"Brasil e Turquia se complementam. De um lado, um país expandindo rapidamente sua produção têxtil. De outro, uma nação que ainda pode ampliar a área de cultivo de algodão de forma sustentável". A fala de M Hanefi Oksuz, presidente da maior indústria têxtil turca, a Kipas Mensucat Isletmeleri AS, traduz bem o saldo final da Missão Vendedores na Turquia, promovida pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) no início de março.
A comitiva, formada por cotonicultores e exportadores da fibra, visitou oito das maiores indústrias de fiação do país, localizadas nas cidades de Gaziantep e Kahramanmaraş. Em cada uma delas, foi realizado um evento presencial – o Cotton Brazil Outlook 2022 - , além de mesas redondas e visitas técnicas.
A Turquia tem uma posição geográfica estratégica: conecta a Europa à Ásia, o que favorece a indústria têxtil local, que pode transportar via terrestre sua produção para os principais mercados europeus. O consumo de algodão pelos turcos tem crescido 3,3% ao ano desde 2015/16, e as importações aumentam 4,4% a cada novo ano comercial desde então.
Os números refletem o momento atual, caracterizado por novos investimentos no aumento da capacidade industrial. "Conferimos in loco o quanto a Turquia está se preparando para expandir ainda mais sua produção têxtil, e o quanto conta com o Brasil para seguir esse caminho", afirma o presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato.
A Turquia tem sido parceira constante dos cotonicultores brasileiros. No ano comercial 2020/21, o país importou aproximadamente 280 mil toneladas, 38% a mais que no ciclo anterior. Com isso, se posicionou como o quarto maior importador de algodão nacional, absorvendo 12% das exportações brasileiras da pluma.
"Visitamos a produção têxtil turca e conhecemos o cotidiano de oito das maiores indústrias nacionais. Essa oportunidade nos permitiu trocar informações e identificar mais claramente as demandas do comprador turco de algodão brasileiro", observa Marcelo Duarte Monteiro, diretor de Relações Internacionais da Abrapa.
A Missão Vendedores é uma iniciativa tradicional da Abrapa, que agora faz parte do programa Cotton Brazil, desenvolvido pela associação para ampliar a participação do algodão brasileiro no mercado global. A iniciativa é realizada em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Associação Nacional de Exportadores de Algodão (Anea).
Durante as visitas técnicas às fiações e ao longo dos dois eventos realizados na Turquia, a Abrapa identificou pontos de melhoria e levou informações relevantes para os industriais turcos. Um dos destaques foi o sistema de rastreabilidade brasileiro, que permite que o comprador acesse os dados de qualidade, sustentabilidade e origem do produto - fardo a fardo - via QR Code ou código de barras.
Os empresários turcos receberam de forma positiva também os dados sobre certificação socioambiental da pluma produzida no Brasil. "Gosto do algodão brasileiro e percebo melhoria no produto a cada ano. Além disso, o mercado pede por fibra sustentável, e vimos que o Brasil é o maior fornecedor desse tipo de algodão no mundo", afirmou Burak Ohrhan, diretor da Karacasu Têxtil.
Na safra 20/21, 84% da fibra nacional foi certificada pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), da Abrapa, que opera benchmarking com o programa internacional Better Cotton. O Brasil é o maior produtor mundial de Better Cotton, respondendo por 37% do volume total de algodão produzido dentro desse padrão no mundo.
Esse reconhecimento é fruto da seriedade e da transparência do programa. "São empresas terceiras, qualificadas e reconhecidas internacionalmente que realizam de forma individualizada a certificação de cada uma das propriedades ABR", explicou Alessandra Zanotto, vice-presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), durante a Missão à Turquia.
Além de fornecer um produto de boa qualidade, o Brasil cativou os industriais turcos porque comprovou sua capacidade para continuar aumentando sua produção de forma sustentável. "Somos o único país que ainda tem disponibilidade para ampliar a produção sem precisar abrir novas áreas, porque a maior parte do nosso algodão é cultivada na mesma área usada pela soja", pontuou Paulo Aguiar, presidente da Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa), que também integrou a comitiva.
"Traçamos uma agenda de prioridades que envolverá um trabalho conjunto entre produtores, pesquisadores, exportadores e governo com objetivo de realizarmos as mudanças necessárias para que o algodão brasileiro permaneça na vanguarda mundial de sustentabilidade, qualidade e rastreabilidade", assegura Busato. Com um consumo doméstico de aproximadamente 740 mil toneladas ao ano, o Brasil já é hoje o segundo maior exportador da pluma, tendo expandido em 130% a sua presença no comércio global. Atualmente, o País exporta 23% do algodão consumido no mundo.
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