Mergulhar num mundo à margem: um mundo outro tecido com os fios mesmos de uma luxúria sensorial, como se de uma tela de pano antiga se retirassem cuidadosa e meticulosamente o ouro, a prata, as joias e se fiassem tramas as mais complexas e reluzentes.
Não o passado reconstituído na antiguidade, mas seu esplendor restaurado, como em uma improvável pintura redescoberta em que se encontrassem as personagens de A Época da Inocência, filme de Martin Scorsese, num sombrio e misterioso cenário de David Lynch.
O trabalho de Rodrigo Rosner se deixa refletir na espacialidade teatral que o acolhe em seu ateliê na cidade de São Paulo com a estranha e incomum exatidão barroca de uma sala de espelhos. As marcas de sua assinatura como criador de moda: a minúcia, os impressionantes refinamento e preciosismo materiais, a sofisticação conceitual espalham-se pelo ambiente e infiltram-se nos objetos mais mínimos.
Livros de moda e arte, mobiliário de época, espelhos, cortinas. Tudo é cênico e tudo remete às mensagens embutidas nas roupas de Rosner. Roupas de sonho. Roupas para o sonho. Roupas de sonhar. Joias têxteis que envolvem o corpo como peles e plumas. Roupas que flutuam e fazem flutuar. Ourivesaria têxtil e alada: Ave negra, majestosa, inexistente.
Os sentidos visuais que emanam do ateliê de Rosner ecoam à perfeição aqueles encontrados em suas coleções e não deixam dúvida quanto à singularidade de sua linguagem. Estamos diante de um criador de moda. Daí a presença de elementos pretéritos no trabalho e processos de Rosner. Ele é um dos mais legítimos herdeiros dos lendários couturiers brasileiros: Denner, Clodovil, Guilherme Guimarães.
Obviamente seu trabalho flerta com elementos alienígenas ao universo destes grandes nomes da moda de nosso país. Há um constante sentimento de ameaça, de perigo, de dissolução e mesmo de perversão no trabalho deste paulistano de sangue húngaro. O sentimento de profunda teatralidade que se desprende de seus suntuosos e inusuais vestidos de festa o aproxima de Alexander McQueen.
A ousadia de exibir bonecas na vitrine de seu ateliê em Higienópolis é sua forma de expor a radicalidade de sua assinatura, ainda que seu trabalho se concentre na produção luxuosa de vestidos de festa e de noivas sob medida. E o maior dos luxos é o destemor diante da criação, algo que Rodrigo Rosner tem em si como a poesia e o mistério de pérolas em conchas: tesouro e desejo.
http://finissimo.com.br/2013/02/09/tesouro-e-desejo-um-texto-para-r...
Texto: Marco Antônio Vieira
Fotos: Marco Antônio Vieira
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Marco, você combinou radicalidade e sensibilidade neste seu texto. Conhecendo o Rodrigo, apoio e assino em baixo.
Parabéns!!
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