O Banco Popular da China (BPC) anunciou a 11 de agosto uma «correção única» de 1,9% do valor do yuan em relação ao dólar americano, enfraquecendo-o em 1.136 pontos base. Este foi o valor mais baixo desde 25 de abril de 2013, de acordo com o China Foreign Exchange Trading System.
Esta iniciativa tem como objetivo embaratecer os produtos chineses no mercado global, tornando-os, portanto, mais competitivos nos mercados internacionais, despoletando, posteriormente, o aumento das exportações e estimulação da economia nacional. No entanto, tem sido amplamente visto como uma desvalorização, alimentando preocupações sobre a potencial desaceleração da segunda maior economia mundial.
Declínio das exportações
Os dados económicos recentes denotam um declínio das exportações chinesas, com os valores a diminuírem 8,3% em julho, em comparação anual. Isso ocorreu apesar da projeção de desaceleração de 1%.
A produção industrial subiu 6% em julho, em comparação com o ano anterior, defraudando as expectativas face ao aumento antecipado e fixando-se aquém de um crescimento de 6,8% registado em junho.
Para a indústria têxtil e vestuário chinesa, em particular, o valor das exportações caiu 10,2% em julho, para 27,25 mil milhões de dólares em comparação anual, de acordo com dados alfandegários. Para o período de janeiro a julho, o valor caiu 4,4%, fixando-se em 155,63 mil milhões de dólares.
A empresa de consultoria CCFGroup, especializada no mercado chinês, acredita que a depreciação da taxa de paridade central do yuan irá, provavelmente, colocar as exportações e a economia sob pressão. «Se o yuan continua a depreciar e o dólar mantém o seu dinamismo, a depreciação poderá ser ainda mais ampliada. Portanto, as exportações de têxteis e vestuário da China poderão continuar a deslizar», revela.
O BPC agiu de forma a acalmar os receios dos mercados financeiros, que temem uma depreciação após temores de uma «guerra cambial global» e acusações de que o país estará a apoiar injustamente os seus exportadores.
Em comunicado, o Banco Central afirmou que «observando a situação económica nacional e internacional, atualmente não há nenhuma base para uma tendência de depreciação sustentada do yuan», acrescentando que «o crescimento económico da China é relativamente alto. No primeiro semestre deste ano, [apesar de] um ambiente doméstico e internacional complexo, a nossa economia cresceu ainda 7%, mantendo uma elevada taxa de crescimento».
Desafio de preço
No entanto, para as grandes marcas e retalhistas estrangeiros, o CCFGroup acredita que os compradores irão, provavelmente, deprimir os preços de exportação. «Os compradores estrangeiros poderão considerar uma desvalorização acrescida de forma a evitar riscos», explica a empresa de consultoria. «A China enfrenta forte concorrência na maioria dos produtos de exportação e ocupa uma posição fraca no respeitante aos preços. A desvalorização de curto-prazo terá um impacto negativo sobre os preços, ao invés de os apoiar. Segundo algumas fontes, alguns clientes irão pedir um re-apreçamento dos acordos estabelecidos».
As entidades do segmento de luxo global, no entanto, serão as mais duramente atingidas, considerando que determinados produtos se poderão tornar mais caros e difíceis de vender entre os consumidores chineses.
Fflur Roberts, diretora de produtos de luxo do Euromonitor International, observa que as últimas questões monetárias «poderão ampliar ainda mais a diferenciação de preços dos artigos de luxo entre a Ásia e a Europa – já temos a questão dos direitos de importação, bem como o imposto de luxo adicional que é aplicado a estes produtos –, particularmente em mercados como a China».
A volatilidade da moeda global está, também, a alimentar o denominado “mercado cinza” – uma forma de atividade de contrabando, que ocorre, na maior parte, entre a China e a Europa Ocidental –, forçando diversas marcas internacionais a ajustar os preços em determinados mercados-chave. «Um franco suíço afluente, um euro debilitado, um dólar americano e uma libra esterlina fortes – estas são algumas das pressões cambiais externas que estão a coagir os fabricantes de bens de luxo europeus, como Burberry, Richemont, Kering, Prada e LVMH, a revisitarem as suas estratégias de preço globais. É, sem dúvida, o maior desafio para a indústria de bens de luxo, neste momento particular», apontou Roberts.
«O problema é os diferenciais de preços crescentes entre a Europa Ocidental e a China. Em alguns casos, o custo da mesma marca de luxo é, atualmente, 50% maior na China do que na Europa Ocidental. Inevitavelmente, tal disparidade de preços tem incentivado oportunistas a adquirirem itens populares em território europeu, em grandes quantidades, revendendo-os na China, aquém dos preços de retalho formais», prosseguiu.
«É uma rota de comércio notoriamente difícil de controlar, mas alguns especialistas do sector acreditam que até 40% do atual consumo de bens de luxo na China é agora proveniente do mercado cinza (a maioria dos especialistas acreditam que alimenta, pelo menos, 20%). O que nós sabemos, com certeza, é que o mercado cinza está a crescer, forçando os proprietários de marcas de luxo a tomar medidas radicais para reduzir os diferenciais. Na prática, isto significa que eles estão a elevar os preços nas cidades europeias principais, reduzindo-os na China, mas devido aos recentes problemas cambiais, isto poderá já não ser possível para as marcas internacionais», explicou.
Entre os retalhistas mais expostos aos problemas vividos na China incluem-se a marca Coach, a canadiana Hudson Bay e os grandes armazéns americanos Macy’s, segundo a firma Cowen & Co. «Temos a preocupação de que um yuan mais fraco poderá pesar sobre os gastos dos turistas estrangeiros e agravar a situação dos mais expostos», revela Oliver Chen.
Marshall Gittler, diretor de estratégia global da IronFX Global, considera que «a atitude da China é muito negativa para as moedas dos países que vendem para a China e aqueles que competem com ela em países terceiros. Estes incluem a Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Japão e outros países asiáticos. O yuan mais fraco poderá, também, dificultar a vida da zona euro».
O comércio total da União Europeia com a China alcançou os 638 mil milhões de dólares em 2014, inferior ao comércio com os EUA, cujo valor se fixou em 655 mil milhões de dólares.
À semelhança do mercado de luxo, outros retalhistas, como Nike, VF Corp., Ralph Lauren e PVH Corp., apresentam, também, diferentes graus de exposição à crise chinesa e à desvalorização recente. Esta questão, refere o analista John Cowen Kernan, coloca «pressão transacional e translacional» simultânea nos negócios caracterizados por margens elevadas, sediados na região Ásia-Pacífico.
No entanto, o Fundo Monetário Internacional aprovou a iniciativa da China, explicando que uma maior flexibilidade da taxa de câmbio é importante para o país, uma vez que «procura dar às forças de mercado um papel decisivo na economia» e está a «integrar-se rapidamente nos mercados financeiros globais».
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