“Adoro a indústria da moda norte-americana, mas tem muitos problemas. Um deles é a forma desconcertante como virou as costas às mulheres plus-size“. As palavras são de Tim Gunn, consultor de moda conhecido por participar em programas de televisão como ‘Project Runway’, que esta quinta-feira publicou um ensaio no ‘The Washington Post’.
“É um enigma”, continua. “Em média, a mulher norte-americana veste entre o tamanho 46 e 48, segundo um novo estudo da Universidade de Washington. Há 100 milhões de mulheres plus-size na América e, nos últimos três anos, estas têm aumentado as suas despesas em roupa mais rapidamente do que as restantes. Muitos designers – que transbordam de desprezo, falta de imaginação ou, simplesmente, são demasiado cobardes para correrem riscos – ainda se recusam a fazer roupas para elas”, denuncia Gunn.
A maioria dos estilistas estabelece o limite no tamanho 42. “Mas porquê?”, questionou o anfitrião do reality show ‘Tim Gunn’s Guide to Style’. “Porque não estou interessado nesse tipo de mulher”, recebeu, maioritariamente, como resposta. “E porquê?”, insistiu. “Não quero que usem as minhas roupas”. “Porquê?”, continuou. “Não vão mostrar o look que eu quero que mostrem”.
Gunn recordou ainda, com inquietação, uma afirmação de Karl Lagerfeld, estilista de eleição da Chanel, feita em 2009: “Ninguém quer ver mulheres com curvas”. Mas para o consultor de moda, “não há qualquer razão para que as mulheres mais largas não possam parecer tão fabulosas quanto as restantes”. “A chave é um equilíbrio harmonioso entre a silhueta, a proporção e o feitio, independentemente do tamanho e da forma da pessoa”.
O mentor de ‘Project Runway’ lamenta ainda que este programa em que participa não seja exemplar no assunto. “Todas as temporadas temos o desafio da ‘mulher real’ (um título que odeio), no qual os designers criam looks para não-modelos. Mas na atual temporada [15.ª] algo diferente aconteceu: Ashley Nell Tipton ganhou o concurso com a primeira coleção plus-sizedo formato”.
A mentalidade que persiste é, para ele, “difícil de mudar, mas não impossível”. Gunn louva o trabalho de estilistas como Lane Bryant ou Christian Siriano – que criou o visual de Leslie Jones para a antestreia do filme ‘Caça-Fantasmas’ – e conclui o texto com um apelo aos profissionais mais obtusos. “As mulheres mais largas ficam ótimas em roupas justas ao corpo. Fazer isso acontecer é uma arte. Designers, façam com que resulte”.