Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Vozes do Agro: Pandemia expõe gargalos na logística marítima internacional

Falta de chuvas afeta plantação de algodão na Bahia

Pandemia expõe gargalos na logística marítima internacional 
 
Setor cotonicultor apresentou sugestões ao governo federal para desenvolver a indústria portuária no Brasil 
 
JÚLIO CÉZAR BUSATO* 
 
O reaquecimento da demanda mundial - resultado dos pacotes de resgate de diversos governos e da vacinação em massa - é, sem dúvida, uma excelente notícia para a economia global. Por outro lado, traz problemas conjunturais e expõe gargalos estruturais na logística internacional de trânsito de mercadorias. 
 
O que vemos, hoje, é uma escassez de contêineres, com escalada sem precedente nos custos dos fretes e enormes filas em portos ao redor do planeta, comprometendo o fluxo de importações e exportações. O atual cenário marítimo-portuário impõe desafios ao agronegócio brasileiro, de uma forma geral, e à cotonicultura em particular. 
 
Além do aumento do valor dos contêineres do Brasil para os mercados asiáticos, principal destino do algodão brasileiro, são constantes as rolagens de datas de embarque e o cancelamento de bookings. Só saberemos o custo exato desta situação para a cadeia do algodão no final da safra. 
 
Até o momento, segundo estimativas da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), de 50 a 100 mil toneladas que seriam embarcadas no segundo semestre de 2021 foram transferidas para o primeiro semestre de 2022. O atraso nos embarques implica em custos adicionais de financiamento, armazenagem, seguro, etc. 
 
Na prática, a média diária de embarques em outubro foi cerca de 20% inferior á registrada no mesmo período em 2020. O volume equivale ao recuo da produção na safra 20/21, que totalizou 2,32 milhões de toneladas contra 3 milhões de toneladas no ciclo anterior. As tradings que já tinham frete contratado estão conseguindo escoar um volume importante e acreditamos que todo o algodão comercializado será efetivamente embarcado, ainda que em um prazo maior. 
 
A escassez mundial de contêineres e navios não é um problema novo e resulta, principalmente, da alta concentração das empresas marítimas. A pandemia de Covid-19 potencializou e expôs o gargalo logístico internacional, com descompasso entre oferta e demanda e natural priorização de rotas mais atraentes, como Ásia, Estados Unidos e Europa. As necessárias medidas sanitárias contra a Covid-19 contribuíram para o agravamento da situação – exemplo disso é o fechamento parcial dos portos chineses de Yantian Ningbo-Zhousha, devido a casos de covid entre os trabalhadores portuários. 
 
Sem dúvida passamos por momentos piores, quando, no auge da pandemia, não tínhamos para quem exportar. Se hoje nos confrontamos com alguma dificuldade logística, é porque conquistamos o posto de segundo maior exportador de algodão do planeta, graças ao comprometimento dos cotonicultores brasileiros com qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade e nossos esforços de promoção da pluma brasileira no exterior. 
 
O pior já passou e superaremos mais este desafio. O quadro conjuntural, no entanto, reaviva o debate sobre a necessidade de medidas estruturais que assegurem a competitividade do agro brasileiro e nossa participação no comércio global. Nesse sentido o setor, representado pelo Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), apresentou algumas sugestões ao governo federal, tais como aplicar as ferramentas da Lei dos Portos e aprovar Projeto de Lei de incentivo à navegação de cabotagem; equilibrar melhor o crescimento da agropecuária com a oferta de terminais ao longo da costa brasileira e com adequada estrutura de transporte interno; desenvolver a indústria portuária no Brasil e investir em portos para receber navios de grande porte. Ainda que não seja possível prever ou evitar novas crises, tais ações amenizariam os impactos de um novo colapso do transporte marítimo global na economia nacional.
 
*Júlio Cézar Busato é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
 
 

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