Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Tecnologia brasileira permite criação de roupa repelente e que evita odor

Nanopartículas criadas por brasileiros podem ser incorporadas a tecidos e fazer com que, ao mesmo tempo, peças de roupa sejam repelentes, controlem o calor e evitem o mau cheiro. Opções atuais são importadas e não agregam todas as propriedades.

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Uma nanotecnologia desenvolvida para tecidos promete controlar o calor, o odor e repelir insetos. Tudo em uma mesma roupa ou em peças separadas. Além disso, os materiais utilizados no produto são totalmente nacionais, não provocam impacto ambiental nem causam alergia. A novidade tecnológica é uma criação da empresa paulista Nanox, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e está em fase de testes. A previsão é de que comece a ser comercializada ainda neste ano.
A ideia surgiu devido à grande demanda nacional por tecidos com tecnologia acoplada. O material brasileiro nanotecnológico (em escala equivalente à bilionésima parte do metro) é composto por três soluções — refletivo solar, antimosquito e antiodor —, que podem ser aplicadas em qualquer base de tecido, como roupas de cama, vestuário, tendas, colchões e carpetes. As utilidades podem ser incorporadas individualmente ou em conjunto, conforme a escolha da indústria têxtil que as adquirir. Hoje, a maioria das opções com essas propriedades, além de importada, as oferece separadamente.
O processo de integração das nanopartículas ao tecido é o mesmo para as três propriedades, apesar das funções distintas. O aditivo antimosquito age de três maneiras. É repelente, liberando inseticidas e mantendo os insetos afastados do tecido. Provoca também o efeito patas quentes, que aquece os pontos de contato entre o mosquito e o tecido. Por último, há o efeito paralisante, que imobiliza o inseto se o contato persistir.
O aditivo antiodor tem propriedades bactericida, antimicrobiana e autoesterilizante. Ao serem incorporadas às fibras de tecidos, essas nanopartículas eliminam a ação de micro-organismos como bactérias, fungos e ácaros, o que permite a inibição do mau cheiro e evita o amarelamento da peça.
Já o aditivo refletivo solar é um produto inédito no mercado. Ele funciona como um microespelho, refletindo a radiação solar que incide sobre o tecido. Esse efeito é imperceptível aos olhos humanos e controla o calor das roupas, pois dispõe de proteção UV.
Segundo Juan P. Hinestroza, professor de ciência de fibras na Universidade de Cornell em Nova York, aditivos antimosquito e antiodor são utilizados por indústrias têxteis no mundo inteiro. Por outro lado, o refletivo solar é uma novidade até para o mercado internacional. “Eu gosto da ideia de usar a nanotecnologia como uma ferramenta para refletir a radiação solar nos tecidos. É bem interessante e inovador”, avalia.

Resistência a lavagens

Segundo Guilherme Carvalho,  químico, físico e coordenador do projeto, o diferencial dessa nanotecnologia é o pronto atendimento às demandas do mercado nacional. Em particular, ressalta ele, as nanopartículas antimicrobianas apresentam maior resistência à lavagem, à temperatura e à abrasão, em comparação a outros produtos químicos convencionais. “Por ser um material nanotecnológico de alta eficiência, ele traz vantagens como a concentração de uso muito menor, o que reduz drasticamente o impacto ao meio ambiente”, acrescenta.
Professora de engenharia têxtil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Késia de Oliveira ressalta que o uso de nanotecnologia na indústria têxtil está em fase de consolidação no Brasil. “A cada dia, as indústrias estão vendo a necessidade de se implementar novas tecnologias ou se reinventar em processos criativos e produtivos que utilizam a nanotecnologia”, explica.
Além de agregar valor ao produto final, o investimento permite, por exemplo, acabamentos funcionais e melhor duração do produto. Além disso, gera oportunidades de negócios, reduz os custos e oferece tecnologias mais eficazes e amigáveis ao meio ambiente. “A nanotecnologia é excitante e desperta muitas pesquisas desafiadoras. Ela vai nos impactar mais ainda no futuro”, aposta Késia de Oliveira.
 

Palavra de especialista

À espera de soluções
“A ação de repelência a insetos, o acabamento de proteção UV (solar) e o efeito antiodor são as propriedades, talvez, mais procuradas para a confecção de produtos têxtil atualmente. Isso se dá pelo fato de haver uma necessidade por parte das indústrias em atender às necessidades de um mercado de grande volume. O aditivo antimosquito, por exemplo, é um produto que a população necessita com urgência, pois pode contribuir para o controle da proliferação de mosquitos, até mesmo os perigosos. Mas a utilização da nanotecnologia na área têxtil vem se destacando também em outras linhas, como nos processos de tingimento, estamparia e produção de filamentos sintéticos (polímeros) com funcionalidades específicas em peças de vestuário final e, inclusive, em tratamento de efluentes gerados por setores produtivos têxteis”
Késia de Oliveira, professora de engenharia têxtil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
 

Testes promissores

As soluções nanotecnológicas foram testadas em peças de uso universal, como malhas e tecidos planos. Contudo,  faltam experimentos em humanos com os tecidos acabados. A expectativa é de que eles ocorram em breve, mas apenas usando aditivos antiodor e o refletivo solar. Segundo os pesquisadores, como o princípio ativo (permetrina) do antimosquito é usado há muitos anos e é reconhecidamente eficiente, só se faz necessário quantificar a substância no tecido logo após a aplicação e as lavagens para, assim, verificar se está dentro de um nível de eficiência.
Todos os resultados obtidos até o momento foram positivos. Tecidos com partículas do refletivo solar, ao serem expostos aos raios solares, apresentaram redução de até 6,5ºC na temperatura, em comparação com peças tradicionais. Com o antiodor, a equipe conseguiu reduzir em 99,9% o crescimento microbiológico.
De acordo com o coordenador-geral do projeto, Guilherme Carvalho, em todos os testes foram utilizadas camisetas divididas ao meio. Uma metade da peça tinha o princípio ativo e a outra, não. Com o aditivo antiodor, voluntários avaliaram o cheiro na roupa após um tempo determinado de uso e atribuíram nota de zero a 10. Também foram feitos experimentos de controle de crescimento de micro-organismos. Com o aditivo refletivo solar, foi aferida a temperatura da camiseta depois de ela ter sido usada. Dessa forma, pôde-se quantificar a transmitância de radiação da peça.
“Os aditivos já estão prontos para a comercialização, mas isso vai se transformar em tecido e, depois, em uma peça de roupa. Tudo depende das empresas têxteis que os estão aplicando”, conta Guilherme Carvalho. Segundo ele, em média,  um tecido com a tecnologia tem valor aumentado entre 10% e 15%, considerando o preço da peça tradicional. 
Até 15%
Aumento estimado no custo do tecido quando são agregadas as nanopartículas funcionais
  

Pijama monitora o sono

 
Ter uma boa noite de sono melhora o desempenho de tarefas diversas durante o dia, além dos benefícios para a saúde. Supervisionar a qualidade do descanso, porém, não é simples. Um grupo de pesquisadores aposta no uso de pijamas para facilitar o processo. A roupa de dormir ganhou sensores embutidos e autoalimentados, capazes de fazer o monitoramento contínuo e discreto da pulsação, respiração e postura do usuário. Com essas informações, médicos podem detectar problemas e propor soluções.
O chamado Phyjama tem cinco remendos discretos, compostos por sensores e interconectados por fios de nylon banhados de prata e protegidos com algodão. A fiação de cada remendo termina em uma placa de circuito, que é colocada no mesmo local do botão da roupa. Os dados recolhidos são enviados a um receptor usando um pequeno transmissor bluetooth,  que faz parte do circuito do botão.
Há dois tipos de sensores: um que identifica mudanças de pressão constantes, como a do corpo de uma pessoa contra a cama, e outro que capta pequenos sinais balísticos do coração. Essa última função é inédita, segundo a líder dos pesquisadores, Trisha L. Andrews. “Tivemos que integrar discretamente elementos sensoriais e fontes de energia portáteis em roupas de uso diário, mantendo o peso, a sensação, o conforto, a funcionalidade e a estrutura de tecidos familiares”, complementa.

Vapor reativo

A chave para o pijama inteligente é um processo chamado de deposição de vapor reativo. Esse método permite sintetizar um polímero e, simultaneamente, depositá-lo no tecido na fase de vapor para formar vários componentes eletrônicos e, em última análise, sensores integrados. Ao contrário da maioria, os filmes de polímero eletrônico depositados por vapor são resistentes à lavagem e ao desgaste, suportando rotinas de fabricação têxteis mecanicamente rígidas.
A equipe de Trisha L. Andrew testou a peça em voluntários e validou as leituras dos sensores de forma independente. Ela estima que o produto possa estar no mercado dentro de dois anos e custar entre US$ 100 e US$ 200. Detalhes do trabalho serão apresentados hoje, no encontro da Sociedade Americana de Química.
 

Para idosos

Agora, o grupo trabalha na ampliação da tecnologia visando o uso de sensores eletrônicos portáteis para evitar quedas de idosos. Nesse caso, o equipamento vai monitorar os passos dos usuários e enviar feedbacks que possam ser analisados por parentes, médicos ou profissionais de casas de repouso e lar de idosos, por exemplo. 
  
* Estagiária sob supervisão de Carmen Souza

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