Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A temporada de verão 2022 que está começando no Hemisfério Norte rememora os anos 1990 e 2000 com desejos de uma era mais feliz, mais hedonista e menos tensa.

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FOTOS L’OFFICIEL 1994-2000

Como um sonho recorrente, as tendências que definiram os anos 1990 e início dos 2000 marcaram um inabalável retorno às passarelas de temporadas recentes, desta vez reimaginadas em sintonia com uma visão de mundo cultural dominada pela geração Z. O estilo urbano de celebridades, entre elas Bella Hadid, Dua Lipa e Alexa Demie, amplamente registrado, foi redistribuído nos guarda-roupas patrocinados pelo app de compras Depop dos jovens formadores de opinião de hoje. Enquanto isso, na música, estrelas como Olivia Rodrigo e Willow Smith estão adotando a angústia pop-punk que fez com que bandas da década de 2000, dentre as quais Paramore e My Chemical Romance, se tornassem um grande sucesso. Cenas de filmes e programas de TV cult, As Patricinhas de Beverly Hills The Simple Life, por exemplo, enchem os feeds do Instagram ao lado de legendas virais, e novas séries, como Euphoria, alimentam-se da mania da moda Y2K (“years two thousand”, ou anos 2000). Em meio a toda essa nostalgia, não é de surpreender que esses estilos tenham emergido como uma fixação permanente no ciclo de tendências.

Botas Tabi da Maison Margiela, coleção primavera-verão 1990. Cortesia do Museu do FIT

Uma pandemia, a crescente onipresença das redes so- ciais em nossa vida e a iminente tragédia climática estimularam uma ansiedade semelhante àquela pela qual passamos no fim do século XX. Não é de admirar, portanto, que estejamos olhando para uma versão irreverente e atrevida da moda das décadas de 1990 e 2000 para reivindicá-la e reinterpretá-la a nosso modo. E já que marcas originais dessa época voltaram, novos designers e criadores de diversas áreas ajudaram a redefinir essa tendência sob sua própria perspectiva. No centro dos sistemas da moda 1990 e Y2K, havia uma dicotomia similar entre a ostentação e a originalidade, embora sem as complexidades criadas pela contagem de seguidores e pela estética dos feeds. Enquanto continuamos a nos adaptar a um mundo incerto, perdura uma certeza sobre o significado e a essência dessa era revolucionária na moda e na cultura.

Tal retorno aos populares estilos Y2K tornou-se objeto de estudo predominante dos atuais acadêmicos da moda. No FIT (Instituto de Tecnologia da Moda), a curadora Colleen Hill organizou uma exposição intitulada Reinvention and Restlessness: Fashion in the Nineties (“Reinvenção e Inquietação: a Moda nos Anos 90”, em tradução livre), que examina como aquela década representa uma colisão entre o minimalismo e a fantasia, e como essa justaposição está no cerne do apelo renovado desses estilos e dessas tendências.

A retrospectiva, aberta ao público até 17 de abril de 2022, em Nova York, apresenta 85 peças selecionadas do acervo permanente do FIT. Hill estabelece conexões entre roupas icônicas e tendências da época, relacionando-as a humores e momentos culturais significativos da década. A mostra não poderia vir em melhor hora: marcas e celebridades trouxeram de volta, para o bem ou para o mal, calças e saias de cintura baixa, e sapatos de plataformas grossas, reminiscentes de catálogos de compras dos anos 1990, pisam forte nas passarelas de Versace, Vivienne Westwood e Moschino, enquanto a Prada defende o escarpim de bico fino, um dos favoritos das it girls dos anos 2000.

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Look da coleção Azzedine Alaïa primavera-verão 1990; jumpsuit Jean Paul Gaultier outono-inverno 1995; vestido da linha Pleats Please de Issey Miyake, coleção outono-inverno 1996; corset Vivienne Westwood outono-inverno 1990

Reinvention and Restlessness propõe que esses estilos nasceram de um desejo de revitalização de nós mesmos e do mundo, particularmente quando os anos 1990, relativamente livres de drama, deram lugar a um novo milênio aparentemente ameaçador, provocando uma ansiedade generalizada. Em 2022, vivemos um momento semelhante, na medida em que flutuamos por uma pandemia e por um mundo cada vez mais complexo e digitalizado. Enquanto os anos 1990 e o início dos 2000 procuravam reinventar completamente o estilo, hoje ansiamos pelo que enxergamos como uma época bem mais simples, reinterpretando a estética daqueles tempos através de uma lente moderna.

A moda McBling dos anos 2000, liderada por Paris Hilton e Nicole Richie, a princípio foi menosprezada pelas marcas de alta-costura, mas a era “free Britney” de hoje retoma o glamour indulgente de menininha como uma celebração da hiperfeminilidade e uma resposta às narrativas patriarcais usadas para constranger quem usasse essas peças. A blusinha crop top de borboleta de cristal Ungaro de Mariah Carey e o eletrizante vestido Versace usado por Jennifer Garner no filme De Repente 30 foram bastante compartilhados no Instagram, levando as marcas a lançar reedições e recriações. Tendo Dua Lipa como rosto, a Versace revisitou com sucesso seus minivestidos de malha metálica – antes um elemento básico de super-modelos –, e a Chanel carinhosamente adornou seus looks com os cintos que trazem o nostálgico logo como fecho, abraçando mais uma vez a persona “mulher sexy” dos anos 1990.

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Bastidores da Blumarine primavera-verão 2022

Enquanto a moda Y2K dispara no TikTok, a marca Blumarine, que andava meio apagada, voltou aos holofotes, englobando a excentricidade cool e sexy casual da garota dos anos 2000. A estética chiclete e borboletas da Blumarine vieram com uma atualização descontraída, trazendo a alegria de volta à moda durante um período de trevas. Recentemente, Roberto Cavalli também fez uma ressurreição, e, por sua vez, a peso-pesado da alta-costura dos anos 1990, Vivienne Westwood, chamou a atenção da indústria ao trazer celebridades e influenciadoras representando a imagem punk por excelência da designer em provocativas míni kilts, corsets e gargantilhas de pérolas. Já a Prada lançou uma reedição de suas icônicas bolsas de náilon, enquanto, na Miu Miu, a minissaia está de volta com tudo para a primavera-verão 2022, desta vez ainda mais curta do que nos lembrávamos.

A temporada está repleta daquele hedonismo enérgico da virada do milênio, evidenciado por tons pastel, roupas que marcam o corpo e estampas e texturas ousadas. Essa viagem nostálgica encanta pela feminilidade, pela sensualidade e pelas características propositalmente cafonas da moda Y2K, fornecendo uma dose de dopamina que se faz muito necessária com a monotonia que os anos 2020 têm sido até agora.

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