Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI



Com um feed que parece sonho e inclui muitas viagens e looks incríveis, mas também maternidade e dilemas da vida moderna, Silvia Braz se transformou no modelo de mulher que conversa com as mulheres do Brasil inteiro.

Jorja Smith



Chame como quiser: blogueira, influenciadora, garota-propaganda de marcas gigantes, como a Arezzo. A verdade é uma só. Independentemente da nomenclatura, Silvia Braz é uma comunicadora nata. Ela poderia, inclusive, ser jornalista. E isso, no mar de cliques das mídias sociais, faz, sim, muita diferença. A diferença que ajuda a explicar o tamanho de seu sucesso.

Nascida na pequena Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, formada em direito, mãe de três Marias - Maria Vitória, Maria Antônia e Maria Isabela -, Silvia começou sua carreira como a maioria das meninas e mulheres que desbravaram a internet: com um blog em que falava de viagens, moda, decoração e até receitas da família. Em resumo, um diário virtual que emulava sua própria vida.

Foi essa fidelidade com o que retratava e o que de fato vivia, aliás, que se transformaram em um dos alicerces do seu trabalho e fizeram com que ela virasse uma espécie de porta-bandeiras da geração de mulheres que se identifica com ela. Silvia não é a menininha de 20 anos. Também não é a fashionista-padrão. É a mulher real, ainda que indiscutivelmente privilegiada - o que também não quer dizer que ela não trabalhe muitas horas por dia, em uma não-rotina de arrepiar até o mais workaholic dos CEOs.

“Em setembro, fiquei o mês todo fora de casa. Fui para Veneza, depois Nova York, Milão e Paris. Quando voltei ao Brasil, comecei a viajar muito internamente, para eventos e campanhas, com diárias de 12 horas. Isso porque já falo muito não para trabalhos”, diz ela.

Mas, convenhamos: o que não falta hoje em dia é mulher espelhando seu lifestyle nas mídias sociais - o Brasil é campeão mundial em número de influencers. O ingrediente x de Silvia é a sua capacidade de se conectar. De falar. De contar boas histórias.

“Mais importante do que números altos, é ter um engajamento real, uma conexão de verdade com as pessoas que te seguem, porque são essas pessoas que vão vibrar com você, vão querer comentar, participar de alguma forma da sua vida”, explica. “Você dá muito de si para que, em determinados momentos, no momento que você faz um post, por exemplo, receba esse feedback. Mas o tempo todo você tá entregando alguma coisa. E, para mim, isso tem a ver com gostar do que faz. Eu realmente gosto do que faço. Amo me comunicar. As pessoas que me seguem percebem, e isso gera uma conexão que gera um engajamento maior.”

Confira os principais trechos da entrevista:

AS DELÍCIAS E AS DORES DA INFLUÊNCIA

Silvia, quando foi que você percebeu que de fato estava influenciando as pessoas nas compras, no comportamento, na vontade de conhecer um novo destino, por exemplo?

Minha memória é péssima. (risos) Mas, em alguns momentos, tenho feedback das empresas com as quais trabalho. Por exemplo, fui convidada pelo governo da Suíça para fazer algumas viagens, alguns trabalhos, e depois disso eles me disseram que aumentou consideravelmente o número de brasileiros hospedados em Saint-Moritz e em outras estações de esqui. Foi um número maior do que de todas as outras nacionalidades. Quando eu fotografo uma campanha e as marcas compartilham números (a campanha de Dia das Mães que ela fez com sua família para a Arezzo bateu o recorde de vendas da empresa em 50 anos), eu sei que vendeu muito bem, e também me dá um parâmetro sobre se meu trabalho está sendo bem feito. Mas não me lembro do primeiro grande momento em que eu percebi que estava influenciando alguém. Acho que minha carreira foi feita de uma forma muito gradativa, passo atrás de passo, aos poucos. Até hoje, tem coisa que ainda acontece e que eu não estava esperando.

De carros a sapatos, muitas mulheres querem de fato o que você está mostrando, querem ser um pouquinho Silvia Braz. Por que você acha que isso acontece?

Antigamente, era inviável uma mulher de 43 anos, divorciada, com três filhas ser um modelo para alguém. Acho que o mundo mudou, e um monte de mulheres também se veem nesse lugar. De certa forma, elas me verem nesse lugar abre a ideia de “caramba, que bacana, se ela tá conseguindo fazer tudo isso, eu também vou conseguir”. É uma mulher puxando a outra. Acredito que estava no momento certo de uma virada de comunicação no Brasil, então, as coisas foram boas para mim. Sou muito grata.

Do outro lado da moeda, você sofre algum tipo de hate ou intromissão na sua vida privada?

Eu recebo muito carinho. As pessoas gostam de mim, tomam conta de mim, percebem quando eu tô triste, quando eu tô alegre, quando não está legal. Elas me elogiam, me levantam. Claro, ao mesmo tempo, nem todo mundo é bom, nem todo mundo está torcendo por você. E há coisas quase engraçadas, tipo algumas seguidoras quererem escolher com quem me relaciono. Daí elas começam a discutir umas com as outras e nem me meto! (risos)

Como é para as suas filhas, três mulheres, ter essa mãe tão pungente, que é vista como um exemplo para muita gente? Você tem receio, por exemplo, de eclipsá-las, de ser sempre a estrela da casa?

Esse é um ponto supersensível, uma coisa que me cobro e da qual me policio o tempo todo porque, querendo ou não, eu estou sempre trabalhando, tem sempre um monte de gente à minha volta, as pessoas vêm falar comigo na rua e elas veem isso. Ao mesmo tempo, eu sou a mãe delas, né? Sou aquela que toma café junto, que conversa muito, que também erra. A gente tem uma intimidade e um amor muito grandes. Agora, quando tentam nos comparar ou dizer qual filha minha é a mais bonita, a mais interessante, fico louca. Acho isso uma crueldade, um desserviço para todas as mulheres. Aí, às vezes, rola um choro coletivo e conversamos bastante. Tem esses momentos de vulnerabilidade. Mas eu acho que elas são muito maduras. Eu tenho mais essa sorte.

MODA E ESTILO

Quando você começou na internet, seu Instagram tinha muita viagem e lifestyle. Em que momento a moda entrou nessa equação?

Eu acho que sempre esteve ali, de alguma forma… Sempre amei moda e sempre gostei muito de viajar, de receber, de arrumar a mesa, e conseguia inserir a moda dentro do meu lifestyle. Talvez isso também tenha sido uma coisa muito boa que eu fiz lá atrás, de uma forma intuitiva, porque eu acho que é mais interessante mesmo a moda estar inserida em um contexto real do que vê-la em um lookbook com fundo branco. Gosto da moda em movimento, acontecendo naturalmente. Como consegui inserir ela dentro da minha vida, nas minhas viagens, no meu dia a dia, com a minha família, isso foi gerando um desejo nas pessoas, certa conectividade, porque é uma mulher se identificando com outra mulher. Não era uma modelo, digamos assim.

Eu acho que você conseguiu fazer isso porque de fato é muito natural, porque já era a sua vida, né?

Sim, já era essa mulher que viajava, que é mãe, que se arruma... E continuo sendo. É óbvio que, hoje em dia, mudou muito a minha vida, o meu trabalho, mas eu continuo sendo a Silvia. Meu trabalho é ser mulher, viajar, voltar…

Você tem vontade de ter uma marca ou investir em colaborações, já que tudo o que veste parece gerar desejo?

Eu sempre dou alguns pitacos. Mas eu nunca fiz realmente uma coleção em que eu estivesse do início ao fim. Isso é um bom projeto para gente trazer para 2024. Seria incrível fazer com a própria Arezzo, que tem essa expertise, tem a mão de obra, a capacidade de produzir em escala muito grande. Como eu viajo muito, faço todas as semanas de moda, estou sempre de olho no que está acontecendo lá fora, em todas as novidades. E tenho muita vontade de pegar tudo que ainda está chegando e trazer para cá, para a gente, por um preço melhor, com conforto e qualidade, mas também com um preço muito bom, muito atrativo. Então é isto: próximo projeto com a Arezzo, uma coleção! (risos).

Falando um pouco sobre o seu estilo pessoal, eu me lembro muito de você com o cabelinho chanel, uma imagem mais clássica. Isso mudou depois da separação?

Eu acho que tem mais a ver com a idade. A gente vai ficando mais velha e se permite mais, pode ser mais sexy, mais forte, porque tem mais confiança mesmo de fazer as coisas que está com vontade de fazer, de se vestir da forma que quer. Naquele momento, lá atrás, eu queria usar saia mídi e cabelinho curtinho ou com um coque com uma risca no meio, que também é uma coisa muito minha, uma marca registrada mesmo. Mas eu enjoo das coisas. Sou a ariana e gosto de mudar. Aquele visual fez sentido durante um tempo na minha vida. Agora eu sou outra pessoa. Estou vivendo outras coisas, tenho vontade de usar cada dia um cabelo, de um dia botar uma roupa mais decotada… E eu me sinto muito livre pra fazer o que eu quero fazer. Tenho certeza de que tem a ver com a maturidade. Você não liga mais tanto para algumas coisas, para o que as pessoas estão achando… Eu fiz 40 anos, já vivi bastante a minha vida, e agora, nessa outra parte aqui, estou no comando e faço o que eu quero. É uma autonomia.



 Silvia Braz


TRABALHO E PRÓXIMOS PASSOS

Nos seus trabalhos, você costuma ser bastante fiel à sua equipe, às pessoas que estão com você há mais tempo.

Eu não vejo a menor graça em crescer sozinha, em só eu ganhar dinheiro, só eu conquistar um monte de coisas. E, sim, eu adoro trabalhar com pessoas com que já trabalho há muito tempo, porque preciso me sentir muito confortável com quem está ao meu redor para entregar o meu melhor. E o que é o meu melhor?

É estar feliz, alto astral, confiante. Se estou com pessoas do meu lado que estão minando a minha energia ou querem que eu faça coisas que não têm nada a ver comigo, ou que não confiam que eu vá conseguir fazer aquilo, não consigo performar da forma que eu quero. Você vai murchando.

Falando nisso, como você escolhe os seus trabalhos?

Hoje em dia, todos os meus trabalhos são a longo prazo. Não faço nada pontual porque não acredito numa comunicação feita de forma pontual, só para gerar interesse, mídia, naquele determinado momento. Eu gosto de contar histórias longas, de criar um relacionamento com as marcas, gerar uma identificação, tanto que tenho clientes há 11 anos. É essa comunicação bem contada, bem estruturada, que vai dando resultado ao longo do tempo. O meu trabalho com a Arezzo, por exemplo, já dura alguns anos e a gente está indo para 2024 com um planejamento incrível. Então, tem uma identificação, as pessoas que compram, que vão à loja da Arezzo, sabem que uso Arezzo, que faço campanhas da Arezzo. Isso é interessante para ambos os lados, até porque escolho marcas que admiro, com as quais eu sempre tive vontade de trabalhar.

Como você aprendeu a valorar o seu trabalho?

A gente não tem muita noção do quanto vale, ainda mais quando a gente está pensando em rede social, no alcance da rede social. Eu estou sempre de olho no mercado, existe um mercado de influência gigantesco no Brasil, a gente tem noção dos valores que são praticados, do retorno que eu dou para as marcas, do tamanho de um contrato, do quanto vai ser usado da minha imagem, da entrega que eu vou dar a essa marca. E com tudo isso junto chegamos a determinado valor.

O que você comprou com o seu primeiro bom dinheiro, só seu, com o seu trabalho?

Eu guardo muito dinheiro. (risos), Eu não sou uma pessoa muito consumista. Venho de uma família de libaneses, minha mãe sempre se esforçou muito para pagar os meus estudos e os das minhas irmãs. Aprendi que dinheiro não aceita desaforo, então, ainda que hoje em dia eu tenha uma vida independente financeiramente e possa fazer o que eu tiver vontade, eu lembro o tempo todo desta frase da minha avó: “Dinheiro não aceita desaforo”. O que eu comprei de mais significativo foi meu apartamento. Isso me deu orgulho, ter uma casa, um apartamento em que eu moro com as minhas filhas, que eu sonhei em ter. Você trabalha pra caramba e de repente pode dar os passos que você quer na sua vida, sabendo que isso veio do seu trabalho, do seu esforço. É muito bom.

Para terminar vamos falar de 2024, que está aí. Você já tem planos? Qual é o seu sonho ainda?

Meu sonho de verdade é só ter um pouquinho mais de tempo para ficar com a minha família, conseguir organizar melhor a minha vida para ficar com o que existe de mais importante para mim, que é a minha família, a minha casa, as minhas filhas. E, se der, conseguir fazer um exercício físico e voltar para a terapia. (risos)

POR RENATA PIZA

FOTO: LUFRE
EDIÇÃO DE MODA: PEDRO SALES

https://elle.com.br/elleview/edicao-digital-41/todas-querem-ser-silvia

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