Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Vogue elege os dez desfiles que vale a pena assistir da temporada de moda digital

Nosso diretor de moda Pedro Sales e a editora de moda Vívian Sotocórno elegem as apresentações mais impactantes das semanas virtuais.

Valentino (Foto: Divulgação)

Backstage Valentino (Foto: Divulgação)


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Foram quatro semanas de moda virtuais (Londres, alta-costura, Paris e Milão masculinos), além de algumas apresentações de cruise, de uma temporada estranha, que revela uma indústria lutando para encontrar seu novo caminho. O futuro próximo dos desfiles provavelmente não será 100% digital, mas a experiência exigiu que as casas testassem novas fórmulas e exercitassem a criatividade após décadas apostando em um mesmo formato de desfile físico. Entre erros e acertos, muitas podem ter passados despercebidas, mas algumas também produziram momentos inesquecíveis. Confira abaixo as dez que vale a pena assistir, eleitas pelo nosso diretor de moda Pedro Sales e a editora de moda Vívian Sotocórno, por ordem de acontecimento (das mais recentes às mais antigas).

VALENTINO (alta-costura)

O gol: Pierpaolo Piccioli traduziu tempos surreais em peças teatrais, em ótimo híbrido entre digital e físico – e nos lembrou que a alta-costura está aí para nos fazer sonhar.

Se a alta-costura é feita para expressar sonhos, Pierpaolo Piccioli soube muito bem como transmiti-los de maneira condizente com o momento surreal que vivemos. Impossibilitado de executar seus bordados e estampas elaborados por conta da pandemia, ele os projetou virtualmente em vestidos completamente brancos, construídos em proporções teatrais. A exibição em clima circense pré-gravada foi combinada a uma transmissão ao vivo diretamente dos estúdios Cinecitta, em Roma, onde cortinas se abriram para revelar em detalhes as peças originais. "Eu não queria sentir as limitações. A alta-costura é feita para emoções, sonhos. Foi super emocional para todos nós estarmos aqui juntos para vencer este desafio. Um momento que nunca esquecerei”, disse o estilista.

Maison Margiela (alta-costura)

O gol: mais do que mostrar uma coleção, é uma oportunidade única de entrar na mente de um estilista.

Depois de exibir apenas uma prévia do vídeo durante a semana oficial de alta-costura digital, John Galliano quebrou os códigos de reclusão que sempre cercaram a Maison Margiela e escancarou os bastidores criativos da grife em quase 1 hora de vídeo, feito em parceria com o fotógrafo britânico Nick Knight, que recebeu acesso total durante dois meses – aqui o mérito é permitir que o espectador mergulhe sem filtros no processo criativo de John Galliano. “Eu percebi que a moda, e a maneira como a criamos e a apresentamos, nunca mais será a mesma. E assim que aceitei essa realidade, fui capaz de abraçar a ideia de que algo novo poderia acontecer”, contou o estilista. É impagável acompanhar as reuniões por Zoom entre toda a equipe, entrar na mente de Galliano e todo o trabalho e técnica envolvido em um único vestido de alta-costura.

GUCCI (resort 2021)

O gol: autenticidade conta mais do que uma superprodução, provou Michele ao expor durante 12 horas de transmissão ao vivo, de maneira bem crua, os bastidores de uma campanha da marca.

A experiência já começou antes do desfile em si: no dia anterior à apresentação, convidados de todo o mundo receberam em casa uma cesta com frutas e legumes de produtores locais. Depois de expor aos convidados os bastidores de um desfile na última apresentação física da grife, na MFW de fevereiro, aqui Alessandro Michele armou uma apresentação ao vivo de 12 horas, que acompanhou todos os bastidores, muitas vezes tediosos, de uma campanha da marca, estrelada pela própria equipe criativa da grife. “Alguém poderia se deliciar com a tecnologia que o trouxe nos bastidores, apenas para perceber que muito do que acontece nas sombras de um desfile de moda é tão torturante quanto assistir as pessoas esperando”, bem resumiu Robin Givhan. "Moda não é apenas o que decidimos mostrar. A ideia de que uma campanha é apenas um pedaço de papel? Não, há outro show dentro do show”, disse Michele.

JACQUEMUS (verão 2021)

O gol: o estilista é mestre em conceber desfiles que causam impacto no Instagram e criou uma imagem de frescor e esperança após meses tão difíceis.

Simon Porte Jacquemus repetiu a fórmula do desfile no campo de lavanda e reuniu (poucos) convidados em meio a um campo de trigo perto de Paris para uma apresentação que foi transmitida ao vivo pelos canais da marca. Ainda que se tenha sido questionado se essa não era justamente a chance do estilista inovar com uma experiência virtual, fato é que a apresentação foi praticamente um acalento para a alma, um vislumbre de que dias melhores - finalmente - estão por vir. Se a ideia era retomar nosso desejo de moda, estrategicamente bem pensado também foi o pré-order virtual disponibilizado no dia seguinte ao show.

PRADA (verão 2021 masculino)

O gol: Miuccia Prada mostrou roupas que dialogam com o mundo de agora, sob a ótica de cinco cineastas.

“As roupas são simples, mas com o conceito de simplicidade como antídoto para complicações desnecessárias”, definiu Miuccia Prada sobre o verão masculino e o resort feminino da Prada, sua última coleção antes de receber Raf Simons como co-diretor criativo, apresentada no formato de vídeos captados por cinco diferentes cineastas em cenários como um teatro vazio e uma fábrica industrial cheia de dutos de metal e medidores de pressão. Enquanto ansiamos pela normalidade de voltar ao trabalho, ela exibiu looks utilitários de náilon que preenchem esse desejo.

DIOR (verão 2021 masculino)

O gol: Kim Jones lembrou que o futuro tem o dever de ser mais representativo ao sair de cena e contar a história da coleção pela voz do artista ganês Amoako Boafo.

Entre apresentações especiais e ultraelaboradas (a casa bateu recorde de quantidade ao exibir três coleções durante esse período: alta-costura, verão masculino e cruise), que incluíram uma reinterpretação do Théâtre de la Mode e um desfile físico sem plateia transmitido ao vivo da Puglia (a marca quis manter seu comprometimento com o desenvolvimento da região) e também valem a pena ser conferidas, foi especial e representativo conferir o verão da Dior Homme, uma colaboração de tirar o fôlego com o artista nascido em Gana Amoako Boafo, através de uma visita ao estúdio de Boafo e uma conversa com ele, ao invés de com o estilista Kim Jones.

HERMÈS (verão 2021 masculino)

O gol: transformar a apresentação para o grande público em algo íntimo ao conduzi-lo pelos bastidores de um desfile.

Ao invés de reproduzir um show em vídeo, a diretora criativa Véronique Nichanian proporcionou um mergulho nos bastidores de um show, que aparece filmado como se fosse uma única tomada, sem edição.

LOEWE (verão 2021 masculino e resort 2021 feminino)

O gol: Jonathan Anderson soube unir virtual e experiência física ao enviar fragmentos da coleção à casa de clientes e da imprensa.

"Marcas se tornaram máquinas de conteúdo. Eu gostaria que as coisas se tornassem mais pessoais”, refletiu o estilista Jonathan Anderson em entrevista à Vogue, depois de apresentar o verão 2021 masculino e o resort feminino da Loewe durante a semana de moda masculina de Paris, que acontece virtualmente e se encerra hoje. Se o presente dos desfiles é digital e à distância, Jonathan é um dos nomes mais animados com as novas possibilidades. Para a Loewe, o estilista britânico repetiu a ideia do show-in-a-box (enviando fragmentos da coleção à casa de clientes e da imprensa), que já havia feito na JW Anderson, mais ainda acrescentou uma programação de atividades online que durou 24 horas, a fim de alcançar pessoas de todo o mundo, em qualquer fuso horário – incluindo performances, conversas e workshops sobre como produzir a bolsa de abacaxi da coleção, por exemplo.

LOUIS VUITTON MASCULINO (verão 2021)

O gol: Capaz de gerar engajamento como poucos, Virgil Abloh provou que a melhor solução muitas vezes é uma combinação entre as apresentações virtuais e físicas.

O vídeo elaborado por Virgil Abloh para a Louis Vuitton (The Adventures of Zoooom with Friends by Virgil Abloh), estrelado por personagens de animação e apresentado durante a semana masculina de Paris, já acumula mais de 3,5 milhões de visualizações no YouTube. O vídeo, no entanto, era apenas um teaser: a coleção completa será exibida em um desfile físico em Xangai no dia 6 de agosto, que viajará para Tóquio e outras cidades antes do final do ano.

CHANEL (alta-costura)

O gol: Sem grandes invencionices na maneira de apresentar a coleção, Virginie Viard passou sua mensagem por meio de suas roupas, ao ir na contramão do que havia criado até então.

Ao longo dos últimos meses, muito se questionou que caminho tomaria a moda pós-pandemia: salvas todas as transformações necessárias e já discutidas, nosso desejo seria celebrar que sobrevivemos com uma moda mais extravagante, como aconteceu nos pós-Guerras, ou valorizaríamos itens mais essenciais e atemporais, para comprar agora e usar para sempre? No que depender de Virginie Viard, há espaço sim para a opulência: após destacar justamente a simplicidade na última coleção de alta-costura pré-Covid da Chanel, apresentada em janeiro, ela surpreendeu ao tomar o rumo contrário - e deixa o confinamento com um otimista maximalismo, que, diferentemente das coleções apresentadas por ela até então, mais lembra Karl do que Gabrielle.

Bônus: Balmain (alta costura)

Ainda que não tenha sido transmitido ao vivo, foi inesquecível também a apresentação de alta-costura (na véspera do início oficial da semana online da couture) armada pelo estilista Olivier Rousteing em uma barco pelo Sena, que celebrou o 75º aniversário da marca. 21 modelos desfilaram peças icônicas dos arquivos da grife ao som da cantora francesa Yseult, que transmitiu todo o amor de Olivier pela moda.

https://vogue.globo.com/moda/noticia/2020/07/vogue-elege-os-dez-des...

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