Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Vivienne Westwood deveria ser a estilista mais influente do mundo

Apesar de ter ficado marcada como a punk rocker do circuito fashion, a britânica ensaia em sua passarela um futuro mais igualitário e sustentável.

Dê ouvidos a Vivienne Westwood. De longe, suas sobreposições de tecidos que se penduram sobre seu corpo minguado podem fazer com que ela pareça pertencer a alguma seita fanática (o que não é totalmente uma mentira), no entanto, sem dúvidas, há uma enorme sabedoria escondida por trás de seu visual excêntrico.

Para começo de conversa, o histórico de Vivienne fala por si só. Ao lado de Malcolm McLaren (empresário da banda Sex Pistols), dá para dizer que ela foi a designer que vestiu o punk inglês. A boutique da dupla, nomeada SEX, fez um sucesso estrondoso ao amarrar correntes, alfinetes e tiras de látex a peças banais como camisetas, jaquetas e calças jeans.

Se na época a estilista viveu intensamente a catarse agressiva que o punk representava contra o establishment, hoje seu discurso — e suas roupas, consequentemente — estão muito mais refinadas. “O século 20 foi um erro. Digo isso porque foi lá que tivemos essa ideia estúpida de que ao apagar o passado seríamos capazes de inventar um futuro diferente. Éramos os iconoclastas”, reavalia em entrevista à revista i-D. Não à toa, quando ela realmente se lançou nas passarelas do circuito da moda, suas coleções tinham pouco a ver com o que rolou nas ruas quando tudo começou.

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Campanha da coleção de sapatos de plásticos desenvolvidos por Vivienne para a Melissa. (Melissa/Divulgação)

A coleção Pirate — desenhada em parceria com Malcolm McLaren — recuperava a indumentária da nobreza francesa e a misturava com elementos do dito terceiro mundo. A ideia da dupla, de certa forma, era a de mostrar que para derrotar o sistema era preciso ser mais inteligente do que ele e, para isso, era preciso unir opostos. Trocar a guerra pela alteridade.

A carreira de Vivienne na moda foi muito mais associada a um discurso político anti-conservadorismo que suas roupas evocavam do que de fato as it-peças que bombaram entre as fashionistas que posam para os fotógrafos de street style durante as semanas de moda. Hoje, suas maiores preocupações se dividem entre o meio-ambiente, a luta contra o armamentismo nuclear e os direitos humanos.

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Vivienne durante um protesto pelo meio-ambiente em 2014, em Londres. (Tim P. Whitby/Getty Images)

Assim, seus desfiles — sempre bastante performáticos — procuram desenhar, pelo menos durante os poucos minutos da apresentação, um futuro onde a conexão da humanidade consigo e com a natureza é muito mais saudável e respeitosa. O que se entende como lixo, na passarela da designer (que agora assina suas coleções ao lado de seu marido Andreas Kronthaler) ganha novo significado. Seu olhar único é capaz de olhar para o plástico no oceano, a sujeira das calçadas cosmopolitas e tudo que consideramos “descartável” como objetos estéticos. Colocar tudo isso num desfile de semanas de moda importantes como as de Londres ou Milão é dar ao lixo status de luxo.

Ou seja, Vivienne pode até não bater no peito para se dizer punk, mesmo assim, o seu ímpeto subversivo permanece mais vivo do que nunca. Se a função do rock é desafiar a humanidade, tirar os indivíduos de sua posição de conforto, ela é a maior rockstar que a moda já conheceu. O problema é que, infelizmente, para conseguir entender este tipo de argumento, é preciso ser leitor atento, é preciso estar aberto e, nem sempre, esse é o caso quando se trata do círculo consumista e, convenhamos, muitas vezes mesquinho da moda. Vivienne Westwood não é a estilista mais influente de 2017, mas deveria ser.

http://elle.abril.com.br/moda/vivienne-westwood-deveria-ser-a-estil...

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