Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Luis Ushirobira/Valor

A estilista belgo-americana, que acredita na expansão de seu negócio: “A marca tem o espírito da mulher brasileira”

Na particular lógica do mundo fashion, um vestido não é apenas um vestido. Ele pode ser sinônimo de elegância, mania de uma geração ou até símbolo da liberação feminina. No caso do "wrap dress" (vestido-envelope) lançado na década de 1970 pela estilista Diane Von Furstenberg, ele é as três coisas. E mais: ainda é o best-seller da marca homônima criada na época pela estilista belgo-americana. Para se ter uma ideia, nos libertários anos 1970, a marca chegou a vender cinco milhões de "wrap dresses" um período de cinco anos. A nova lógica que rege as empresas de moda, no entanto, tem levado até mesmo os ícones a uma revisão. Com tamanha concorrência, não é possível viver só da fama -- é preciso buscar novas locomotivas de vendas. Após uma pausa, nos anos 80, e da retomada, no final dos 90, a marca DVF inaugura uma nova fase: a da gestão profissional.

Com um faturamento que chega a US$ 500 milhões em vendas no varejo, 58 lojas e presença em 70 países, a DVF quer replicar nas bolsas, sapatos, óculos e outros itens, o sucesso que tem com o seu vestido famoso. Desde agosto, a companhia tem um co-presidente do conselho, Joel Horowitz. "A intenção é que ele coloque a DVF num nível ainda mais elevado", informa Diane, em entrevista ao Valor. A aposta é principalmente nos acessórios. Ano passado, a DVF lançou sua primeira linha de artigos para o lar e uma fragrância assinada, a "Diane". "Esse segmento deverá ser tão grande quando o do vestuário", diz a designer, que possui duas lojas no Brasil, nos shoppings Iguatemi e JK. Não que o vestido que fez a fama da marca DVF vá sair dos holofotes. Em 2014, quando o "wrap dress" fará 40 anos, a DVF vai fazer uma exposição em Los Angeles para mostrar a história e evolução desse item que foi responsável por manter o nome de sua criadora em evidência. Diane Von Furstenberg veio a São Paulo para participar do seminário "Women in the World Summit".

Valor: Por que contratar um executivo com o perfil de Joel Horowitz?

Diane Von Furstenberg: Isso tem a ver com o momento pelo qual a empresa passa. Ela amadureceu, da mesma forma que eu. A questão hoje não é mais crescer organicamente, como eu pensei, mas crescer com planejamento. Por isso, trouxe Joel Horowitz, que além da co-presidência do conselho também possui uma pequena parte no negócio. A sua missão é a expansão da linha de acessórios e do varejo. [Com mais de 35 anos de experiência em varejo, Horowitz teve um elogiado desempenho à frente da Tommy Hilfiger.] Percebi que a marca DVF é muito maior do que o negócio em si. E para aproveitar o seu potencial, precisamos dos melhores profissionais. [A empresa tem como presidente a executiva Paula Sutter.] E o meu papel, pelos próximos anos, será me dedicar às áreas criativas da companhia, para manter o seu DNA. Hoje, a DVF vive a sua terceira fase, provando que tem uma história autêntica e consistente.

AP PhotoLooks da mais recente coleção da grife DVF, apresentada em setembro, em Nova York: cor, feminilidade, requinte e compromisso com a liberdade feminina

Valor: E como você define as fases anteriores?

Diane: A história da marca DVF se divide em três partes. Na primeira, nos anos 1970, eu tinha 20 e poucos anos, era recém-casada e queria me tornar independente. Eu fui muito sortuda pois tive a chance de viver o "sonho americano". Além de moda, tive também um negócio na área de beleza. O crescimento foi rápido. Tudo isso durou dez anos e no fim desse período eu vendi as empresas de moda e de beleza. O licenciamento que havia com o meu nome também foi minguando aos poucos. Fui para a Europa, fiz outras coisas e tive uma editora.

Valor: Como foi a retomada, no final dos anos 1990?

Diane: Voltei para os Estados Unidos em 1992. Em 1993, a "Women's Wear Daily" publicou que o meu nome estava em sétimo lugar na lista de designers mais reconhecidos, nos Estados Unidos. Seria ridículo não aproveitar essa chance. O ano de 1997 era o momento ideal, pois o poder das grifes estava em ascensão. Apesar das dificuldades, eu consegui encerrar os licenciamentos que levavam meu nome. O retorno mostrou às pessoas que o sucesso inicial não tinha sido acidental. A retomada ocorreu num momento de revival dos anos 1970, quando os meus vestidos antigos viraram febre entre as jovens americanas, que os encontravam em brechós. A nova coleção foi um sucesso. [O vestido-envelope foi relançado com pequenas alterações: ficou mais curto e passou a ser produzido com tricô de seda e não mais com jérsei de algodão.]

Valor: E nesse novo momento, o que muda na estratégia para o Brasil?

Diane: Vamos continuar com a bem sucedida parceria com Carlos Jereissati Filho (CEO do grupo Iguatemi). O empresário não é apenas um parceiro de negócios, mas um grande amigo. Aliás, isso é uma coisa interessante que ocorre no Brasil: eu costumo ficar amiga dos meus parceiros de negócios. Foi assim também com Roberto Stern, da H.Stern, para quem desenhei uma belíssima coleção de joias. De qualquer forma, DVF provou ter tudo a ver com o espírito da mulher brasileira. Para o futuro, planejamos investir mais no varejo. Queremos explorar melhor a parte de acessórios, para que ela seja tão forte quanto à moda, e é possível que tenhamos mais lojas no País. A intenção é tornar a DVF mais próxima e acessível a consumidora brasileira. Queremos estreitar essa relação com ela.

Valor: De que forma?

Diane: Estabelecendo uma relação mais pessoal e dando acesso integral à marca. Porque acredito que a DVF tenha um compromisso com a liberdade e o poder femininos. Ela consegue inspirar e vender confiança às mulheres. Não se trata apenas de um discurso: a marca proporciona isso de forma autêntica e real, fazendo uma roupa com qualidade no tecido, conforto e bom caimento.

Valor: O vestido "wrap" ainda é o carro-chefe de sua marca?

Diane: Sim, ele representa 18% das minhas vendas de vestidos, inclusive no Brasil. E é engraçado porque ele agrada principalmente as mulheres jovens, que estão começando a vida. Não sei como isso ocorre, porque ele foi criado originalmente para uma outra época e outro tipo de mulher. Posso dizer que, nos anos 1970, ele estava em quase todos os guarda-roupas femininos, nos Estados Unidos. Ele começou a ser idealizado quando eu trabalhava em Roma com um empresário do ramo de estamparia. Ele fazia lenços para Gucci e Ferragamo e foi com ele que aprendi tudo sobre estampas e sobre o jérsei, que ele usava para fazer camisetas e alguns vestidos. Quando decidi me casar e ir morar nos Estados Unidos, pedi algumas amostras do jérsei estampado para tentar vender lá. E foi dessa forma que nasceu o "wrap".

Valor: Como é a consumidora brasileira?

Diane: É curioso porque, a cada novo país que eu abria uma loja, diziam que a marca era perfeita para aquele lugar. Já ouvi que a DVF tinha tudo a ver com lugares completamente distintos, como Rússia, China e Inglaterra. Mas acredito que isso seja real aqui no Brasil. A marca é extremamente compatível com a mulher brasileira que, na minha opinião, é a mais confiante do mundo.

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