimento de regulamentação a respeito. Mas ressalta que isso não impede que fiscalize o cumprimento da norma que está sendo eleborada.

Fonte O Globo.

Da lavoura à indústria. Elaboração das regras vai envolver toda a cadeia produtiva têxtil: produtores de algodão já controlam substâncias que podem fazer mal ao ser humano - Adriano Machado / Bloomberg News.

RIO – A exemplo do que já existe na Europa, há quase uma década, a indústria têxtil brasileira, com apoio da cadeia produtiva do setor, trabalha na elaboração de normas para limitar a presença de substâncias tóxicas em peças de vestuário. Há três meses a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) criou um grupo de estudos para discutir o tema e elaborar as regras. Nas duas primeiras reuniões — a terceira ocorre nesta quarta, em São Paulo — foram mapeadas as 12 substâncias que terão a presença limitada, por trazerem riscos à saúde quando em contato com a pele por meio das roupas. Elas podem estar presentes nos tecidos em razão do uso de corantes nos fios e até de pesticidas na produção do algodão.

Os danos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Toxicologia, podem ir desde a inflamação da pele, causada pelo contato direto com a substância irritante, às dermatites, passando por problemas nos rins, no sistema nervoso e até câncer. A previsão da Abit é que as regras, que serão de adoção voluntária, entrem em vigor no segundo semestre do ano que vem. Tempo para concluir a normatização, colocá-la em consulta pública, finalizá-la e publicá-la.

REGISTRO DE CASO DE DERMATITE LEVOU AO ESTUDO

Não há registros de casos de doenças associadas ao vestuário em bancos de dados oficiais no Brasil, e o gerente de Tecnologia e Inovação da Abit, Sylvio Napoli, que dirige o estudo, garante que não há motivos para “alarde”, mas admite que houve o relato de um caso de dermatite à associação.

— Não está havendo explosão desse problema. Mas tivemos um caso pontual, de um consumidor que teve uma dermatite causada por alergia a uma dessas substâncias. Como forma de prevenção, resolvemos implementar o grupo para criar uma regulamentação, que será voluntária, e minimizar os riscos de outros casos — afirma.

Durante a última Copa do Mundo, a certificadora alemã TÜV Rheinland realizou em seu laboratório na Turquia testes em 90 camisetas não oficiais, voltadas para o público mirim, das seleções que participaram do mundial. Na avaliação, foram verificadas a qualidade das peças e se havia substâncias químicas nocivas nelas, segundo os valores limite para produtos têxteis definidos pela União Europeia: 30% foram reprovadas. Apresentaram substâncias tóxicas não permitidas, inclusive cádmio (considerado altamente tóxico), corantes azo (alguns deles apontados como cancerígenos) e ftalatos. Entre as camisetas reprovadas estavam duas fabricadas no Brasil.

— Em duas delas foram constatados ftalatos, que são plastificantes utilizados principalmente para impressões sobre tecidos e podem causar disfunção hormonal e infertilidade — alerta Daniel Vilhena, porta-voz para o Brasil da TÜV.

Danielle Palma de Oliveira, mestre e doutora em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela Universidade de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, afirma que, quando em contato com a pele humana, essas substâncias, principalmente presentes em corantes, podem causar dermatites e provocar a quebra de DNA das células, o que, associado a outros fatores, pode até gerar um câncer de pele.

— As pessoas que vivem em regiões mais quentes e suam mais estão mais expostas a esses efeitos, pois o suor ajuda a extrair os corantes das roupas e intensifica o contato com a pele. Mas existem corantes disponíveis para a indústria livres dessas substâncias — ressalta a especialista.

O médico Alexandre Filippo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que bebês e alérgicos crônicos são mais sensíveis a estas substâncias. Como não são identificadas em testes de alergia, têm o diagnóstico feito por exclusão.

— Geralmente são causadoras daquelas coceiras que se sente após um dia de trabalho, ao tirar a roupa — exemplifica o dermatologista.

O tratamento, neste caso, é simples. Inclui a diminuição do tempo de banho e uso de sabonete neutro para manter a pele hidratada e para que se crie uma barreira cutânea. Roupas 100% algodão são as menos alergênicas, ensina.

A Abit adianta que será necessário habilitar uma rede de laboratórios capacitados para identificar essas substâncias. Hoje, esses testes só podem ser feitos no exterior.

— Se quisermos fazer análises das 12 substâncias, constatar a presença e quantidade, não temos laboratório em condições no Brasil. Mas eles já estão fazendo um trabalho coletivo de preparação — garante Napoli, gerente da Abit.

NORMAS TAMBÉM VALERÃO PARA IMPORTADOS

As diretrizes, explica Napoli, vão estabelecer o limite seguro de presença nos produtos para que não haja riscos à saúde do consumidor. As 12 substâncias que serão reguladas são as mesmas que tiveram o uso restringido na União Europeia (alquilfenóis, retardadores de chama bromados e clorados, corantes azóicos, compostos organoestânicos, substâncias químicas perfluoradas, clorobenzenos, solventes clorados, clorofenóis, parafinas cloradas de cadeia curta, metais pesados como cádmio, chumbo e mercúrio, formaldeído e fetalatos). No Brasil há restrições a algumas dessas substâncias para alimentos e embalagens, cosméticos, medicamentos, brinquedos e artigos infantis. O Inmetro também discute a criação de normas para a presença de cádmio em bijuterias.

— Essas substâncias passam a ser nocivas a partir de uma determinada quantidade. Esses limites é que estão sendo tratados dentro da comissão. Como já existem na Europa diretrizes a respeito, nos baseamos nelas — diz o representante da Abit.

As normas também vão valer para os importadores, que deverão exigir dos fornecedores internacionais que estejam adequados à regulamentação brasileira. Apesar da normatização não ser compulsória, Napoli diz que o Inmetro terá poder fiscalizador junto ao varejo. Ele acredita que as grandes fabricantes não vão ignorar a questão:

— Já existe uma norma internacional que o mundo conhece, e quando nosso fabricante exporta ele já produz dentro dessas regras.

Em nota, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) garante que os defensivos usados no campo na produção de algodão não são nocivos ao consumidor final da fibra. A entidade informa que o algodão de seus associados é certificado por ser produzido “com cuidados em relação ao uso adequado de defensivos”. Contatada a Associação Brasileira da Indústria Química, que a Abit diz participar do estudo, não deu retorno ao GLOBO.

O Inmetro informou não integrar o grupo de estudos sobre o tema e disse não existir na Agenda Regulatória previsão de desenvolvimento de regulamentação a respeito. Mas ressalta que isso não impede que fiscalize o cumprimento da norma que está sendo eleborada.

Fonte O Globo.

http://sindivestuario.org.br/2014/09/substancias-toxicas-presentes-...

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