Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Confesso: ainda mantenho certa resistência em relação à wearable technology, às vezes cultivo a crença de que a tecnologia é fria e incapaz de atender aos apelos/desejos emocionais do vestir, embora saiba que tudo isso se trata de um mito. Assim como sei e reconheço que o wearable technology pode oferecer uma experiência estética altamente emocional e interessante – muitas vezes, única!

Racionalidades à parte, (sensível e intuitivamente) a moda em seu aspecto mais artesanal me parece mais calorosa, capaz de oferecer aconchego e proximidade. Contrariando minhas verdades nem sempre conscientes (e as quais vigio constantemente, sob pena de me deixar cegar), outro dia fui gratamente surpreendida por uma matéria sobre wearable technology que retrata a produção tecnológica da designer-artista-estilista canadense Ying Gao. Gao desenvolve um trabalho high tech intensamente delicado, bastante lúdico e de extrema fineza artística, cujo resultado é tocante!

Na coleção where (Now)here, Gao explorou os conceitos de ausência e evanescência e se inspirou no ensaio “A Estética do Desaparecimento” (1979), de Paul Virilio, para compor vestidos em organza (arquitetonicamente modelados), que possuem fios fotoluminosos que utilizam a tecnologia do rastreamento ocular, e se movem diante de um espectador – quanto mais alguém olha para as roupas, mais elas se mexem.

(no)where(now)here : 2 gaze-activated dresses by ying gao from ying gao on Vimeo.

Além da ideia de presença e desaparecimento, dada pela necessidade e incerteza do olhar do outro, Gao trabalha a noção de percepção/interatividade a partir da estimulação dos sentidos, que são apanhados pelas impressões externas motivadas pela roupa – condiçãosine qua nom para que a moda possa efetivar seu propósito.

Ao pesquisar o trabalho da estilista, encantei-me ao descobrir uma produção instigante, que revela além de extremo cuidado estético, acurada preocupação reflexiva – presentificada nos conceitos, materiais, shapes, configurações dos trabalhos-obras.

Alguns dos trabalhos desenvolvidos por Ying Gao/ Reprodução


As peças desenvolvidas por Ying Gao incorporam funções práticas, mas, e especialmente, possuem também uma agenda crítica. Uma crítica social perpassa de modo contundente o projeto estilístico da estilista, que se desdobra sobre questões como o corpo, a relação homem-meio ambiente, o sistema da moda (notadamente, o fast fashion), o processo criativo. Moda em toda a sua densidade/potencialidade ética, estética, poética e política.


Por Clícia Machado
Consultora da Federação das indústrias de MG

http://www.audaces.com/br/Criacao/Falando-de-Criacao/2013/9/13/wear...

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