Num contexto em que a continuação da disputa tarifária com a China influencia cada vez mais o comércio americano, os EUA têm procurado uma nova fonte de aprovisionamento para alimentar as suas indústrias e o Vietname parece estar a vencer a competição. Contudo, Frank Vossen, diretor da consultora de sourcing Seditex, afirma que «os compradores americanos esperam fazer negócio no Vietname da mesma forma que têm feito na China, mas a cultura negocial é muito diferente», devido, acima de tudo, à incapacidade e resistência de adaptação dos parceiros vietnamitas.
Apesar de ambos os países partilharem o mesmo sistema comunista – que permite a progressão dos sectores e mercados privados –, o passado histórico do Vietname poderá justificar parcialmente estas divergências. Até ao início do século XX, o país constituía uma colónia de França, pelo que «absorveu alguma cultura latina e compreende a importância de uma relação em que ambos os lados são vencedores», acrescenta Vossen, comparativamente à China em que o vencedor é unilateral.
Qualidade vs Quantidade
A indústria chinesa é bem conhecida pela sua produção em massa, que privilegia a quantidade. No momento do negócio, os fornecedores tendem a prometer o melhor dos dois mundos: excelentes produtos a bons preços. No entanto, Vossen explica que, no final, «os preços irão aumentar e a qualidade não será tão boa quanto a prometida». Por seu turno, o Vietname adota uma postura que dá primazia à qualidade e reserva-se da promessa de grandes resultados. «São muito conservadores nas suas cotações, assumindo margens extra para erros e, uma vez estabelecida a relação, ajustarão o preço», argumenta Vossen. Além disso, valorizam a exclusividade das relações pessoais, apresentando-se apenas a parceiros que venham acompanhados de uma referência da sua confiança.
As influências externas na cultura do Vietname não se cingiram ao seu passado histórico. Atualmente, o país está condicionado pela adoção do modelo alemão de gestão das suas indústrias, em que as fábricas são instaladas, configuradas e geridas para o longo prazo, contrariamente aos americanos, cujo processo produtivo passa mais pela subcontratação do que pelo investimento numa única unidade autossustentável, segundo Duncan Stirling, licenciado no Programa de Formação e Intercâmbio de Administradores União Europeia-China.
Condições laborais
No que diz respeito à qualidade de vida do trabalhador, Stirling defende que o Vietname tem uma política mais justa. «Para além de mais férias, comparativamente aos seus parceiros chineses, os trabalhadores são representados por uniões e conselhos laborais que têm um papel ativo na gestão da empresa», aponta.
Também o nível salarial reflete as melhores condições de trabalho do Vietname, inibindo a migração e consequente abandono de postos de trabalho. Duncan Stirling salienta que este povo tem «apenas 90 milhões de pessoas – é como uma província da China, não há grandes vagas migratórias por motivos de capricho. As pessoas tendem a assentar mais».
Por outro lado, o fornecedor vietnamita demora o seu tempo a atingir a qualidade exigida pelos seus clientes, enquanto a China «está já a um nível mais elevado nesta curva de aprendizagem», refere o licenciado no Programa de Formação e Intercâmbio de Administradores União Europeia-China.
Neste sentido, Duncan Stirling defende que as marcas americanas devem investir diretamente no longo prazo e manter o controlo dos fornecedores do Vietname. Aproveita ainda para reforçar que, com as taxas de juro dos EUA tão abaixas, o momento de arriscar «é agora».
https://www.portugaltextil.com/vietname-e-o-novo-substituto-da-china/