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Dirk Vantyghem
A reciprocidade mencionada por Paulo Portas é uma das reivindicações da Euratex, como revelou, na cimeira da PCIAW, o diretor-geral da confederação, Dirk Vantyghem, nomeadamente no que diz respeito à Estratégia para os Têxteis Sustentáveis e Circulares. «A relação entre a Europa e o resto do mundo está a mudar. Está a mudar de um mercado muito aberto, sem perguntas, para uma relação mais crítica, onde insistimos em regras justas e igualitárias», destacou Dirk Vantyghem.
O diretor-geral da Euratex fez referência às mudanças que deverão ser implementadas, através da legislação da UE, no mercado europeu na produção de têxteis e vestuário, nomeadamente com a utilização de matérias-primas mais sustentáveis e processos que reduzam a pegada ambiental dos artigos, assim como com a chegada, para breve, da responsabilidade alargada do produtor e do passaporte digital do produto, que vai permitir uma maior rastreabilidade e transparência. «Em resumo, o que a Europa está a fazer com esta estratégia é forçar o nosso sector a passar do tradicional modelo de negócio linear para um modelo de negócio circular», mencionou.
Nesse sentido, acredita Dirk Vantyghem, «estamos a liderar, estamos a desenvolver novos padrões também a nível mundial», citando as negociações de acordos de comércio livre com países como a Índia, «que incluem regras exigentes de sustentabilidade» que vão levar a que os concorrentes adotem «os mesmos padrões ambientais que temos na Europa».
No fundo, «estas grandes mudanças estão a chegar e estarão aí não tarda nada. Será um processo que irá demorar mais ou menos cinco anos. Alguma legislação está praticamente decidida, outra está em discussão entre a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu, Estados-Membros, o sector privado e a indústria. É um ambiente muito complexo. Mas o que os empresários têm de perceber é que, em cinco anos, vamos estar a operar num panorama legal diferente, com muitas regras, muitas limitações, muitas proibições detalhadas que será necessário cumprir», sintetizou o diretor-geral da Euratex, que assinalou ainda o custo que esta adaptação terá e apelou ao apoio das entidades europeias e ao alargamento do mesmo tipo de regras a todo o mundo. «Se todo este exercício serve para dar um contributo positivo para o planeta, temos de trabalhar em conjunto. Esta dimensão global é importante», apontou.
A comunicação terá um papel importante, quer na dimensão do consumidor, que tem a última palavra sobre o que quer comprar, quer na dimensão institucional, «para mostrar como a indústria têxtil é bela e diversa e para dar a conhecer os esforços que estão a ser feitos pelas empresas, pequenas e grandes», incluindo em áreas como a reciclagem, onde a Euratex tem vários projetos.
Portugueses atentos
Estes esforços estão igualmente a ser feitos em Portugal, como salientou António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, que sublinhou o investimento que Portugal tem feito nos últimos anos em termos de ciência e tecnologia. «Por cada mil pessoas, 13,5 estão envolvidas em ciência e tecnologia, o que é muito recente para nós», realçou, acrescentando que «sem ciência, sem tecnologia e sem um forte sentido de inovação, seria impossível o sector existir em Portugal».
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António Braz Costa
Apontando a capacidade nacional de responder a todas as fases produtivas, António Braz Costa assinalou que os têxteis técnicos representam, atualmente, cerca de 30% da produção de têxteis e vestuário no nosso país – focados na área do desporto, do automóvel e da proteção, especialmente na área da defesa e da indústria – e enunciou os esforços que estão a ser feitos na transição para a bioeconomia, onde a dificuldade passa por «encontrar novas soluções que tenham as mesmas performances e as mesmas funcionalidades».
As matérias-primas usadas são um dos focos da estratégia portuguesa para se tornar mais sustentável, indicou o diretor-geral do CITEVE, referindo os diferentes projetos na área das fibras regeneradas de celulose, produzidas a partir de biomassa, assim como da reciclagem, um domínio onde é necessária uma evolução das tecnologias. «Temos test beds, temos muitos projetos de desenvolvimento para encontrar soluções» que permitam identificar e separar diferentes tipos de fibras, encaminhando-as para os processos de reciclagem mais adequados a cada uma, frisou.
Igualmente importante será o aprimoramento do eco-design, a começar na formação. «As escolas de moda não têm o conhecimento dos materiais. Por isso, a indústria e a comunidade científica têm uma responsabilidade maior em apoiá-las, introduzir conhecimento e capacidade de compreender as diferenças nas escolas de moda – um designer tem de perceber a diferença» entre fibras, explicou o diretor-geral do CITEVE.
A digitalização das empresas terá ainda um papel importante, nomeadamente naquilo que será a necessidade de calcular a pegada ambiental de um produto e que estará explícito no passaporte digital do produto, assim como a capacidade de cooperação. «Estou muito orgulhoso com uma mudança que aconteceu nos últimos anos. Normalmente as empresas tinham o departamento de desenvolvimento fechado a sete chaves. Neste momento, estão a cooperar umas com as outras e têm uma relação forte com o sector científico e tecnológico em Portugal. E é por isso que sou um otimista e tenho a certeza que este não é o fim da indústria têxtil e vestuário em Portugal», concluiu António Braz Costa.
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