Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Nem toda empresa pode ou precisa ser do ramo de luxo. Mas todo mundo pode aprender com o luxo.

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A recessão econômica não estremece a relação que os clientes de maior poder aquisitivo têm com o consumo. Diferentemente da população de baixa renda, esse nicho não sente no bolso o impacto da inflação, com rebatimento no preço dos alimentos e no gasto com bens essenciais, e do desemprego. No ano passado, o segmento luxo cresceu de em média 12% e a expectativa é que os resultados se repitam este ano. Esse cenário é bem deslocado do que vive atualmente o setor industrial, que nos últimos 12 meses acumulou baixa de 9%. O mercado premium, no entanto, não se limita aos números econômicos. Ele passeia por vertentes como posicionamento de marca, tecnologia e fragmentos históricos. Em passagem pelo Recife, a convite do Grupo de Líderes Empresarias de Pernambuco (LIDE-PE), o ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil, Carlos Ferreirinha, conversou sobre o tema com a Folha de Pernambuco. Confira:

Significado
O mercado de luxo tem uma amplitude muito grande e é importante abordarmos isso. O que nós, da MCF Consultoria (empresa na qual Ferreirinha é fundador), assumimos como verdade absoluta é que a atividade do luxo alcança o patamar do extraordinário, do espetacular, do exclusivo. São produtos e serviços que atingem o nível do único, do singular, desse conceito de um produto e serviço absolutamente máximo, do excepcional. Então, o luxo, na nos­sa tradição de gestão, é absolutamente impressionante e elevado. Não há limite para esse mercado. Entretanto, o que precisamos entender é que o limite está dentro de determinada atividade. Por exemplo, mesmo que haja alto valor agregado, um avião é diferente de um batom.

Mercado 
Temos hoje um mercado brasileiro que fatura R$ 400 bilhões por ano na atividade do luxo. É um número que navega numa taxa de crescimento que já foi de 26% e 28% há quatro anos, caiu para 18% e hoje flutua entre 11% e 13%. Apesar disso, essa projeção continua sendo significativa dado ao atual cenário econômico do País. Hoje, para citar alguns exemplos, há empresas crescendo num ritmo que é a metade do que crescia no ano passado.

Público
Se falarmos de helicóptero ou de avião; ou de incorporação imobiliária, com apartamentos que ultrapassam a casa dos R$ 6 milhões, podemos dizer que se trata de um grupo seleto, composto por poucas pessoas. Agora, se falarmos do luxo da perfumaria, do cosmético, da maquiagem, sabe-se que a base de consumidores é maior. Costumo dizer que o consumidor tradicional do luxo é primeiro, por definição econômica, um cliente que tem uma capacidade de renda maior e mais elevada. Mas, como definição de atividade, é um consumidor que está disponível a fazer um consumo diferenciado, em valores altos em troca de marcas exclusivas. Além disso, existem também os que desejam e que, uma vez por ano, se dão ao direito de comprar um produto de alto valor. Ou seja, ele fez um movimento de vaidade, sonho e indulgência.

Infidelidade
Existe muito. No meu escritório, tenho algumas regras. Minha equipe está proibida de falar em fidelidade. Meus clientes não podem usar esse termo, porque não acredito que dentro do mercado de luxo haja esse sentimento. Eu acreditava, sim, mas quando o mercado não tinha muitas opções. No entanto, no momento em que ele passa a ser plural, fica difícil fisgar a clientela pela fidelidade. Eu digo que a gente tem que brigar pela preferência, pois é comum ouvirmos: ‘isso é incrível, mas eu prefiro tal marca porque ela faz muito mais por mim’. Hoje, acredito que a tomada de decisão acontece mais pela preferência do que pela fidelização.

Milênios
A cada dez empresas, nove estão falando sobre eles. A cada dez executivos, nove estão falando sobre eles. Eles, que têm entre 19 anos e 31 anos, são a força que está redesenhado a modelagem de negócio das grandes marcas. São os grandes influenciadores de consumo. Hoje um indivíduo de 40 anos compra num comportamento jovial por influência dos milênios, que é uma geração nascida na Internet. Isso é uma ruptura e um desafio para as marcas, que terão que se reinventar para continuar vendendo para os que podem comprar e fisgando os que têm o poder de influenciar determinados públicos.

Redes
Nem toda empresa pode ou precisa ser do ramo de luxo. Mas todo mundo pode aprender com o luxo. Usamos um termo que é a chamada pílula de luxo. Então, as lojas de departamento, de grande capilaridade, como Renner, Riachuelo, C&A e Boticário podem usar esse luxo por pílula. Ou seja, po­dem mudar de categoria de produtos, colocar um item com frasco novo, com uma embalagem diferente, implantar uma loja conceito ou um uniforme diferenciado. Tem uma série de elementos que podem buscar nas empresas de luxo e traduzir para o seu dia a dia, aproveitando o movimento da ‘premiumnização’ que está acontecendo no Brasil. As mudanças dos hábitos brasileiros estão favorecendo a chamada sofisticação do mercado

Entraves
O nosso mercado ainda é muito pequeno, embrionário. Qualquer pessoa que tenha a chance de fazer uma viagem internacional ampla verá que o que temos no Brasil ainda são marcas do chamado big players – as marcas mais icônicas. A entrada de marcas menos conhecidas, porém integrantes do grupo seleto e exclusivo, não acontece porque o mercado brasileiro ainda é limitado, oneroso, burocrático. Há um entusiasmo, mas nos falta uma série de inteligência para tornar o País competitivo. Projetamos o Brasil como um mercado aberto, mas não é. É protecionista, dificulta a internacionalização até para as marcas nacionais. Pensar nessa abertura de mercado é urgente.

Fonte: Folha de Pernambuco

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