Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Tadashi Yanai entra na sala e estende a mão. O homem mais rico do Japão, com uma fortuna de US$ 15,5 bilhões segundo o mais recente cálculo da "Forbes", sem dúvida não é o mais alto. Magro e de aparência frágil, com cabelos grisalhos assustadoramente curtos, típicos de sacerdote, o fundador da cadeia de artigos do vestuário Uniqlo não pode ter muito mais do que 1,60 m de altura.

Jerome Favre/Bloomberg / Jerome Favre/BloombergTadashi Yanai, dono da Uniqlo, tem 64 anos e uma aparência frágil, mas é um dos empresários mais determinados do Japão: "Eu não sou extraordinário. Não fui talhado para ganhar todo esse dinheiro"

Apesar disso, há uma dureza, quase um pugilista, nele. Embora tenha 64 anos - ou, talvez, porque tem 64 -, é um dos empresários mais determinados do Japão. Sua holding, Fast Retailing, da qual a Uniqlo é a marca mais famosa, trabalha para dominar o mundo, ou pelo menos a ultrapassar suas três maiores concorrentes: Inditex (dona da Zara e maior varejista de moda do mundo), H&M e Gap.

A Fast Retailing, que opera mais de 1 mil lojas em 14 países, fatura anualmente mais de US$ 10 bilhões [Zara tem 1.770 lojas em 86 países]. Uniqlo está abrindo um novo ponto de venda por semana e vai entrar na Alemanha e na Austrália na próxima primavera (no Hemisfério Norte), com lojas em Berlim e Melbourne.

Yanai começa a trabalhar às sete da manhã e gosta de estar em casa às quatro para passar mais tempo com sua mulher e praticar golfe - a empresa inteira antecipou o horário de funcionamento.

"Basta olhar para seu rosto e posso dizer que você é inglês", diz Yanai. "Há algo de inglês em você". Ele está quase recostado em sua cadeira e, quando fala, sua boca move-se pouco, como se fosse um ventríloquo sem o boneco. Seu rosto é sério, embora sob a superfície haja um traço de divertimento.

Japoneses são semelhantes aos britânicos? Yanai fala das diferenças. "Temo que os japoneses tendam à histeria coletiva". O que quer dizer com histeria coletiva? "Veja a história", responde, descrevendo como o Japão, após 300 anos de isolamento, irrompeu no mundo ao final do século XIX, derrotando primeiro, em 1895, a China e, em seguida, em 1905, a Rússia, em guerras. "O Japão tinha uma convicção íntima: podemos conseguir isso, podemos mudar o mundo, podemos até caminhar sobre a água", diz, sobre a arrogância que levou à destruição da pretendida dominação asiática.

Ele nasceu em 1949 na cidade mineira de Ube, na Prefeitura de Yamaguchi, onde seus pais tinham uma loja de roupas ocidentais. Yanai compara Ube com o indômito vilarejo mineiro de Welsh em "How Green Was My Valley", de John Ford, um filme sobre espoliação ambiental e social.

"Naquela época, o Japão ainda era um país ocupado. O país ainda era muito pobre. Meus pais tinham uma loja no primeiro andar e nós vivíamos no segundo". Chocolate e café eram sonhos de consumo, diz.

Quando uma mina foi fechada, seus amigos de escola mudaram-se com suas famílias. "Na minha infância, aprendi que todos os empreendimentos têm um prazo de validade. Tudo chega a um fim".

Ele quis escapar? "Eu sabia que havia uma certa expectativa de meu pai". Como o único filho, caberia a ele assumir os negócios da família. Mas ele também queria se tornar um "assalariado", funcionário de terno e gravata em uma grande empresa japonesa.

Yanai estudou economia e política na prestigiada Universidade Waseda, em Tóquio, onde, diz ele, dedicou grande parte de seu tempo a jogar mah-jong e pachinko, este último um jogo viciante em que apostadores alimentam máquinas barulhentas com bolas de metal. Ouvia jazz e estava "imerso na cultura americana". Era o final dos anos 1960 e os protestos estudantis, contra a guerra no Vietnã e a subserviência do Japão aos EUA, paralisaram a universidade durante 18 meses. Yanai aproveitou a oportunidade para viajar ao exterior e acabou no Reino Unido.

"Só se tiver escala você pode continuar vivo ou competitivo [...] já vi muitas indústrias morrendo", diz Yanai

Ficou surpreso ao descobrir que ninguém falava a versão americana do inglês que ele conhecia. "Eu não conseguia entender uma palavra do inglês 'cockney'", diz ele, em meio a gargalhadas.

Após formar-se, em 1971, trabalhou durante breve período para uma cadeia de supermercados, antes de voltar à loja do pai, em Ube. Em 1984, foi nomeado diretor-gerente e abriu a primeira filial da Unique Clothing Warehouse nas vielas secundárias de Hiroshima.

Em vez de vender os ternos prontos em que se especializava a firma do pai, a loja em Hiroshima vendia roupas casuais a preços acessíveis similares às então vendidas pela Giordano, de Hong Kong.

A Uniqlo, contração do nome original, começa a crescer. Em meados dos anos 1990 tinha mais de 100 lojas. Yanai, então, abriu uma loja em Tóquio. Em pouco tempo, emendava um sucesso após outro, como uma jaqueta de pele por US$ 20, comprada, diz-se, por um em cada quatro japoneses.

Yanai experimentou novos materiais, em parceria com fabricantes de ponta do Japão, para reter o calor ou deixar o corpo respirar nos verões escaldantes.

O salto de Ube a Tóquio foi, diz ele, muito maior do que a Uniqlo fez posteriormente de Tóquio para Londres, Nova York, Xangai e Moscou - todas, cidades onde agora opera. "As grandes metrópoles do mundo são mais ou menos iguais", diz. Ainda assim, houve inícios frustrados. Em 2001, a Uniqlo abriu várias lojas em Londres, mas logo fechou a maioria delas, após resultados pífios.

Yanai diz que as novas iniciativas foram prejudicadas devido a padrões negligentes. No Japão, embora os produtos da Uniqlo sejam baratos, os clientes são tratados como reis, os funcionários fazem reverências e a organização das lojas é impecável.

Não foi assim no dia da inauguração em Londres, diz Yanai. "Eu fiquei muito irritado pela forma como o chão estava sujo e como a mercadoria estava empilhada de qualquer maneira", diz. "Eu fiquei furioso". Depois desse insucesso, as coisas têm sido um pouco mais fáceis, à medida que a Uniqlo procurou "glamourizar", com lojas emblemáticas em locais como a 5ª avenida em Nova York.

Yanai estabeleceu uma meta loucamente ambiciosa de quase quintuplicar as vendas, para US$ 50 bilhões, até 2020. Não estaria ele cometendo um clássico erro empresarial japonês, priorizando escala sobre lucratividade?

"Escala, em si mesma, não tem importância", diz. "Mas só se tiver escala você pode continuar vivo ou competitivo. A menos que você tenha escala, poderá ser comprado por alguém ou ir à falência. Lembre-se, já vi muitas indústrias morrendo", diz, lembrando as raízes em Ube.

Pergunto se o modelo da indústria do vestuário é sustentável. Ela depende de mão de obra já não tão mais barata da China, onde é confeccionada a maior parte das roupas da Uniqlo, e de centros de produção novos e em expansão como Bangladesh, onde em abril 1,1 mil operários morrerram soterrados quando uma fábrica desabou.

Será que os consumidores ocidentais não vão querer comprar menos roupas mais bem confeccionadas e produzidas em condições mais humanas? "As pessoas dizem que a globalização tem aspectos negativos, mas não acredito que a globalização seja ruim", diz. "A globalização é criticada de uma perspectiva ocidental, mas se você colocar-se na pele das pessoas no mundo em desenvolvimento, [a globalização] proporciona uma oportunidade sem precedentes". Em Bangladesh, insisto, houve mortes.

Embora roupas da Uniqlo não estivessem sendo produzidas no edifício Rana Plaza, que ruiu, a Fast Retailing reagiu ao evento, aderindo a uma iniciativa, liderada pelos EUA, cuja meta é melhorar as condições nas fábricas.

"Alguns europeus tendem a acreditar que esses operários estão sendo explorados e privados de seus direitos humanos e que, portanto, o que eles precisam é de um sindicato forte", diz ele, repelindo agitadores imaginários. "Mas, em minha opinião, a menos que cada um desses trabalhadores e todas as pessoas em Bangladesh possam ficar sobre seus próprios pés, elas não terão futuro".

Mesmo no Japão, a Uniqlo por vezes é rotulada de "companhia negra" devido à alta, para os padrões japoneses, rotatividade de pessoal - 50% dos novos empregados deixam a empresa em três anos. No Japão, também, a marca tornou-se vítima de sua própria ubiqüidade. Há uma expressão de gíria, "unibare", que significa ser pego vestindo roupas da Uniqlo. Parte da estratégia mundial de Yanai visa refletir uma imagem internacional melhor de seus produtos no mercado doméstico.

No Japão, Yanai é famoso por sua riqueza prodigiosa, nem sempre um elogio, num país onde o dinheiro pode ser algo suspeito. A enorme casa de Yanai no centro de Tóquio tem um minicampo de golfe no jardim. Em entrevista anterior, Yanai disse que não está interessado em dinheiro, embora confesse gostar da ideia de ser o homem mais rico do Japão. Como ele concilia as duas coisas?

"Eu me descreveria como um homem comum", diz. "Eu não sou extraordinário. Não acho que fui talhado para estar ganhando todo esse dinheiro. Há muito tempo, assumi como prioridade ser justo, fazendo algo de bom para a sociedade".

Na vez anterior em que encontrei-me com Yanai, há mais de um ano, ele estava extremamente pessimista em relação ao que considerava como uma cultura empresarial japonesa míope e diante de uma economia que ele via como flutuando em um mar de dívidas.

Está mais otimista? "O que a 'Abenomia' [do primeiro-ministro Shingtaro Abe] conseguiu até agora foi um sucesso", admite. "Mas só isso não será suficiente, a menos que implique reforma estrutural significativa". O Japão precisa liberalizar, desregulamentar e abrir seus mercados à concorrência estrangeira, diz ele, citando o que considera o modelo thatcherista de reforma no Reino Unido. "Se o Japão permanecer isolado e protegido", diz, com determinação, "irá tornar-se uma segunda Grécia ou uma terceira Portugal". Yanai levanta-se para sair. Despede-se e vai embora. (Tradução de Sérgio Blum)

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Será que os consumidores ocidentais não vão querer comprar menos roupas mais bem confeccionadas e produzidas em condições mais humanas? "As pessoas dizem que a globalização tem aspectos negativos, mas não acredito que a globalização seja ruim"

"Só se tiver escala você pode continuar vivo ou competitivo.

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