Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Uma Empresa Entre Teares e Rodas de Fiar que Gera Renda para os Bairros Pobres

Cleide Ferreira de Moura usa o tear para comercializar produtos com tirinhas de malha

Uma professora de escola rural de Monte Alegre de Minas pediu licença do cargo para se dedicar a uma paixão, que virou empreendimento. Depois de ter passado a infância e a juventude nas fazendas da região, em meio a carneiros, lãs e teares, Cleide Ferreira de Moura, hoje com 46 anos, fez do seu conhecimento e da curiosidade um negócio. Criou, em 2007, o Tear da Vovó, um empresa que comercializa tapetes, bolsas e acessórios com tirinhas de malha. “Acima de tudo, somos uma empresa sustentável. Trabalhamos com reciclagem e usamos teares que têm mais de 100 anos”, disse Cleide de Moura.

A empresa funciona em Uberlândia, onde a empreendedora mora com seus dois filhos, que já são jovens e ajudam na produção. Preocupada em gerar renda nas comunidades mais pobres, a empresária espalhou teares e suas rodas de fiar por distritos e bairros da cidade. São seis teares próprios, sendo cinco com capacidade para tecer com até 90 cm de largura e um com capacidade para tecer com até 2 metros de largura.

Cleide Moura também ensinou mulheres e homens a tecer e agora compra o produto, que ela leva para decorar as casas e prédios.
“A pessoa nos chama e nós vamos até a casa dela. Colocamos os tapetes na sala, nos quartos, no lavabo, deixamos lá um dia inteiro para que a família toda namore, veja se é aquilo mesmo que quer, e no dia seguinte voltamos lá e negociamos, fazemos as trocas necessárias”, disse.

Cleide Moura acha que tapeçaria é como um namoro. Consequentemente, segundo ela, esse amor não pode ser encarado como uma simples venda. Por isso, ela gosta de ir às casas de suas clientes, chamar as decoradoras, compor ambientes e deixar que as famílias namorem seus produtos.
“Nosso compromisso é reciclar, trabalhar com produtos biodegradáveis e não utilizar energia proveniente de fontes não renováveis”, afirmou a empresária.

Segundo ela, a Tear da Vovó também demonstra compromisso com a preservação do meio ambiente quando adquire teares antigos, em vez de comprar teares novos, apesar de representar um esforço adicional para localizar os teares, recuperá-los e deixá-los em funcionamento.
“A empresa é uma homenagem à minha avó paterna (Luiza Coelho Moura), pois, desde que me lembro, tinha tear em casa e ela teceu até os 86 anos da idade. Minha avó foi uma inspiração e a incentivadora para que eu me dedicasse à produção de tecidos com tear manual”, disse.

Tudo começou com a lã de carneiro para as cobertas

Quando criança, Cleide Moura ajudava os pais e avós a tosar carneiros em Monte Alegre de Minas. Depois, a lã retirada dos animais era juntada ao algodão para que fossem feitas as cobertas, momento em que entravam em cena as máquinas de fiar. “Cresci em meio a máquinas de fiar e a teares. Sempre fui muito curiosa e aprendia a fazer trabalhos manuais só olhando”, afirmou a empresária.

Foi assim, observando, de acordo com Cleide, que ela aprendeu a fazer crochê, tricô e costura. Descaroçava algodão, costurava suas próprias roupas e em 2004, quando uma ponte caiu na zona rural de Monte Alegre, deixando sem aula por dois meses a escola em que ela lecionava, Cleide Moura se dedicou a aprender o que ainda não sabia no Centro de Fiação e Tecelagem de Uberlândia.

A ponte foi reconstruída, os alunos voltaram, mas a professora já não conseguia largar sua velha paixão.
Ela foi ao paiol da casa da avó e de lá retirou o velho tear, centenário e cheio de histórias. Em cada fazenda na região do Pontal por onde passava e visitava velhas tias, Cleide Moura buscava um tear, recuperava o aparelho, tecia e aprendia mais sobre esta prática. O resultado foi uma produção volumosa de tapetes, bolsas e acessórios com tirinhas de malha, que ela hoje vende em feiras nas capitais brasileiras e também negocia diretamente nas casas dos clientes.

A empreendedora também participa do projeto Sinhá Recicla, incubado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e que transforma retalhos, papéis e outros produtos que iriam para o lixo em bijuterias, bolsas, chaveiros, caixas, sacolas, tapetes e outros itens comercializáveis.

Tecelagem manual é uma das artes mais antigas e já foi proibida no país

A tecelagem manual é uma das mais antigas artes da humanidade. Foram encontrados vestígios de objetos ligados à tecelagem – teares rudimentares, fusos, rocas, cardas e urdideiras -, assim como de restos de tecidos em todas as culturas, remontando os registros arqueológicos mais antigos a 5 mil anos a.C.

No Brasil, os jesuítas chegaram para catequizar os índios e queriam que seus corpos fossem cobertos. Por isso, foram trazidos de Portugal artesãos especializados na arte de tecer, bem como todo o aparato necessário à produção de tecidos, com a utilização principalmente do algodão, o que fez com que esta arte se espalhasse por todo o território brasileiro.

Dada a necessidade de concentrar a mão de obra nacional na produção de alimentos e extração do ouro no país e, principalmente, devido aos acordos comerciais entre Portugal e Inglaterra, onde Portugal se comprometeu a consumir os tecidos produzidos pela indústria têxtil inglesa, em 1785 a atividade de tecelagem foi proibida no Brasil. O decreto foi assinado pela rainha de Portugal Dona Maria I, que ordenou a queima de todos os teares do Brasil.

Em 1808, Dom João VI, ainda príncipe-regente do Brasil nessa época – ele virou rei de Portugal em 1816 e Imperador do Brasil em 1825 -, emitiu alvará, no qual revogou o decreto que determinava o impedimento da instalação de manufaturas no Brasil de 1785. Apesar de a proibição no país ter durado 24 anos, a arte de tecer não foi extinta das terras brasileiras, porque em algumas fazendas toda a estrutura necessária para sua execução não foi destruída, sob a alegação de quem a manteve de que ela seria utilizada para a produção de roupas para os escravos.

Minas Gerais foi um dos estados brasileiros em que as técnicas de tecelagem manual foram mais bem absorvidas.

Tear da Vovó

* Proprietária

- Cleide Ferreira de Moura

A empreendedora também participa do projeto Sinhá Recicla

Sinhá Recicla

- Incubado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
- Transforma retalhos, papéis e outros produtos que iriam para o lixo em bijuterias, bolsas, chaveiros e outros itens comercializáveis

* Fundação do Tear da Vovó

- Em 2007

* A empresa

- Seis teares próprios

Cinco com capacidade para tecer com até 90 cm de largura

Um com capacidade para tecer com até 2 metros de largura

* Atuação

- Em Uberlândia e em distritos da cidade

Fonte:|http://www.correiodeuberlandia.com.br/cidade-e-regiao/uma-empresa-e...

Exibições: 303

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço