Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O calçado, inventado por uma dupla francesa, é feito no Rio Grande do Sul com algodão orgânico do interior do Ceará e borracha da Amazônia.

Tênis Veja

Tênis Veja, chamado de Vert no Brasil: o produto é exportado para o mercado francês desde 2005, mas só agora começa a ser comercializado no Brasil

São Paulo - Em 2003, depois de se estafarem com a vista grossa dos banqueiros para os problemas ambientais do mundo, os franceses François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp decidiram abandonar a promessa de uma carreira estável nos bancos Société Génerale e Morgan Stanley para viajar pelo mundo. Mas não como turistas. O adeus a Nova York estava ligado à missão de prestar consultoria em “negócio sustentável” para multinacionais francesas em países emergentes.

O trabalho - apesar de resultar em decepção para quem esperava ver empresas “responsáveis” - serviu de inspiração para a criação de um produto “verde”: um tênis totalmente made in Brazil (feito no Rio Grande do Sul com algodão orgânico do interior do Ceará e borracha da Amazônia), que começou a ser vendido no País em setembro.

A ideia do calçado nasceu depois de a dupla conhecer o modelo de negócio diferente da companhia de alimentos francesa Alter Eco, um de seus clientes, que comprava palmito de pupunha de uma associação de produtores de Rondônia que, por sua vez, beneficia agricultores que cultivam alimentos com grande preocupação de preservar a natureza.

Ali, os amigos perceberam que o produto que chega às prateleiras pode, de fato, ter uma história positiva por trás. E o Brasil, com ONGs e cooperativas parceiras, pareceu-lhes o ambiente ideal para dar início a um negócio “verde”.

Assim surgiu a marca de tênis Veja, em 2005. O algodão (que vira a lona do calçado) é cultivado, sem insumos químicos, por associações de agricultores do País. A maior parte da pluma vem da cidade de Tauá, no interior do Ceará. A produção envolve 700 famílias que vendem a matéria-prima diretamente à empresa.

A borracha vem da Cooperativa Chico Mendes, que inclui 40 famílias de seringueiros donas do próprio negócio. O leite que eles extraem da árvore (sem cortá-las) passa por um processo que dispensa a passagem por usina e garante uma matéria-prima sem impurezas. Outro componente do tênis, o couro, é curtido com extrato de acácia, em vez de metais pesados. O objetivo é reduzir a poluição das águas.

Tanto cuidado assim tem seu preço. O quilo da borracha “responsável”, por exemplo, custa R$ 7, o dobro da usada comumente na indústria. Se optasse pelas matérias-primas usuais, no Brasil, o custo da produção cairia pela metade, segundo a empresa. Na China, a economia seria de 100% na produção.

Mesmo assim, o tênis não sai mais caro que outras marcas - entre R$ 195 e R$ 289. A empresa não faz publicidade e, portanto, não precisa embutir no valor do calçado esse gasto. Morillion e Kopp (os únicos sócios da companhia) vendem cerca de 120 mil pares por ano - 70% na França. O produto é exportado para o mercado francês desde 2005, mas só agora começa a ser comercializado no Brasil. Aqui, foi batizado de Vert (verde, em francês), já que “Veja” seria associado à revista.

Os franceses esperam cair no gosto do brasileiro. O tênis deve aparecer no pé de uma das atrizes da próxima novela das nove da Rede Globo - a custo zero, segundo a empresa. Ganhar mercado fazendo um “comércio justo”, no entanto, não é fácil. As margens de lucro são menores e é preciso avaliar se o consumidor está pronto para comprar o seu produto. “Talvez a consciência do brasileiro no âmbito social seja mais forte do que no ambiental”, diz Romain Michel, diretor da marca francesa de camisetas Tudo Bom no Brasil.

A empresa, que também usa algodão orgânico de Tauá, fechou recentemente a única loja que tinha no Rio depois de um ano de operação. O objetivo é dar prioridade ao mercado europeu, onde o negócio tem obtido sucesso. A receita da empresa dobrou no último ano.

A Vert espera faturar 6 milhões em 2013 - valor sete vezes maior que o de 2006. É um patamar distante dos bilhões das multinacionais. Mas, segundo o presidente da consultoria de inovação Mandalah, tem crescido no nicho dos grandes “a noção de que ganhar dinheiro e fazer a coisa certa devem caminhar lado a lado”. A questão é pô-la em prática. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/sustentabilidade/...

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Parece mesmo um sucesso de apelo "sustentável", mas eu gostaria mesmo de saber qual o impacto ambiental causado por sua fabricação. Afinal, qualquer transformação de insumos provoca impactos ambientais e o que se pode pretender é apenas reduzir este impacto. Logo, devemos ter uma referência e uma medida comparada. Não parece ser este o caso. Toda inovação gera desperdícios devido às curvas de experiência. Processos semi-artesanais em localidades afastadas implicam em longas distâncias percorridas em estradas ruins e em meios de transporte que consomem muito combustível fóssil. Se a produção não é muito alta, a eficiência dos transportes cai ainda mais. Evidencia-se, assim, apenas o uso de materiais e de processos semi-artesanais e o emprego de populações de baixa qualificação. Portanto, não temos a certeza nem mesmo de se tratar de uma produção socialmente responsável. Afinal, o direcionamento de uma economia local para a produção de uma única empresa acaba por ameaçar as comunidades desse território ao desaparecimento quando o negócio resolver mudar de estratégia ou de lugar, já que afastam-se de seus meios tradicionais de sobrevivência, além de alterarem suas estruturas sociais de apoio mútuo. Seria necessário ter informações mais detalhadas sobre esses casos para sairmos do lugar comum de glorificarmos qualquer nova estratégia de negócios de apelo sustentável.

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