Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Alessia Pierdomenico/Bloomberg / Alessia Pierdomenico/BloombergBrunello Cucinelli: aquisição para incluir ternos nas prateleiras de sua rede

Brunello Cucinelli, autoproclamado rei do cashmere da Itália e criador de um império de roupas esportivas de luxo que vale € 1,6 bilhão, exibe uma aparência excepcionalmente formal num terno de paletó transpassado de corte elegante.

No auge da temporada de desfiles europeus de roupa masculina, sua escolha do modelo a usar no evento de Pitti Immagine representa uma guinada de imagem para o empresário, originário de Umbria e dono da grife que leva seu nome, que reflete uma mudança dos ventos da moda. Os ternos voltaram a ser destaque não apenas nos desfiles masculinos de Londres, Milão e Paris deste mês como do setor como um todo.

Com a desaceleração das vendas na China e no segmento de roupas femininas, os homens despontam como seguidores zelosos da moda, e o terno - com seu elevado custo e altas margens para o setor - faz sua reaparição. Analistas preveem que o crescimento do mercado de roupas masculinas ultrapassará o das femininas nos próximos cinco anos, e essa mudança está se traduzindo numa escalada de estreias e de linhas novas para consumidores do sexo masculino.

Tendência proporciona margem de lucro maior para grifes, que investem em lojas e novas coleções voltadas para os homens

A Prada, a empresa de artigos de luxo de crescimento mais acelerado entre as maiores do setor, abriu várias lojas exclusivamente voltadas para os homens nos últimos 12 meses. A Louis Vuitton está investindo em sua marca Berluti de produtos de luxo masculinos, assim como a Kering (ex-PPR) em sua grife para homens Brioni (com 25% da produção sob medida).

Em mais um sinal do crescente poder do segmento, a Ermenegildo Zegna, maior grife voltada exclusivamente para o mercado masculino, deu a partida na temporada de moda de Milão com um desfile espetacular, realizado contra a imagem de uma esfera pulsante, que rivalizou com os desfiles femininos, geralmente de maior visibilidade.

Entre os eventos mais aguardados da Milan Fashion Week deste ano estava o lançamento do showroom do alfaiate de Nápoles Kiton, cujos ternos são vendidos por € 5 mil a € 30 mil.

Cucinelli aderiu à tendência, ao lançar uma linha de ternos prêt-à-porter. "A moda voltou-se para o terno. Estamos retomando uma visão de belo corte, um pouco mais alinhado, mas muito chique e jovial", disse o empresário, de 60 anos, em entrevista ao "Financial Times".

Embora o estilo possa ser mais formal que o normal no caso de Cucinelli, os preços sofisticados são familiares para a marca que vende casacos curtos de cashmere por € 1 mil. Um blazer é oferecido no varejo por aproximadamente € 3 mil, e uma calça por aproximadamente € 2 mil.

O analista Mauro Baragiola, do Citi, afirma que a guinada dos estilistas para os ternos pode ter sucesso significativo num "mercado potencialmente rico", principalmente se os alfaiates de Cucinelli fizerem aparições em suas mais de 100 lojas no mundo inteiro e em lojas de departamentos. "A atratividade da marca pode se beneficiar" escreveu Baragiola em nota recente.

No entanto, ampliar a oferta de produtos para os ternos masculinos não é uma iniciativa sem custo para as marcas de luxo, principalmente para pessoas como Cucinelli, que não dispunha das qualificações para a produção nos quadros da casa. Cucinelli comprou uma célebre fabricante de ternos italiana na vizinha Toscana por € 3,5 milhões no ano passado, incorporando 56 funcionários para confeccionar seus ternos. Segundo Baragiola, essa iniciativa vai restringir a lucratividade nos próximos anos.

Cucinelli não se preocupa com o custo no curto prazo. "Somos os pais espirituais, juntamente com os ingleses, da moda masculina. Mas precisamos agora voltar a investir nas qualificações de produção necessárias", afirma ele, destacando que os promissores consumidores masculinos de luxo são especialmente atentos à procedência de suas compras, tendência que reflete o interesse, entre os homens, pela origem de seus relógios e carros esportivos.

Esse interesse transformou em alvo o setor de manufatura de moda masculina da Itália. O Fosun Group da China recentemente comprou uma participação de 35% na Caruso, fabricante de ternos de luxo do empresário Umberto Angeloni. A Fung Capital, o braço de "private equity" da família Fung, de Hong Kong, acaba de comprar a britânica Kilgour e pretende integrá-la à recente aquisição da Hardy Amies.

Para Cucinelli, a tendência se encaixa com a filosofia comercial que cultiva há muito, de que os consumidores de maior renda estão preparados para pagar altos preços por mercadorias cuja origem e trabalho envolvido para produzi-las sejam conhecidos.

A marca teve início nas colinas de Umbria quando Cucinelli, filho de um trabalhador do campo, decidiu abandonar a faculdade de engenharia, 30 anos atrás. Ele conseguiu um empréstimo de seu banco local e começou a tingir pulôveres de cashmere com uma paleta de cores vivas.

Antes de ter as ações de sua empresa registradas em bolsa, em 2012, havia ceticismo no mercado de que Cucinelli pudesse conseguir sustentar seu modelo de negócios, que inclui empregar parte dos lucros para custear empresas comunitárias, entre elas uma escola profissionalizante para treinar futuros profissionais de produção de malhas e cortadores de tecidos.

Em vez disso, as ações da empresa duplicaram de valor. Ele vem sendo ajudado pelo fato de a marca ter ficado menos exposta à desaceleração mais ampla da China, onde ele mantém apenas 10 lojas.

Seu modelo de negócios, aparentemente, também chamou a atenção de outras companhias de peso. Cucinelli afirma que um executivo da Apple veio encontrá-lo recentemente para lhe perguntar sobre o sistema que emprega pequenas comunidades de artesãos nos arredores de Umbria para confeccionar sua onerosa roupa esporte.

"Acho que há uma volta à ideia sobre o valor do trabalho e o valor da remuneração. Trata-se de devolver dignidade à ideia de lucros saudáveis", observa Cucinelli. (Tradução de Rachel Warszawski)


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Por Rachel Sanderson | Financial Times, de Milão



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