Grandes marcas apostam na tendência para a temporada internacional de cruise 2024.
Por Jorge Wakabara
Vinda dos anos 1980, uma tribo resistiu e segue pulsante, com ideais, estilo de vida e códigos de moda próprios, até hoje. Viva a turma do surfe! Uma das primeiras a levantar a bandeira da sustentabilidade (na época, ecologia, e em pegada mais “vivendo em harmonia com o planeta terra”, à la new age) e de um cotidiano mais saudável, esse pessoal trouxe modismos que às vezes pegaram pelo Brasil afora (tendo como expoentes os filmes “Menino do Rio” e “Garota Dourada”, de Antonio Calmon; a série global hit “Armação Ilimitada”; as marcas Redley, Company, Cantão e outras); e em outros momentos ficaram ali, apenas entre eles e as férias de verão no litoral.
O estilo surfista nacional também foi construído com personagens da vida real como o José Arthur Machado, Petit, que inspirou a música “Menino do Rio”, de Caetano Veloso, conhecida na voz da Baby então Consuelo; e Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê, que teve um grande destaque mundial no esporte e criou a Barraca do Pepê para vender alimentação saudável lá em 1979. O Pepê era tão pop que, em 1991, chegou a gravar disco com participação de Lobão e Fagner: batizado de “Feito um Cometa”, tinha músicas como “Reflexão Maneira” e “Sanduíche Natural”!
Nos Estados Unidos, não dá para ignorar a surf music dos Beach Boys, banda formada em 1961, e da dupla Jan and Dean, de 1958, e a cultura surfista que se misturou com o cotidiano da costa leste californiana e descambou no estado como referência mundial de consumo consciente, berço de marcas pioneiras em responsabilidade ambiental e ética.
Mas vamos à moda. As coleções de cruise ou resort naturalmente remetem a esse universo muito próximo do surfe – a própria origem delas está em um guarda-roupa para destinos paradisíacos de verão. Portanto, não surpreende que o surfe esteja ali, sempre à espreita.
Mas na temporada de cruise 2024, ele chega com cara de protagonista. A Louis Vuitton não deu pistas pela localização do desfile: o local escolhido foi a Isola Bella, uma das ilhas do arquipélago no Lago Maggiore em Piemonte. Sem ondas, mas com neoprene: na passarela, o material ganhou destaque e, de forma geral, o surfcore dominou. Nicolas Ghesquière, o diretor criativo da marca, tem esse justo-estruturado no seu repertório desde seu reinado na Balenciaga. Aqui o short john se junta a babados-barbatanas, em clima “Pequena Sereia” (o ser mitológico também é uma tendência fashion fortíssima, puxado pelo novo live-action da Disney estrelado por Halle Bailey). Aparecem bermudão com elástico no cós, terninho que deixa o zíper da parte de baixo aparecer ali pelo meio, máscaras meio mulher-peixe meio mulher-alienígena…
Gucci, cruise 2024 – Foto: Divulgação
Não é só a Vuitton que apostou nessa: o surfcore também apareceu na Gucci (com direito a short john e óculos de estética surfe), na Chanel (mais para skatista, mas também com palmeiras e um colorido com tons de pôr do sol), em Roberto Cavalli (estampa tipo havaiana e top cropped justo de manga longa? Temos!).
Já a Balenciaga de Demna Gvasalia, que trouxe essa estética do macacão coladíssimo que desaguou no surfcore agora, segue de longe: dá para combinar os vestidos pretos de manga longa justa com acessórios que, perdão pelo trocadilho, entram na onda, mas a temática da coleção é sóbria, à la quiet luxury.
De maneira pontual, temos coleções de cruise 2024 que não abraçam a temática mas soltam, aqui e ali, elementos que podem ser usados para compor o look surfistinha. É o caso do brilho molhado das peças em verde água e rosa de David Koma, com inspiração em Afrodite e no símbolo da deusa do amor, o peixe; do conjunto justinho de blusa-túnica e calça flare de Stella McCartney com estampa bicolor em azul e branco; da blusa e saia brancos com recortes de diferentes materiais da Off-White.
Com vitórias em campeonatos mundiais dos surfistas Gabriel Medina e Adriano de Souza, a inclusão do surfe como modalidade olímpica nos Jogos de 2020 no Japão, e o destaque de surfistas brasileiras no ranking, como Maya Gabeira, Michelle des Bouillons e Silvana Lima, o interesse pelo assunto e a quantidade de praticantes cresceu no Brasil.
E onde há demanda, aparece a oferta: fora marcas gringas que vendem por aqui como Roxy, Rip Curl e Billabong, existem outras, autorais e nacionais, com muita coisa bacana. A carioca Langai de Luiza Coutinho é uma delas, assim como a paulistana By the Sea de Cyntia Misobuchi, que já esteve nas páginas da Bazaar.
Nas araras, biquínis e maiôs mais resistentes e maiores, que são mais confortáveis e não saem do lugar com ondas fortes, dividem o espaço com estampas e ponchos de saída de praia, entre outros itens. Quer montar um look surfcore? Dá para misturar long john e short john (a diferença dos macacões de neoprene está na altura da barra, acima do joelho ou no calcanhar) com alfaiataria, jogando um blazer por cima e uma bermuda mais curta.
Outra combinação que aparece nas coleções é o top cropped mais fechado com bermuda de surfista – de amarrar, com elástico, estampada ou lisa. Dá para pegar a do boy emprestada porque o shape é soltinho mesmo. Também se destacam materiais como neoprene ou similares (tecidos com forro que combinam elasticidade com mais estrutura), tactel, lycra. E mais: recortes em cores diferentes imitando long john (ou debrum de cor contrastante marcando o recorte) e combinação de preto com tons fluo remetem ao guarda-roupa de quem vive na prancha.
O surfe tem muito para nos ensinar: sua prática estimula mais contato com a natureza. O lifestyle inclui comidas saudáveis e um jeito leve e despretensioso de ver a vida, hedonista, em busca da próxima grande onda.
Por Jorge Wakabara
https://harpersbazaar.uol.com.br/moda/tirando-onda-o-surfcore-esta-...
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