Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Benjamin Steinbruch, dono da siderúrgica CSN, ganhou nos últimos 15 anos a fama de brigão, marcada por uma trajetória recheada de desentendimentos e disputas com seus sócios e concorrentes. Com estilo agressivo em todos os negócios nos quais entra, ele é visto com reticência, devido ao seu jeito “pouco associativo”, entre seus pares na indústria de mineração e aço, onde se destacou e fez fortuna.

Em abril de 1993, a fabricante têxtil Vicunha venceu o leilão de privatização da CSN e, aí, Steinbruch começou a ganhar destaque no mundo empresarial. Todavia, sua maior ousadia, que surpreendeu muita gente, ocorreu em 1997, quando venceu também o leilão de privatização da Vale. Naquele momento, subiu ao estrelato dos negócios.

Desde então, o empresário teve ganhos e perdas no decorrer dos embates que travou com sócios e concorrentes. E isso parece, como revelam pessoas que o conhecem bem, ser um prazer para ele. Steinbruch entra nas disputas sem a menor cerimônia de ser contrariado. Convicto de suas decisões.

Seu mais recente alvo, declarado há dois dias, é o bilionário italiano Paolo Rocca, dono do conglomerado Techint, sediado em Buenos Aires. Rocca produz aço e tubos de aço, extrai petróleo e realiza obras de construção pesada, com operações em todo o mundo.

A CSN iniciou uma ação na Justiça na qual requer que cinco empresas da Techint, que compraram ações da Usiminas há pouco mais de um ano e entraram na gestão da empresa,  façam uma oferta pública de aquisição dos papéis de acionistas minoritários. Tomou esse caminho apesar de um parecer contrário da CVM emitido em março de 2012. Para entender o caso, Steinbruch é o maior “minoritário” da Usiminas — possui 11,6% dos papéis ON e 20,1% das ações PN. Se for bem-sucedido no processo judicial, o empresário terá um ganho superior a R$ 1 bilhão, considerando o preço atual dos papéis ON da empresa cotados em bolsa. Parece um bom motivo, na visão dele, para desfechar essa briga.

Segundo informações de fontes do setor, Steinbruch gastou mais de R$ 3 bilhões na compra dos dois tipos de papéis da Usiminas, na tentativa de assumir posição de controlador na empresa. Com a entrada da Techint no lugar de Votorantim e Camargo Correa, ele alega que houve mudança no bloco de controle e na gestão, o que obrigaria, por lei, a extensão da oferta feita aos controladores para os acionistas minoritários.

A ação judicial soou estranha. Primeiro, por já ter passado tanto tempo desde a negativa da CVM ao pleito. E, segundo, por ocorrer às vésperas da apresentação da oferta final de compra da CSA, siderúrgica da ThyssenKrupp no Rio, na qual a CSN tem grande interesse e pela qual também concorre uma empresa da Techint, a Ternium, que foi a líder na aquisição da Usiminas.

Para um especialista, essa ação judicial, do ponto de vista técnico, é uma batalha perdida para a CSN, pois o negócio não teria configurado mudança de controle na Usiminas. E a CVM, xerife do mercado de capitais, já deu seu parecer, embora Steinbruch diga ser esse parecer objeto de revisão. No entanto, avalia-se, a ação em si da CSN poderia deixar a Techint “vulnerável”, uma vez que  teria de desembolsar mais de R$ 5 bilhões caso fosse judicialmente obrigada a realizar a oferta ao minoritários com direito a voto da Usiminas.

Esse  episódio é mais um dos embates do empresário. Ele se soma ao litígio judicial que Steinbruch move contra BNDES, aberto em 2006. A ação, que já foi parar no STJ e pode terminar no STF, envolve a conversão de um bloco de debêntures da Vicunha Siderurgia, holding por meio da qual a família Steinbruch controla a CSN. O empresário alega que a BNDESPar levou vantagem na operação e pede devolução dos papéis e reembolso de dividendos e juros recebidos pela BNDESPar, então sua sócia na CSN.

Esse estilo de Steinbruch, chamado de atropelador, ganhou corpo pouco antes da privatização da Vale, realizada em maio de 1997. Durante a montagem dos consórcios para disputar a mineradora, o empresário entrou em atrito com Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim. Steinbruch saiu da parceria, levou a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e o Bradesco para o consórcio que liderou e venceu o leilão.

Logo depois de assumir a presidência da Vale, entrou em atrito com os sócios. Um deles foi fruto de um veto da Previ à entrada da Vale na disputa pela privatização da siderúrgica venezuelana Sidor. Por ironia,  a empresa acabou em mãos da Techint e da Usiminas e anos depois foi reestatizada por Hugo Chávez.

Outra divergência, também com os fundos de pensão, envolveu a compra da Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST), em 1998. A empresa era controlada pela Acesita (que pertencia à Previ e outros fundos), Vale e Kawasaki. O plano de Steinbruch era constituir uma megacompanhia global de mineração e aço, reunindo tudo em torno da Vale e da CSN. Ele chegou a fazer anúncio de página inteira em jornais enaltecendo a importância de se manter a empresa em poder do capital nacional.

Todavia, não se chegou a fazer uma oferta firme pelos dois ativos, segundo uma fonte próxima da operação na época. Pessoas dos fundos disseram que Steinbruch ofereceu apenas R$ 1 pela Acesita (então afundada em dívidas),  o que permitiria levar a CST de lambuja. Previ e Kawasaki rechaçaram as intenções de Steinbruch e fecharam a venda das duas empresas por cerca US$ 800 milhões ao grupo francês Usinor.

Nesse ponto, as relações de Steinbruch com a Previ e a Bradespar na Vale se deterioraram completamente, a ponto de, em 1999, eles chegarem à conclusão de que o melhor para todos seria a separação. Havia, porém, um obstáculo: a CSN era a principal acionista da Vale, enquanto Previ, Bradespar e a própria Vale eram também sócias da Vicunha no controle da CSN.

O executivo Roger Agnelli, da Bradespar, foi escalado para coordenar a separação, ao mesmo tempo em que foi alçado como presidente do conselho de administração da Vale. O casamento se desfez, finalmente, no início de 2002, com uma importante ajuda do BNDES, financiando a Vicunha na compra da parte dos sócios na CSN.

Ao sair da Vale, Steinbruch levou consigo o sonho de transformar a CSN em uma grande mineradora de ferro, já que “foi retirado quase à força” de dentro da Vale. Retomou a presidência da companhia, demitindo Maria Sílvia Bastos Marques do cargo, e algum tempo depois já abria um conflito com a Vale para retomar o direito de explorar a mina Casa de Pedra, de propriedade da CSN. Essa mina era considerada a joia da coroa no setor. A  Vale tinha garantido o direito de explorar comercialmente a mina, mas Steinbruch não concordava mais com isso. A briga, desta vez, foi com Agnelli, naquele momento já com todos os poderes executivos na mineradora.

No embate dos dois titãs, Steinbruch contou com  parecer favorável do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a CSN, visando desconcentrar a oferta do produto no mercado doméstico, que era praticamente um monopólio da Vale. Agnelli recorreu à Justiça, mas logo se rendeu e selou as pazes com o rival. 

Entre 2003 e 2004, Steinbruch travou também uma acirrada  disputa com o grupo alemão ThyssenKrupp, seu sócio na laminadora de aço GalvaSud, situada em Porto Real (RJ) – justamente o grupo com o qual o dono da CSN negocia hoje para comprar seus ativos siderúrgicos no Brasil e nos EUA. O caso foi parar em uma corte de arbitragem em Nova York e a CSN acabou ficando com as ações (50%) da Thyssen no negócio.

Outro desentendimento do empresário, entretanto, foi considerado fatal para a CSN na tentativa de ficar com o controle da Usiminas. Entre 2009 e 2010, uma divergência com as japonesas  Nippon Steel e a Sumitomo, suas sócias na mineradora de ferro Namisa, levou à saída dessas empresas da associação. Nippon, Sumitomo e outras empresas da Coreia do Sul e Japão haviam aportado US$ 3,08 bilhões na Namisa, criada por Steinbruch em 2007. Os novos planos propostos por ele para a empresa desagradaram aos dois sócios.

A Nippon, como líder de um grupo de companhias  japonesas controladoras da Usiminas, arquitetou, com Votorantim e Camargo Corrêa, um movimento, lançado em fevereiro de 2011,  para impedir a entrada hostil da CSN na siderúrgica mineira. O empresário iniciara em setembro de 2010 compra desenfreada de ações ON e PN da Usiminas no mercado. Quando informou que já tinha 5%, no fim de janeiro, os japoneses foram alertados do risco que corriam. Após o episódio da Namisa, eles não o queriam como sócio de forma alguma.

Nessa estratégia, considerada por muitos como desastrada, a CSN somou 16% do capital total da Usiminas, tornando-se a maior acionista da siderúrgica concorrente. No entanto, não conseguiu assegurar direito algum na gestão da empresa, pois eram ações fora do bloco de controle. Foi até impedido pelo Cade de nomear conselheiros, apesar de sua fatia de ações.

Nesse meio tempo, Steinbruch chegou a enviar um emissário a Tóquio, com trânsito entre os japoneses, para pedir uma reunião com a direção da Nippon com o propósito de apresentar sua proposta para a Usiminas. Recebeu um “não” como resposta. Diante do avanço de Steinbruch na aquisição de ações, em julho a Nippon, associada ao Votorantim e à Camargo, saíram em busca de um novo sócio — estratégico e “amigo” — para a Usiminas. 

Nessa operação, há quem diga que houve forte empenho da Votorantim, uma espécie de troco à briga de maio de 1997 no leilão da Vale. O desfecho: no fim de 2011 foi selado o acordo de  entrada da Techint na Usiminas, pagando R$ 5 bilhões por uma participação societária de 13,8% do capital total da empresa. O preço foi considerado salgado devido aos problemas e baixos retornos da siderúrgica, mas garantiu direito à presença no bloco controlador, com indicação do presidente e de dois outros vice-presidentes.

Agora, mesmo em litígio com o BNDES, que o ancorou na briga com seus sócios na Vale, Steinbruch busca suporte de capital do banco para comprar os ativos da Thyssen, pelos quais ofereceu US$ 3,8 bilhões.  Esse apoio é fundamental porque a CSN tem uma dívida elevada e a aquisição, sem um parceiro de peso e com capital, causaria grande impacto no perfil financeiro da empresa.            

Aliás, a CSA foi o pivô de um desentendimento entre Steinbruch e as demais siderúrgicas afiliadas ao Instituto Aço Brasil (IABr), entidade dos fabricantes de aço no país, entre eles, Gerdau, Votorantim, Usiminas e ArcelorMittal. O empresário discordou, em 2010, da decisão do IABr em tornar a CSA afiliada da entidade. A razão, segundo fontes, era a antiga briga com a Thyssen, de oito anos antes. Por isso, Steinbruch desfiliou a CSN da entidade, apesar de esforços para dissuadi-lo da ideia feitos por seus colegas, como Jorge Gerdau.           

Apesar de ver com bons olhos a nacionalização da CSA, uma usina de aço hoje em poder de capital alemão (a Vale é sócia minoritária), o governo está um tanto irritado com o empresário devido aos atrasos nas obras da bilionária ferrovia Transnordestina, que era para ter sido inaugurada no fim da gestão do presidente Lula e, agora, já não se sabe se será mesmo na gestão Dilma. Steinbruch pede aumento de financiamento do BNDES para a obra, alegando que os custos cresceram.

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