Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Um Ano de Redefinição de Modelo de Negócios no Vestuário

Protesto na SPFW contra enxurrada de importados

Reinvenção é a palavra do momento no mundo fashion. E não estamos falando apenas de novas tendências em cores, estampas e modelagens, como se poderia supor. Mas de uma reinvenção mais profunda, que tem feito estilistas e casas de moda - aqui e no mundo - a reverem suas estratégias. O ano de 2012 mostrou novas regras para definir os negócios, o consumo e o gosto. A moda rápida e acessível tem conseguido impor uma nova lógica. O discurso já não basta: para vender, é preciso ter produto inovador e preço atrativo. Além de tudo isso, as vendas on-line mostraram o seu poder de abalar as estruturas do varejo tradicional. O que parecia sólido, hoje se desmancha como costura mal feita.

No segundo semestre do ano, dois estilistas brasileiros - nomes fortes da safra que despontou a partir dos anos 90 - anunciaram mudanças radicais de percurso. Walter Rodrigues, um dos mais criativos do segmento prêt-à-porter de luxo, simplesmente anunciou sua aposentadoria das passarelas. Depois de 20 anos tentando mostrar à consumidora brasileira que "yes", nós temos uma costura primorosa e um design autoral, Rodrigues cansou de competir com o importado. Segue, agora, como consultor para outras marcas.

Já Isabela Capeto precisou ver sua marca ser descaracterizada pela lógica do grande varejo para perceber que não se pode fugir a uma vocação. Desfeito o negócio com o grupo Inbrands (dono de grifes como Alexandre Herchcovitch, Ellus e Richards), Isabela está "de volta ao aconchego", tocando duas pequenas linhas de roupas e acessórios: a linha que leva o seu nome segue sendo um produto de ateliê, feito artesanalmente e superelaborado. Já a Ibô, com preços mais acessíveis, reúne criações feitas a partir da reciclagem de tecidos e aviamentos.

Tomando a direção contrária, outro expoente da moda brasileira, o estilista Reinaldo Lourenço também apostou neste como o ano da reinvenção. Abalado pela concorrência do fast-fashion - que consegue vender as últimas tendências, por preços baixos -, Lourenço teve de repensar a sua estrutura de produção. A ordem é cortar custos e, com isso, conseguir tornar suas criações casuais quase 30% mais baratas. Lourenço também aproveita a onda para surfar nas parcerias com outras marcas: em fevereiro, lança uma coleção masculina para a Daslu.

Isabela Capeto e Walter Rodrigues, dois estilistas que reviram suas trajetórias

Os criadores nacionais têm razão para rever seus conceitos. O ano de 2012 foi marcado pela consolidação de marcas estrangeiras no território brasileiro. O tão aguardado shopping JK Iguatemi abriu as portas em junho, trazendo para o país marcas como Lanvin, Goyard, Miu Miu e a tão temida Topshop - o fast-fashion mais cultuado do mundo. A partir de julho, o shopping passou a abrigar a primeira loja da Gucci 100% masculina da América Latina. A loja é uma das seis apenas masculinas que existem no mundo, e vende a coleção completa de prêt-à-porter, além de sapatos, bolsas e outros acessórios. Conforme vinha anunciando, a Louis Vuitton inaugurou no final de outubro a primeira "global store" da América do Sul, no shopping Cidade Jardim. Em quase 1 mil m2, a grife francesa dispõe agora de sua linha completa de produtos, inclusive o prêt-à-porter masculino e as coleções com tiragens limitadas.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o volume de artigos importados que entra no mercado, entre tecidos e roupas prontas, cresce ano após ano. A importação representa hoje 25% do consumo aparente. Nos últimos sete anos, as importações da cadeia aumentaram 222%. Para piorar o quadro desfavorável para a indústria nacional, os impostos correspondem a 40% do valor de uma peça de roupa feita no Brasil.

O jeito foi chamar o síndico, ou melhor, a presidente. Foi o que fez um grupo de estilistas - Lino Villaventura, Alexandre Herchcovitch e Reinaldo Lourenço, entre outros - e empresários, na edição de junho do SPFW. Eles vestiam uma camiseta com os dizeres "Presidenta Dilma, precisamos falar com você, a moda agradece" e fizeram um protesto silencioso. O grupo cobra um planejamento para o setor, que envolva qualificação de mão de obra e políticas fiscais que estimulem a produção.

O segmento do varejo atravessa um período inédito. De acordo com a pesquisa WebShoppers, do e-bit, a categoria "moda e acessórios" já ocupa o terceiro lugar entre os artigos mais vendidos pela web, no Brasil, com uma fatia de 11%. A moda ganhou dos livros e perde apenas para os eletrodomésticos e para os produtos de beleza. Somente o site inglês de moda Farfetch, com filial no Brasil há dois anos, cresceu 300% no país, este ano. De acordo com o consultor Luiz Alberto Marinho, da BrandWorks, a expansão do comércio eletrônico de artigos de moda já preocupa os lojistas dos shoppings. "O consumidor vai querer cada vez mais comprar sem sair de casa", diz o consultor. Há muito espaço para crescer. De acordo com Marinho, as vendas on-line representam apenas 2% do varejo brasileiro.

Mas não é só no país que a moda vive dias de incertezas. No universo das grandes maisons, as trocas de comando mostraram que o mundo fashion está mesmo em um momento peculiar. A grife Yves Saint Laurent chamou o estilista Hedi Slimane para o lugar de Stefano Pilati. A primeira ação do estilista foi modificar o nome da marca para Saint Laurent Paris - o que já provocou certa perplexidade. Mas foi nas passarelas que a coisa desandou. As propostas de Slimane não agradaram boa parte da imprensa, que acusou a coleção de ser uma caricatura do que o fundador da marca criou no passado. Slimane, aliás, comprou briga com a jornalista Cathy Horin, do "New York Times", que escreveu uma crítica pouco elogiosa sobre o seu desfile de estreia na maison. Já Raf Simons deixou a marca Jil Sander para assumir a direção criativa da Dior - após meses de indefinições a respeito do cargo deixado vago por John Galliano. A sua estreia foi considerada correta, porém sem emoção. Mas a maior perda para o mundo do luxo foi a saída de Nicolas Ghesquière da Balenciaga, depois de 15 na direção criativa e uma verdadeira revolução no estilo da marca. Para muitos, esse troca-troca tem a ver com o crescimento do fast-fashion - novamente ele -, que cada vez mais aposta nas parcerias com grandes estilistas.

A estratégia que aproxima o consumidor da moda sofisticada coloca à prova a empáfia em que se apoiam das grifes renomadas - que sempre têm argumentos para justificar os altos preços. Talvez esse seja um sinal do fim do mundo fashion como nós conhecemos. E o começo de outro em que o consumidor é quem dita as regras.

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excelente materia, nao e so a questao dos importados,e que cada dia se fabrica mais nomes na moda sem talento basta ter um bom padrinho e uma pena que pessoas como valter rodrigues saiam das passarelas e no seu lugar entra hoje qualquer coisa as semanas de moda cada vez mais descaracterizadas mais show e menos talento, mais a midia tem muita culpa nisto nao pesquisa mais e um oba oba e promove qualquer coisa, o governo federal tem uma grande parcela de culpa pois cada dia mais os encargos sociais aumentam pois nosso governo atira muito bem com bala dos outro( empresarios)

nao olham para o que aconteceu com a europa, os empregos foram todos parar na china, na india  e por ai vai resultado o velho mundo esta na uti, e nos caminhamos pra isto, vestir uma camiseta nao vai fazer efeito tem que se fortalecer entidades como abit conversar cobrar de deputados, senadores e governos estaduais quando se tem na paraiba infelizmente nao temos e depois nao se sabe porque somos o segundo mais pobre do pais, mas o sul e sudeste centro oeste tem convoquem os colegas de outros estados para fortalecer a lista

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