Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Tingimento: o impacto no meio ambiente e as soluções sustentáveis

Quando pensamos no impacto da moda no meio ambiente, aterros sanitários e plástico estão no topo da pauta – o tingimento nem tanto. Vogue conversa com especialistas sobre o problema de poluição na moda e as soluções (como corantes naturais) para um futuro mais sustentável.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Getty Images)


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1. O problema: desperdício de água
Em uma escala global, a indústria têxtil usa entre seis a nove trilhões de litros de água a cada ano, apenas para tingir tecidos. Em um momento em que todos os continentes estão enfrentando questões de escassez de água, isso é o equivalente a encher mais de dois milhões de piscinas olímpicas todos os anos com água fresca e depois não deixar ninguém nadar nelas (não que alguém quisesse nadar na água tóxica de um moinho de tingimento).



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Oskar Proctor)


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Possível solução: materiais biologicamente inspirados
“Acho que há uma falta de diversidade sobre como dois sistemas de conhecimento podem criar algo novo”, diz Natsai Audrey Chieza, designer e fundadora da agência de biodesign criativo Faber Futures. Chieza é uma das principais vozes do crescente movimento de biodesign, que integra coisas vivas, como bactérias, a novos materiais, produtos e até obras de arte. “O intuito de o design e a ciência trabalharem juntos é combinar duas maneiras diferentes de saber e fazer, para tentar lidar com um problema”.



Natsai Chieza (Foto: Divulgação)


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Chieza cria oportunidades de colaboração entre pessoas criativas e cientistas em sistemas e produtos “centrados no planeta”. Trabalhando com a Ginkgo Bioworks, sua equipe recentemente descobriu que um micróbio que produz pigmento poderia ser usado como corante para roupas. A cor oscila entre tons de rosa e azul, dependendo do pH do solo onde o micróbio é encontrado, e cria um lindo efeito tie-dye no tecido. De modo crucial, ele também usa 500 vezes menos água do que técnicas de tingimento padrão, e corta totalmente produtos químicos prejudiciais. “Se você olha de modo mais criativo para os materiais naturais, ou neste caso projeta junto com sistemas vivos, é possível fazer coisas bem especiais”, diz Chieza. “É possível chegar a algo fundamentalmente diferente”.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Alamy)


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2. O problema: substâncias químicas
Quase três quartos de toda a água consumida por moinhos de tingimento terminam como resíduo não potável – uma sopa tóxica de corantes, sais, álcalis, metais pesados e substâncias químicas que são usadas para fixar as cores nas roupas. “Algumas das substâncias químicas usadas em empresas de tingimento na Índia são na verdade proibidas na Europa – uma charada para pessoas que usam roupas importadas”, diz Virginia Lewis, analista sênior de políticas na WaterAid. Filtrar a água residual também tem alto custo, e nos centros de tingimento mundiais em Bangladesh, na Índia e na China, ela é frequentemente descartada de modo ilegal em rios, que viram um cuspe acidífero colorido (em Mumbai, a água certa vez ficou tão poluída que os cachorros locais ficaram completamente azuis depois de nadarem). “Essas substâncias químicas na água de resíduo podem afetar o ecossistema local, ou as pessoas que usam a água para pescar, lavar ou até beber”, explica Lalia Petrie, líder global no setor de têxteis e algodão da WWF. “Podem prejudicar plantas e animais, e potencialmente entrar na cadeia alimentar”.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Alamy)


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Conflitantes, ton-sur-ton, coordenadas, block... usar cores é fundamental para nossa auto expressão. Mas as técnicas de tingimento contribuem de modo tão pesado para a crise climática que nosso amor pelas cores irá tornar o mundo um lugar muito mais apagado, a menos que as coisas mudem rapidamente. “Precisamos mudar todo o cenário da indústria”, diz Michael Stanley-Jones, co-secretário da Aliança pela Moda Sustentável da ONU. Ele é um dos oito especialistas que compartilham seu insight com a Vogue sobre o que está sendo feito para lidar com a arte do tingimento na moda. Aqui seguem os cinco principais problemas, e algumas soluções potenciais.

Possível solução: corantes feitos de derivados
A empresa de biotech Colorifix está procurando lançar corantes de tecidos que sejam sustentáveis em três frentes: ambiental, social e econômica. Estabelecida em 2015, a empresa converte melaço – um subproduto do açúcar – em corantes que podem ser usados para tingimento têxtil. O método não requer uso extra de terra arável (ao contrário de alguns corantes naturais), mas pode ser aplicado a áreas onde o açúcar já é cultivado. A Colorifix também substitui substâncias químicas de fixação – o aspecto mais tóxico do processo de tingimento – com os derivados de biocombustíveis, que o co-fundador e CEO, Dr Orr Yarkoni, explica que são um cultivo primário com função ambiental positiva. O reuso de materiais de descarte “significa que todo o processo usa 10 vezes menos água e 20% menos energia”.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Oskar Proctor)


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3. O problema: risco de desemprego
Empresas de tingimento oferecem uma fonte vital de emprego e renda em economias emergentes –  81% da economia de exportação de Bangladesh, por exemplo, é puramente composta por roupas prontas. Mulheres, que representam cerca de 80% da força de trabalho mundial no setor de vestuário, estão em maior risco de serem afetadas por qualquer mudança sistemática ou produtos que não sejam cuidadosamente considerados. Então é essencial que o biodesign crie materiais que não causem desemprego em massa. 




Possível solução: intervenção estatal
“Qualquer mudança radical pode ter impacto incrivelmente negativo se não for corretamente planejada” diz Yarkoni, observando que a Colorifix apenas substituiu o corante em si, e não empregos ou máquinas. Na visão de Jones, estão contando demais com tecnólogos, como Yarkoni, para solucionar a crise climática. “A única maneira em que uma mudança real pode acontecer é compartilhando rapidamente inovações que funcionem e lançá-las mais rapidamente – todos precisam ter acesso às mesmas informações e tecnologias” diz Jones. Em sua posição para a ONU, Jones ajuda a coordenar diferentes ações e projetos climáticos por governos, agências e aliados membros. É apenas por meio dessa abordagem integrada, diz, que os tipos certos de incentivos, investimentos e legislações podem ser considerados globalmente e por fim criar uma mudança sistemática. “Não é apenas de ciência e tecnologia que precisamos para nos salvar” Jones explica. “Precisamos também de uma ação unificada das sociedades e governos do mundo todo”.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Getty Images)


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4. O problema: consumismo programado
A dificuldade com a sustentabilidade é que se trata de um termo que englobe tantas questões diferentes – então enquanto é ótimo saber que uma marca de moda defende o tingimento de baixo impacto, não adianta nada se o produto for depois jogado fora, ou se a cadeia de abastecimento se tornar exploradora. A abordagem linear ‘pegar, consumir, destruir’ existe há séculos e parece ser desafiador para empresas quebrarem essa tradição a fim de influenciar mudanças.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Getty Images)


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Possível solução: uma economia circular
Defendida pela Ellen MacArthur Foundation, a ideia de uma economia circular prevê produtos desenhados e otimizados para um círculo contínuo de reciclagem e desmontagem. Se adotada globalmente, poderia ser a maior mudança no consumo humano desde a revolução industrial. A BITE é um exemplo – uma marca de roupas femininas com estética baseada inteiramente em uma cartela de corantes naturais. “Usar corantes naturais é uma maneira de comunicar um senso mais profundo de mindfulness em relação a produtos e consumismo”, explica o diretor criativo Elliot Atkinson. Essencialmente, os corantes são apenas um aspecto da meta sustentável da BITE. “Planejamos comprar de volta peças das coleções de clientes, oferecer 20% de desconto em sua próxima compra, e então criar novas peças a partir do estoque antigo”, explica a COO da BITE, Veronika Kant. A ideia é criar um sistema circular, redesenhando, reutilizando e revendendo as roupas. “Queremos criar uma conexão real entre a cliente e a roupa”, explica Kant.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Javier Gutierrez)


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5. O problema: usar em escala corantes naturais
Corantes naturais são mais amigos do meio ambiente do que os sintéticos – mas não são fáceis de serem adotados para produção em massa. Complexos para serem obtidos, ainda podem exigir metais pesados para fixar a cor, e frequentemente precisam de terra arável para o cultivo.



O problema de poluição da moda e as soluções sustentáveis (Foto: Getty Images)


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Possível solução: ressuscitar técnicas artesanais
Desde que processos sintéticos foram introduzidos durante a década de 1960, o conhecimento sobre tingimento natural diminuiu até o ponto da extinção – mas a crise climática incentivou muitos artesãos a buscarem técnicas antigas. “As cores que vêm das plantas vão além da mera beleza – os corantes estão ligados a um ser vivo, um conhecimento e uma sabedoria maiores”, diz o artista têxtil mexicano Porfirio Gutiérrez. Radicada em Oaxaca, sua família está trabalhando em um livro que traz técnicas milenares, passadas no boca a boca – pense em cochonilhas para vermelho, musgo de árvores para dourado, romãs para preto – para um público mais amplo. Mas ainda que seja um educador apaixonado, Guttiérez não enxerga os corantes naturais como sendo passíveis de serem usados em larga escala de forma sustentável. “Não acho que multinacionais devem passar a usar corantes naturais”, diz. “Corantes naturais nunca foram pensados para o mercado de massa, são para roupas e para a expressão pessoais”. E ainda que a forma mais sustentável de auto expressão seja tingir e fazer suas próprias roupas, é bom saber que o biodesign pode nos ajudar também. “No momento, estamos sendo forçados a escolher entre estilo e sustentabilidade, o que enfraqueceu o que a natureza se esforçou para nos trazer”, Chieza completa. “Trabalhar com a natureza, e não tirar dela, é como podemos inovar”.

  • JESS COLE
  • VOGUE INTERNACIONAL

https://vogue.globo.com/moda/moda-news/noticia/2019/06/tingimento-o...

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