Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Victoria’s Secret merece segunda chance? Marca planeja desfile para limpar imagem

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual Getty.

Desde o cancelamento do desfile em 2019, após série de acusações sobre falta de representatividade de corpos, a Victoria's Secret está trabalhando na nova imagem da empresa. Na última terça-feira (9/5) foi anunciada a volta do icônico desfile anual da marca, que potencializou os nomes de suas “angels” pelo mundo (como Heidi KlumAlessandra AmbrósioGisele BündchenCara DelevingneKendall Jenner Gigi Hadid). Mas, será que esse retorno está alinhado com os tempos atuais?

A empresa de lingerie com sede nos Estados Unidos passou por uma série de reformas desde o último desfile em 2018, com demissões de nomes de alto escalão e novos shapes de underwear, como sutiãs para amamentação e pessoas mastectomizadas. Nas redes sociais, mulheres de todos os tamanhos, racializadas, estampam as novas campanhas da marca.

O Victoria's Secret Fashion Show aconteceu anualmente de 1995 a 2018 e foi responsável por cravar ideais de beleza inalcançáveis, com suas angels absurdamente lindas, brancas, magras ao extremo, bronzeadas e com abdômen trincado. “Esses desfiles foram um dos cases mais problemáticos dos anos 2000”, opina a stylist Bella Castro.

Gisele Bündchen para Victoria's Secret em 2003 — Foto: Getty

Gisele Bündchen para Victoria's Secret em 2003 — Foto: Getty

"Sem sombra de dúvida, aqueles momentos dos desfiles da Victoria's Secret fizeram as mulheres daquelas gerações questionarem o próprio corpo. De alguma maneira, a marca conseguiu ser um pivô muito importante dessa crença equivocada de que magreza é igual a beleza. Para além dos shows, havia diversas matérias exaltando o que essas modelos faziam para ficar com o corpo do desfile. Ficar sem comer, sem tomar água", pontua a consultora de moda Thais Farage.

Representatividade não é modinha

Alinhar-se aos discursos contemporâneos pode ser muito bom para impulsionar as vendas do momento, mas a moda precisa estar na vanguarda quando o assunto é trazer corpos diversos para a passarela. E, historicamente, uma das marcas mais excludentes foi justamente a Victoria's Secret – até durante o “cancelamento” da marca, em 2018, quando o ex-diretor Ed Razek declarou à Vogue americana: “Deveria ter transexuais no desfile? Não. Não, acho que não deveríamos. Bem, porque não? Porque o show é uma fantasia. É um especial de entretenimento de 42 minutos.”

Kendall Jenner para Victoria's Secret em 2015 — Foto: Getty

Kendall Jenner para Victoria's Secret em 2015 — Foto: Getty

No documentário "Victoria's Secret: Angels and Demons", de Matt Tyrnauer (2022), ex-executivos acusam Ed Razek de tentar beijar as modelos e pedir que elas se sentassem em seu colo. Além disso, o ex-CEO da marca Leslie Wexner mantinha uma relação próxima há décadas com o empresário bilionário Jeffrey Epstein, condenado por tráfico sexual de menores.

“Acho possível a reformulação da marca. Tem que cortar as cabeças necessárias e recomeçar. Principalmente sendo homens, essa estrutura precisa ser revista”, analisa Bella.

Bella Hadid (2018), Gigi Hadid (2015) e Cara Delevingne (2012), para a Victoria's Secret — Foto: Getty

Bella Hadid (2018), Gigi Hadid (2015) e Cara Delevingne (2012), para a Victoria's Secret — Foto: Getty

Apesar de ser possível limpar a barra – inclusive, atualmente, a marca é líder de vendas no segmento nos EUA – precisamos nos lembrar do estrago feito durante mais de 20 anos usando a imagem das “anjas” esculturais que promoviam, assim como toda a moda dos anos 2000, o culto à magreza extrema e exclusão de pessoas não-brancas como ideal de beleza.

Alessandra Ambrósio para Victoria's Secret em 2006 — Foto: Getty

Alessandra Ambrósio para Victoria's Secret em 2006 — Foto: Getty

"A marca realmente precisa mudar, reconhecer o erro e fazer diferente. Assim como a Victoria's Secret fez a gente se sentir mal com nossos corpos, agora ela tem que fazer um esforço ativo para falar que isso não é beleza. Não adianta apenas colocar modelos gordas na passarela. Eles têm uma dívida com as mulheres", completa Thais.

Heidi Klum para Victoria's Secret em 2008 — Foto: Getty

Heidi Klum para Victoria's Secret em 2008 — Foto: Getty

Em declaração enviada à revista People no ano passado, a Victoria's Secret fez menção ao documentário e sinalizou que a empresa mudou sua postura desde que saiu do comando de Leslie Wexner, em 2021.

"A empresa que aparece na série documental não reflete a Victoria's Secret & Co de hoje. Quando nos tornamos uma empresa 'independente' em agosto de 2021, focamos em reestabelecer a confiança de nossas clientes, associados e parceiros", afirma o comunicado.

A companhia trouxe o executivo Martin Waters como CEO e lançou a VS Collective, focada em fomentar positivamente as mulheres e prover um ambiente mais inclusivo para clientes e funcionárias, segundo a marca.

“Turnê mundial”

Apelidado como uma turnê mundial, o evento será transmitido ao vivo e transformado em um documentário, com estreia marcada para setembro de 2023, e mostrará as criações de 20 designers do mundo todo selecionados para dar vida à nova coleção.

“O filme é a expressão máxima da transformação da marca Victoria's Secret. Será impulsionado pela moda, glamour e entretenimento com um aceno para a adorada iconografia do passado, mas de uma forma ousada e redefinida. Estamos muito honrados em oferecer nossa plataforma e explorá-la através das lentes e da arte de criativos globais que celebram a individualidade das histórias e perspectivas das mulheres", diz Raúl Martinez, vice-presidente executivo e diretor criativo da Victoria's Secret & Co em comunicado oficial.

O filme mostrará bastidores do evento – um grupo de 20 criativos globais que conceberão curadorias de moda das cidades de Bogotá, Lagos, Londres e Tóquio. Com a liberdade criativa para conceituar, produzir e encenar uma coleção própria, as forças artísticas da moda, cinema, design, música e campos visuais convergirão para mostrar seu trabalho ao lado de designs personalizados da Victoria's Secret.

Bogotá: a estilista Melissa Valdes, a cineasta Cristina Sánchez Salamanca, a pintora Lorena Torres, a coreógrafa Piscis e o músico Goyo.

Lagos: o estilista Bubu Ogisi, o cineasta Korty, a artista Eloghosa Osunde, a artista Ashley Okoli e o músico e fotógrafo Wavy the Creator.

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual: Ashley Okoli — Foto: Demola Mako

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual: Ashley Okoli — Foto: Demola Mako

"Deusas são representações de mulheres poderosas" - Ashley Okoli.

Londres: a designer Supriya Lele, a cineasta Margot Bowman, a artista e escritora Ebun Sodipo, a designer de lingerie Michaela Stark e a artista Phoebe Collings.

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual: Bubu Ogisi — Foto: Lakin Ogunbanwo Studio

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual: Bubu Ogisi — Foto: Lakin Ogunbanwo Studio

"Vejo peças que criei como armadura... para proteger a nós e nosso espírito, nosso ser. A ideia de vestir algo para se proteger sempre foi o ideal de roupa, é uma linguagem do corpo" - Bubu Ogisi

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual — Foto: Chikashi Suziki

Victoria's Secret anuncia volta do desfile anual — Foto: Chikashi Suziki

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