Há quase 30 anos, quando ninguém falava em plus size, na Afonso Pena uma loja já vendia tamanhos generosos. Tinha até propaganda na TV e o nome deixava claro o público a ser atingido: "Gorjeans". São décadas de transformações culturais, que podem ser contadas em parte pela história de uma loja que há muito atende quem não está nos padrões.
Com o passar do tempo, como o politicamente correto já não cabia no letreiro, a casa de roupas especiais passou a se chamar "Homem Grande". O marketing também contou . “Os clientes não gostavam do nome, porque gordo quer emagrecer, não gosta de ser gordo”, conta o proprietário, de 67 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.
E não foi só isso que mudou. As mulheres não são mais clientes. Hoje há nas prateleiras apenas peças masculinas e o jeans não é mais o carro-chefe.
A numeração continua de espantar, vai até o 80, mas com a onda fitness, a clientela para a faixa de medidas a partir do 74 também caiu bastante.
Já de cabelos brancos e usando suspensórios, produto ainda vendido na loja, o proprietário diz que as pessoas saíram da condição 80, mas em compensação, o número de gordinhos entre os números 56 e 60 aumentou consideravelmente.
Mas não há dieta ou modismo que acabe com as vendas da antiga Gordjeans. Só em camisas, são300 por mês, com numeração do 6 ao 12 e valores entre R$ 150,00 e R$ 200,00.
Na verdade, são exatos 28 anos de funcionamento. O dono é alfaiate e antes tinha uma confecção pequena. Até que um dia, uma marca de Belo Horizonte trouxe a ideia da numeração especial, ele gostou e logo veio o sucesso. "Não tinha onde comprar esse tipo de roupa aqui em Campo Grande", lembra.
Mas foi só passar um tempo para a primeira decepção com o novo negócio. As roupas começaram a encolher depois da primeira lavagem. Os clientes reclamaram e a parceria com a marca foi desfeita.
Para continuar vendendo o mesmo tipo de produto, ele procurou outros fornecedores e também encarou a produção própria. "Tivemos de refazer toda a clientela de novo, procurar outros fornecedores, com qualidade, naquela época era muito mais difícil", lembra.
Hoje a Homem Grande trabalha com várias marcas diferentes. Também garante que não deixa nenhum gordinho na mão e se precisar de algo maior que 80, é só fazer a encomenda que a loja providencia a confecção.
Os preços são de 20% a 30% mais caros que os de tamanhos convencionais. Mesmo assim, o dono jura que tem muita gente do interior que vem comprar por aqui. "Temos clientes de Dourados, Ponta Porã, Corumbá, porque lá não acham modelos diferentes. Tudo é muito igual, não tem muita variedade".
Ele diz que um dos segredos é respeitar a individualidade. Cada corpo é de um jeito, uns exigem uma manga maior, mais larga, por exemplo, e assim as diferenças vão sendo respeitadas no corte e costura.
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