Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Christoph Burkhardt é alemão, mas trabalha em Silicon Valley a dar uma ajuda a empresas e empreendedores que queiram mudar a sua forma de pensar nos negócios e na inovação.

O consultor, que conta com uma experiência acumulada em organizações como a Intel, Siemens, BMW e Lufthansa, esteve no Porto, onde foi um dos oradores da convenção da IACDE – International Association of Clothing Designers and Executives, que decorreu de 26 a 29 de abril (ver «Não sejam robôs. Sejam humanos. E boa sorte»). Em entrevista ao Jornal Têxtil, falou sobre a inevitabilidade dos robôs, da necessidade de alterar a educação para acompanhar as mudanças de paradigma e apontou para um futuro onde os portugueses, habitualmente menos focados no planeamento, podem ser mais bem-sucedidos.

Falou em mudanças de paradigma na sua intervenção. Como podemos aplicar estes princípios à indústria têxtil e de vestuário?

Acho que algumas das perguntas em que trabalhamos têm que mudar. É preciso desviar o foco total da criação do produto, olhando para processos, cadeias de aprovisionamento e mudar para a pergunta: porque é que esta indústria existe? E depois pensar em que caminho é que vai seguir.

Isso é possível na indústria tal como está nos dias de hoje?

Claro. Muitas indústrias mudaram a sua forma de pensar e qualquer empresa nova que queira ser disruptiva face a organizações mais antigas traz outro enquadramento e depois de algum tempo adotamos essas ideias. Não tenho dúvidas de que alguns líderes se irão adaptar. Mas, claro, não serão todos.

Mas estamos a falar de uma indústria ainda muito tradicional, por oposição ao que se passa em Silicon Valley.

Toda a gente em Silicon Valley veste roupa. Por isso não é algo que esteja separado do mundo real. Um problema grande com as indústrias muito tradicionais é que estão muito dentro do negócio, do seu mundo, da indústria, e o que todos estamos a ver é muita perturbação que vem de fora e nem sequer é de empresas jovens e sim de outros players que decidem entrar no negócio.

Qual o papel dos robôs? Há razão para ter medo que fiquem com muitas das funções que agora são da responsabilidade dos humanos?

Vai haver muitas mudanças e entendo porque é que a pessoas têm medo.

É inevitável?

Sim, definitivamente vai acontecer. Cerca de 50% do que fazemos diariamente vai desaparecer. E isso vai afetar toda a gente. As pessoas não estão preparadas e as empresas não formam os funcionários para isso. Estamos só a cinco ou 10 anos de cerca de 10% a 20% serem totalmente substituídos. O que não vai acontecer é o desaparecimento de uma indústria totalmente, porque será substituída por robôs. Certos tipos de trabalho é que irão desaparecer e teremos que pensar em como passamos o nosso tempo.

Trata-se de empregos de fábrica ou de escritório?

Em fábricas já vemos robôs com Inteligência Artificial (IA), mas são treinados por humanos que lhes dizem o que fazer. E depois, por exemplo, um braço robotizado torna-se tão bom que a única diferença é a escala do que faz. Só precisa de uma pessoa para treinar robôs. No fundo é esse o trabalhador da fábrica.

Acha que devia haver mudanças ao nível da educação para fazer face a este novo mundo?

Absolutamente. A educação é, possivelmente, o pior campo a preparar-nos para este futuro e precisa de mudar radicalmente em direção ao autoconhecimento e aprendizagem independente, de qualquer competência que queiram aprender. Temos sistemas de educação estandardizados que basicamente são só um mecanismo de seleção para o sucesso, com um conjunto de competências muito reduzido. Se for bom a matemática, provavelmente será bem-sucedido. Se for bom a artes possivelmente não, o que é horrível, porque necessitamos de artes. E se olharmos para a indústria da moda precisamos das duas. Treinamos as pessoas para pensar assim e isso é perigoso. Porque é que a matemática seria mais importante do que as artes?

E acha que os países desenvolvidos estão a pensar assim?

Não. Nenhum país está pronto para isto.

Falou em viver no caos e não planear. Isso é o oposto do que se passa na Alemanha e nos EUA.

Sim, mas tem que mudar o paradigma da gestão: uma empresa digitalizada, não precisa de um diretor. Um aparelho de IA será um gestor muito melhor. O que precisamos é de pessoas a fazerem as perguntas certas e a tentar coisas novas, que experimentem, que façam pesquisa, que sejam criativas, que apostem em artes. Todas as coisas que um robô não entende. Mas gerir, coordenar e fazer planos, os empregos típicos dos gestores, não precisamos disso.

Não é preciso haver uma mudança cultural nestes países que são tão orientados para planos?

Sim. Já tenho centenas de alemães que vêm visitar-me em Silicon Valley todos os anos para perceber como é que funciona esse enquadramento mental e as mudanças a que leva. Vai acontecer em breve e eles não sabem transformar as empresas. Estão sempre a pensar em aplicar as tecnologias e à procura de uma solução fácil. Tem que haver uma estratégia para isso e eles não têm nenhuma.

Já estudou a forma como pensam os europeus do Sul? É mais próxima das suas ideias.

Eu sei! Vocês são muito melhores nisto. E também acho que não pensam tão profundamente no futuro.

https://www.portugaltextil.com/uma-empresa-digitalizada-nao-precisa...

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  Em fábricas já vemos robôs com Inteligência Artificial (IA), mas são treinados por humanos que lhes dizem o que fazer. E depois, por exemplo, um braço robotizado torna-se tão bom que a única diferença é a escala do que faz.

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