Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

 

Pensando na prática de “consumo local” e em incentivar o produto feito no Brasil – valorizando, dessa forma, a indústria, a produção e a mão de obra local –para que volte a ganhar fôlego além do varejo, como uma indústria centenária e forte no país, que é a segunda que mais emprega, algumas bandeiras foram levantadas no último ano. Uma delas é o #feitonobrasil, um movimento apresentado em novembro pela Rhodia em conjunto com a consultora de moda e estilo Renata Abranchs, uma autodeclarada apaixonada pela moda nacional.

“O #feitonobrasil é um manifesto de amor pela moda brasileira, para resgatar o orgulho e o incentivo à produção local. É um movimento de conscientização e união de toda a cadeia produtiva. A produção nacional é vital para a sobrevivência da indústria têxtil brasileira, que está em segundo lugar em criação de empregos no país, gerando mais de 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e 8 milhões de indiretos, mas requer colaboração e união de toda a cadeia para se tornar maior motivo de orgulho”, declara Mayra Montel, gerente de marketing e branding da Rhodia Fibras.

Ela explica que, junto aos órgãos governamentais, já existem entidades trabalhando para o fortalecimento do setor, como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), mas o que estão fazendo com o #feitonobrasil é fortalecer junto ao consumidor a moda feita aqui, com criatividade, qualidade e amor.

“O movimento #feitonobrasil é de conscientização. Com as marcas usando otag ou selo #feitonobrasil identificando os produtos produzidos no país e com lojistas valorizando os produtos na hora da venda, teremos cada vez mais consumidores educados a reconhecer e identificar o produto feito no Brasil, que começarão, com certeza, a pedir mais peças nacionais. Precisamos educar os consumidores a valorizar o que é 100% nosso”, argumenta Mayra.

No lançamento do movimento, foi apresentada uma marca/selo próprios, que podem vir num tag especial com o #feitonobrasil impresso, para chamar atenção paraos produtos confeccionados localmente. Esse logotipo também pode ser aplicado na etiqueta da marca ou em seus materiais de comunicação. Qualquer empresa pode participar, desde que haja o compromisso de ser um produto totalmente nacional. Mayra diz que haverá uma fiscalização prévia para garantir que quem recebe o selo faz, de fato, um produto 100% brasileiro. “O próximo passo é montar um comitê formado por pessoas engajadas, empresas e líderes, que organizarão ações para incentivar o consumo consciente. O site www.feitonobrasil.com.br já está no ar e serve de ponto de partida para as grifes se unirem”, diz Mayra.

Desde seu lançamento, algumas marcas, empresas e entidades já declararam apoio ao projeto, como Abit, Reserva, Ronaldo Fraga, Vert, Maria Filó e Tecnoblu, e outras já manifestaram seu interesse à Rhodia, como Salsa, Track&Field, as tecelagens Santaconstancia, Canatiba, Berlan, e também o Sinditêxtil-SP.

 

 

COMO ADERIR AO #FEITONOBRASIL?

As empresas interessadas em aderir ao movimento podem acessar o site www.feitonobrasil.com.br para saber mais informações ou entrar em contato direto com a Rhodia pelo e-mail info.amni@solvay.com ou com a consultora Renata Abranchs pelo e-mail projetos@renataabranchs.com.br.

 

Mayra Montel, gerente de marketing e branding da Rhodia Fibras, com o tag do movimento #feitonobrasil.

Foto: Divulgação

 

 

O estilista Ronaldo Fraga, um dos apoiadores do movimento, na verdade começou o seu próprio no desfile de Inverno 2007, na São Paulo Fashion Week, com a coleção intitulada “A China de Ronaldo Fraga”, uma crítica sobre o conceito chinês de dominar o mundo. Como vários de seus desfiles inesquecíveis, esse marcou bastante pelo cenário, em que a passarela dividia uma “linha de produção”, com vários chinesinhos encenando o trabalho em alta escala, enquanto as modelos caminhavam e eles nem se abalavam, continuando o que estavam fazendo como robozinhos. “A partir dessa data, passei a trazer nos meus tags a inscrição ‘Na produção desta peça não foi usada mão de obra chinesa. Orgulhosamente produzida no Brasil’.”A repercussão foi impressionante e até hoje a mantemos. Meu cliente é extremamente sensível e consciente em relação a isso”, revela o estilista.

 

Look do desfile “A China de Ronaldo Fraga”, da coleção Inverno 2007 do estilista, desfilada na SPFW.

Foto: Fernanda Calfat

 

 

Ronaldo explica que seu apoio ao #feitonobrasil se deu por achar importante que marcas e profissionais se envolvam em todos os projetos que busquem lançar luz e articulação política a um setor tão penalizado no cenário de concorrência global e que, além de a moda brasileira não ter essa articulação política, até bem pouco tempo muitas marcas achavam que o concorrente era o cara ao lado. “Já trabalho em defesa do que é feito no Brasil e assim farei até o fim”, declara.

Ele conta que, apesar de todos os custos e dificuldades que desestimulam produzir qualquer coisa que seja em nosso país, mantém toda sua produção aqui. “Mas é com muita tristeza que compro linho e seda importados, porque o Brasil deixou de fabricar. O lado bom é que nos aproximamos mais de quem ainda produz tecidos e insumos por aqui.”

Outro entusiasta – não só da moda, mas do povo brasileiro – é Rony Meisler, sócio da marca Reserva, que também está apoiando o movimento. “A decisão foi natural, pois a Reserva sempre teve esse posicionamento. O orgulho de ser brasileiro é parte da nossa identidade de marca, e essa filosofia se estende até a valorização da produção local”, conta Rony.

Com exceção das peças de couro, importadas da Argentina e do Uruguai, e algumas de algodão pima, vindas do Peru, todas as outras vendidas na Reserva são nacionais. Rony conta que, há alguns anos, estão aprimorando os sistemas de logística, controle de perda de estoque e outros procedimentos que permitiram a redução de custos, mas que 75% do valor final de seus produtos se refere a custos operacionais, impostos e comissões, ficando com um lucro em torno de 15%. “É de fato uma cadeia produtiva complexa, com um volume de fornecedores muito grande e nós tentamos, ao máximo, cuidar para que nossos parceiros tenham não só operações financeiramente saudáveis como também ética socioambiental. Não é fácil, mas temos ações que vão desde financiamento para que fornecedores montem suas estruturas a um projeto grande de auditoria que devemos implementar em breve”, revela ele.

E quanto à conscientização dos consumidores? Rony diz que percebe, no dia a dia da empresa, que o consumidor brasileiro está mudando sua visão sobre o mercado, apesar dos que preferem escolher pelo menor preço ou optam por consumir produtos de fabricação chinesa ou de outras nacionalidades. “Acredito que o consumidor brasileiro valoriza, sim, o produto nacional e que as marcas precisam investir mais pesado no próprio país. Aos poucos essa cultura de fastfashion está perdendo força e o consumidor está começando a fazer escolhas mais conscientes”, opina Rony.

Outra marca apoiadora do #feitonobrasil é a Vert. Sucesso no exterior sob o nome de Veja Shoes, a empresa estabeleceu uma base no Brasil em setembro de 2013, com fabricação 100% nacional. Criada pelos franceses SébastienKopp e François-GhislainMorillion, a marca de tênis sustentável, de design clean e urbano, produz em torno de 120 mil pares ao ano e está presente em 36 países, tendo uma equipe multicultural espalhada entre Paris, Londres, Berlim, Milão e Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Novo Hamburgo, Fortaleza e Rio Branco).

 

Um dos modelos de tênis da Vert: a cada par de tênis vendido, a empresa repassa R$ 1,1 aos produtores de algodão do Semiárido Nordestino, e R$ 0,70 aos seringueiros do Acre.

Foto: Divulgação

 

 

De acordo com os sócios, que têm uma fábrica no Vale dos Sinos (RS), o Brasil oferece uma base produtiva para seus tênis devido a seu lado ecológico e social. Toda a matéria-prima utilizada é cultivada aqui, na contramão da atual tendência de importar produtos fabricados na Ásia, e a produção nas fábricas e ateliês que prestam serviços à Vert é acompanhada diariamente, com auditorias sociais anualmente. Dessa forma, o apoio ao movimento veio de forma orgânica. “O DNA da Vert está escrito nos mais de 100 mil pares que vendemos. O que mais encanta é o consumidor saber que, usando nosso tênis, está contribuindo para manter a Amazônia em pé”, declara o cofundador da Vert, François-Ghislain Morillion.

Acreditando num comércio justo como ferramenta essencial para a “economia verde”, a cada par de tênis vendido a empresa repassa R$ 1,1 aos produtores de algodão do Semiárido Nordestino e R$ 0,70 aos seringueiros do Acre. “Não acreditamos numa visão romântica da ecologia; nosso caminho é a valorização econômica. Na Vert, isso passa por um trabalho social: os seringueiros e os produtores de algodão recebem um valor diferenciado por preservar as florestas e as terras”, explica François.

A Abit, por sua vez, além de também apoiar o #feitonobrasil e outras campanhas de valorização do produto nacional – como “Moda Brasileira, Eu Uso, Eu Assino” (abaixo-assinado Abit),“Amo Moda, Amo o Brasil” (SPFW), “Moda Brasileira, Eu Acredito” (Tecnoblu), percebeu que nenhuma delas esclarecia ao grande público por que a indústria da moda está passando por um momento tão crítico, muito menos pelas redes sociais, e criou, no final de 2014, uma nova campanha própria, chamada “Moda Brasileira, Tamo Junto!”.

De acordo com Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit, o objetivo é transcender o público do setor e interagir com o grande público consumidor, trazendo temas relevantes da indústria, mas de uma forma mais próxima de seu mundo, por isso o nome na forma coloquial. O hotsite da campanha é o www.modabrasileiratamojunto.com.br.

“Não é uma campanha ufanista, somos o quarto maior mercado mundial em produção de vestuário. E o consumidor brasileiro tem que entender que ele é peça importante nesse jogo no sentido de seu progresso, pois esse setor é um patrimônio nacional e precisamos ter orgulho de nosso produto”, declara Pimentel.

Iniciada em dezembro passado, a campanha da Abit vai, por meio das redes sociais (Facebook e Instagram), abordar temas como carga tributária, desindustrialização, custo Brasil, concorrência internacional, produção, normas brasileiras de conformidade trabalhista, entre outros, de forma simples e direta. Uma das primeiras ações aconteceu no período do Natal, com um post chamando atenção para as compras de presentes com a pergunta: “Você se preocupa com a origem do que está vestindo e do que vai presentear nesse Natal?”. Pimentel explica que esse é um projeto piloto e que as ações serão feitas durante três meses, quando será avaliado seu resultado.

Para Rafael Cervone, presidente da Abit, muita gente desconhece o que a entidade faz pelo setor e o motivo pelo qual passa por uma situação difícil, tendo demitido mais de 14 mil pessoas nos últimos 12 meses. “Não é fácil e precisamos de aliados para defender a moda brasileira. É por isso que ‘tamo junto’!”

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/30/materia/especial.html

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