Vida Pós-Fast Fashion

[Textile Industry]

Katie Sturch, do WGSN: no futuro, grifes terão de ser mais autênticas, pois o cliente vai querer entender mais seu universo

Semana de São Paulo Fashion Week é tempo de previsões astrológicas para a moda, mas no mundo fashion, os gurus são os bureaus de tendência. O WGSN traz ao Brasil para assistir aos desfiles a designer especializada na área têxtil Katie Sturch, inglesa que faz as análises de varejo e de tendências em merchandising para o site.

Depois de viajar o mundo elaborando relatórios sobre as últimas inaugurações de lojas e lançamentos de produtos ao redor do globo, ela põe a mão na bola de cristal e conta, em entrevista exclusiva à "Blue Chip", que há vida pós-fast fashion. Katie diz que há grifes encontrando opções "híbridas" frente ao alto custo do algodão que chegou a prejudicar grandes redes. No varejo "os lojistas precisam oferecer agora uma 'experiência 360', com produtos de qualidade e bons meios de contato, de forma que o cliente sinta-se valorizado", diz ela. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Com o ritmo alucinado da internet e um consumo pautado pelo fast-fashion, ainda é possível falar em macro tendências?

Katie Sturch: Absolutamente. Há sempre forças motrizes que trabalham em uma base mais ampla e influenciam os movimentos das indústrias da moda e do design. Enquanto o fast-fashion faz da moda mais democrática e acessível, há muito mais influências em jogo. Veja o exemplo de uma tendência que vemos nascer agora, do olhar para comunidades - redeterminando a cultura no mundo e um movimento para o design híbrido. Nós no WGSN monitoramos essa tendência, a "hypercultura", há alguns anos e esperamos grande impacto dela no inverno 2012/2013. Essa tendência deve chegar ao verão do ano que vem, enquanto nos dirigimos a um mundo de códigos abertos e novas formas de compartilhar referências.

Quais as principais novidades da indústria têxtil?

Katie: Temos acompanhado o aumento do custo de matérias-primas, como o algodão, e isso teve grande impacto nos preços, especialmente para as lojas de fast-fashion. Há emergência no que chamamos de "tecidos naturais híbridos". Esses são feitos pelo homem, mas não como vimos no passado. Eles são quase tecidos de luxo, têm ótimo toque e também mais propriedades técnicas e melhor desempenho.

Tecidos naturais têm sido muito falados, porém marcas ainda usam o discurso do ecologicamente correto só como marketing. As pessoas já estão assimilando melhor a sustentabilidade na moda?

Katie: Sustentabilidade sempre vai ser um tópico urgente. O que é novo aqui é a transição para produtos "responsavelmente equilibrado". No varejo, temos visto marcas focadas na ideia do reúso e da reciclagem, marcas que oferecem qualidade e um produto que sobrevive mais que o tempo do fast-fashion.

Qual o impacto do aumento do e-commerce para o varejo tradicional?

Katie: O comércio virtual teve enorme influência no tradicional e isso deve continuar. O que os lojistas precisam oferecer agora é uma "experiência 360" para o consumidor, criando uma comunidade, com produtos de qualidade e bons meios de contato, de forma que o cliente sinta-se valorizado. As marcas precisam ser autênticas, pois o cliente quer entender mais a fundo sua narrativa.

Você conhece marcas brasileiras? Quais suas favoritas?

Katie: Adoro o masculino que o Alexandre Herchcovitch faz, assim como a linha de difusão dele, a Herchcovitch - que teve ótimo desfile no Rio na semana passada, mostrando uma coleção com jeans inspirado na Nova York dos anos 80, muito bem colocado para o mercado de moda casual brasileiro. Também adoro a abordagem abrangente do Oskar Metsavaht. Cresce a importância de marcas terem um "apelo 360" para a moda, particularmente em tempos de incerteza, e isso é algo evidente na Osklen. Neon é outra que estou ansiosa para ver. A marca tem uma atitude eclética e divertida que é sempre um destaque.

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/blue-chip/2493214/vida-pos-fast-fas...