Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Por Carol Beltran
Coordenadora de produção e docente de moda visual merchandising

Uma das melhores formas de entendermos como funciona o mercado de moda e que rumo seguir é conversando com um profissional da área. Com esse objetivo, entrevistamos Welton Fernando Zonatti, bacharel e mestre em Têxtil e Moda pela USP e doutorando em Sustentabilidade pela mesma instituição. Atualmente, além de consultor e designer, ele é professor e pesquisador na área de materiais e processos voltados à reciclagem na indústria têxtil e de confecção.


Welton Fernando Zonatti

Como você decidiu ingressar na área de Têxtil e Moda?
Welton Zonatti - Quando ingressei na USP, em 2005, buscava um curso que me fornecesse ferramentas para trabalhar com criação. Sempre desenhei desde criança e achava que trabalharia exclusivamente com isso por toda vida. Felizmente, depois de formado, trabalhei em diversas áreas do setor têxtil e de moda, como comunicação, criação, pesquisa e docência.

Você atuou como estilista e também na área acadêmica, como foram essas experiências?
WZ - Inicialmente, trabalhei com comunicação de moda, na área de assessoria de imprensa. Entrei para trabalhar com produção de moda e, por escrever bem, acabei sendo realocado na área de comunicação propriamente, produzindo pautas para diferentes veículos da mídia. Depois, trabalhei também como estilista no segmento de surfwear e no segmento de moda festa, notadamente experiências e públicos bem diferentes. Nessa área de criação, lidava com a criação das peças; no primeiro caso, fazíamos várias peças por dia em sistemas computadorizados, focando num público jovem e masculino e, no segundo caso, criava peças exclusivas para os clientes conforme o gosto deles, em sua maioria mulheres mais maduras. Também leciono desde 2009 na área de tecnologia têxtil, mas só depois de um tempo fui me dedicar só a essa profissão, me aprofundando na pesquisa acadêmica e participando de diversos congressos na área. Atualmente, leciono e pesquiso tópicos relacionados ao têxtil, design de moda, geração de resíduos têxteis, reciclagem têxtil e sustentabilidade.

Dentre as suas pesquisas na área de resíduos, como é o descarte na indústria têxtil e de confecção?
WZ - É sabido que o bairro do Bom Retiro e o bairro do Brás, ambos situados na capital paulista, são grandes polos confeccionistas e geradores de empregos diretos. Juntos, segundo dados pesquisados, geram, aproximadamente, 25 toneladas por dia de resíduos oriundos dos cortes dos enfestos das peças, sem contabilizar os resíduos produzidos nas indústrias (que conseguem, em alguns casos, reciclar seus desperdícios dentro do próprio processo) e os resíduos provenientes do pós-consumo (ou seja, peças de vestuário descartadas em mau estado ou descartadas simplesmente porque estão “fora de moda” pelos usuários). Nesse sentido, no setor têxtil e de vestuário, não existe uma logística reversa fortemente estabelecida a fim de minimizar os impactos ambientais que esses resíduos todos possam causar. Faltam estímulos tributários para as indústrias comprarem maquinários de reciclagem, faltam leis que desonerem os tributos pagos sobre produtos feitos com matérias-primas recicladas ou reutilizadas, faltam campanhas com postos de coletas de têxteis para serem posteriormente doados ou reciclados, bem como falta uma consciência maior por parte dos próprios empresários do setor, que misturam os resíduos têxteis de suas confecções com diversos tipos de material, dificultando sua separação e futura reciclagem. 

Como é a Política de Nacional de Resíduos Sólidos?
WZ - Instituída em 2010, a Lei Federal nº 12.305 dá diretrizes sobre os resíduos sólidos de todos os tipos, ou seja, entre outras providências, aponta como deve ser feita sua melhor destinação – incentivando, inclusive a reciclagem, além de compartilhar as responsabilidades sobre a destinação desses resíduos com todos os envolvidos – setor público, produtores e consumidor final. Além disso, inova em inserir os catadores de materiais recicláveis como personagens importantes no que diz respeito à coleta desses materiais, separação e possível futura reciclagem, visando diminuir o volume de lixo depositado em aterros sanitários.

Qual a solução para esses resíduos?
WZ - Não existe uma solução simples, mas atitudes que melhorariam esse problema. Devemos pensar na reciclagem de resíduos têxteis como uma última alternativa em relação a essa problemática. Primeiramente, as indústrias e os confeccionistas devem se conscientizar sobre os desperdícios de matérias-primas que ocorrem na produção, muitas vezes não considerados porque seus custos são embutidos no valor final do produto ao consumidor. Os produtores devem modernizar suas linhas de produção para que gerem menos impactos ambientais de um modo geral (maior economia de energia e água, por exemplo). Além disso, para as indústrias, seria interessante ter um setor interno de reciclagem, mas ainda é muito oneroso para elas. Para os confeccionistas, a ideia seria implantar sistemas computadorizados de encaixe dos moldes das roupas, minimizando os restos de tecido dos cortes dos enfestos, além de tentar separar, previamente, os restos que sobrarem por cor e/ou composição, visando otimizar a etapa de separação de materiais quando se trata de uma futura reciclagem. Em relação ao poder público, deve haver um maior incentivo fiscal para as empresas reciclarem e utilizarem matérias-primas de reuso ou recicladas, estimulando esse segmento. E, finalmente, em relação ao consumidor final, ele deve ter uma maior consciência sobre os produtos que adquire, analisando a procedência do mesmo e realizando uma auto reflexão sobre a necessidade de  mais uma peça de roupa. Além disso, o consumidor final tem a possibilidade de customizar suas peças e modificá-las sempre, sem haver a necessidade de comprar uma nova a cada estação, bem como há também a possibilidade de comprá-las em brechós ou mesmo de trocar roupas em bazares ou em grupos de troca de produtos. 

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