Falar sobre homens pretos é falar sobre revolução e lembrar nomes como Martin Luther King e Nelson Mandela', diz Patrick Fortuna, da marca Mão de Mãe.
Campanha da marca Dod Alfaiataria — Foto: Divulgação
Resgatar as raízes do estilo masculino negro na diáspora: esse é o tema do próximo Met Gala, tradicional evento de gala do Metropolitan, que acontecerá no dia 5 de maio de 2025. A exposição que acompanhará, chamada “Superfine: Tailoring Black Style”, trará ao museu um grande painel do dândi negro. Expert em macrotendências, Iza Dezon adorou a abordagem. “Atualmente, há diversas manifestações de masculinidades negras, e esse dandismo se mistura a regiões e também ao lifestyle”, analisa. O stylist e comunicador de moda Dudu Bertholini destaca a importância de se colocar o homem preto na ribalta. “Espero ver um protagonismo preto no red carpet e que as pessoas tenham cuidado extra com apropriações culturais.”
O estilista Washington Carvalho da marca Inttui — Foto: Rodrigo Ladeira
O estilista Washington Carvalho da marca Inttui — Foto: Rodrigo Ladeira
Por aqui, a inspiração no dandismo negro também se faz presente e ganha tempero tropical. Marcas como Dod Alfaiataria, Ateliê Mão de Mãe e Inttui dão viés político e ancestral em coleções que transitam pelo passado de olho no futuro. “Quero ser reconhecido como o cara que reinventou esse lance da elegância”, diz o paulistano Jubba Sam, de 51 anos, fundador da Dod Alfaiataria, cujo nome é a abreviação das expressões “dapper (bem vestido) or dandy”.
Jubba frisa que o Met Gala só fará sentido se impactar na quantidade de pessoas pretas que estarão no baile. No dia a dia da Dod Alfaiataria, essa troca já acontece. “Viramos referência para músicos que são a nossa referência”, comemora. A “não tradicional” alfaiataria criada pelo skatista é traduzida em calças com shape mais largo e partes de cima “quadradas”. “Para atender a corpos diversos.”
Patrick Fortuna da marca Mão de Mãe — Foto: Leandro Lima
Já o estilista baiano Patrick Fortuna, de 38 anos, do Ateliê Mão de Mãe, exalta o tema do baile do Met. “Eu como homem preto me sinto extremamente lisonjeado. Falar sobre homens pretos é falar sobre revolução e lembrar nomes como Martin Luther King e Nelson Mandela”, analisa. “Ver que essa história está sendo contada no tapete vermelho é muito gratificante e nos empodera para que possamos ocupar, cada vez mais, espaços que nos foram negados. Será um marco, icônico”, opina, citando ainda o peso dos coanfitriões do evento: “Pharrell Williams, Lewis Hamilton e A$AP Rocky, entre outros”. Com uma rede de 80 crocheteiras, o propósito da etiqueta é valorizar o artesanal e trazer à tona a cultura preta. “A coleção de verão 2025 vem cheia de potência e carregada de simbologia. É inspirada nas Ìyàmi, orixás que representam o ancestral feminino”, explica o estilista.
Para o stylist Rogério S., que se dedica há 30 anos à moda masculina, alguns nomes precisam ser lembrados. “Considero o Luiz de Freitas o primeiro dândi da moda brasileira. O cantor Gilberto Gil também carrega essa elegância, assim como o estilista Luiz Cláudio Silva, da Apartamento 03”, lista. Luiz de Freitas lembra como se apropriou da estética nas décadas de 1980 e 1990: “Usei minha moda para emprestar liberdade e autoestima ao homem negro, tão neglicenciado. Abracei o dandismo, mas acrescentei fantasia a esse movimento para dar autenticidade.”
Diretor criativo da marca Inttui, o baiano de Feira de Santana Washington Carvalho, de 26 anos, acredita que a tendência foi, primeiramente, uma fuga. “Mas tornou-se personalidade”, frisa. Na sua etiqueta agênero, criada há quatro anos, ele sugere uma alfaiataria desconstruída. “Com materiais como linho, adequados ao nosso clima. A calça tem cintura alta. A modelagem está no DNA da minha marca, que fala sobre intuição”, conta.
De acordo com Monica Miller, professora e presidente de estudos africanos no Barnard College, da Universidade Columbia (a exposição do Met, “Superfine: Tailoring Black Style”, é inspirada no seu livro “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”), “o dandismo negro foi uma ferramenta para repensar a identidade”. Vale lembrar que o movimento dândi, que eclodiu no século XVIII, foi, além de estilo de vida, uma forma de contestação do sistema indumentário daquela época, indo contra o traje masculino da burguesia. Na moda, isso se refletia em homens com lenços amarrados no pescoço, gravatas de musseline e modelagem mais ajustada. O stylist Rogério S. pontua a renovação do estilo através do tempo. “Os dandies do Congo, conhecidos como sapeurs, inseriram a as cores vibrantes. Essa liberdade faz toda diferença.”
Met Gala, que terá dandismo negro como tema, inspira estilistas brasileiros, que refletem sobre suas versões tropicais
por Romildo de Paula Leite
12 horas atrás
Falar sobre homens pretos é falar sobre revolução e lembrar nomes como Martin Luther King e Nelson Mandela', diz Patrick Fortuna, da marca Mão de Mãe.
Campanha da marca Dod Alfaiataria — Foto: Divulgação
Resgatar as raízes do estilo masculino negro na diáspora: esse é o tema do próximo Met Gala, tradicional evento de gala do Metropolitan, que acontecerá no dia 5 de maio de 2025. A exposição que acompanhará, chamada “Superfine: Tailoring Black Style”, trará ao museu um grande painel do dândi negro. Expert em macrotendências, Iza Dezon adorou a abordagem. “Atualmente, há diversas manifestações de masculinidades negras, e esse dandismo se mistura a regiões e também ao lifestyle”, analisa. O stylist e comunicador de moda Dudu Bertholini destaca a importância de se colocar o homem preto na ribalta. “Espero ver um protagonismo preto no red carpet e que as pessoas tenham cuidado extra com apropriações culturais.”
O estilista Washington Carvalho da marca Inttui — Foto: Rodrigo Ladeira
Por aqui, a inspiração no dandismo negro também se faz presente e ganha tempero tropical. Marcas como Dod Alfaiataria, Ateliê Mão de Mãe e Inttui dão viés político e ancestral em coleções que transitam pelo passado de olho no futuro. “Quero ser reconhecido como o cara que reinventou esse lance da elegância”, diz o paulistano Jubba Sam, de 51 anos, fundador da Dod Alfaiataria, cujo nome é a abreviação das expressões “dapper (bem vestido) or dandy”.
Jubba frisa que o Met Gala só fará sentido se impactar na quantidade de pessoas pretas que estarão no baile. No dia a dia da Dod Alfaiataria, essa troca já acontece. “Viramos referência para músicos que são a nossa referência”, comemora. A “não tradicional” alfaiataria criada pelo skatista é traduzida em calças com shape mais largo e partes de cima “quadradas”. “Para atender a corpos diversos.”
Já o estilista baiano Patrick Fortuna, de 38 anos, do Ateliê Mão de Mãe, exalta o tema do baile do Met. “Eu como homem preto me sinto extremamente lisonjeado. Falar sobre homens pretos é falar sobre revolução e lembrar nomes como Martin Luther King e Nelson Mandela”, analisa. “Ver que essa história está sendo contada no tapete vermelho é muito gratificante e nos empodera para que possamos ocupar, cada vez mais, espaços que nos foram negados. Será um marco, icônico”, opina, citando ainda o peso dos coanfitriões do evento: “Pharrell Williams, Lewis Hamilton e A$AP Rocky, entre outros”. Com uma rede de 80 crocheteiras, o propósito da etiqueta é valorizar o artesanal e trazer à tona a cultura preta. “A coleção de verão 2025 vem cheia de potência e carregada de simbologia. É inspirada nas Ìyàmi, orixás que representam o ancestral feminino”, explica o estilista.
Para o stylist Rogério S., que se dedica há 30 anos à moda masculina, alguns nomes precisam ser lembrados. “Considero o Luiz de Freitas o primeiro dândi da moda brasileira. O cantor Gilberto Gil também carrega essa elegância, assim como o estilista Luiz Cláudio Silva, da Apartamento 03”, lista. Luiz de Freitas lembra como se apropriou da estética nas décadas de 1980 e 1990: “Usei minha moda para emprestar liberdade e autoestima ao homem negro, tão neglicenciado. Abracei o dandismo, mas acrescentei fantasia a esse movimento para dar autenticidade.”
Diretor criativo da marca Inttui, o baiano de Feira de Santana Washington Carvalho, de 26 anos, acredita que a tendência foi, primeiramente, uma fuga. “Mas tornou-se personalidade”, frisa. Na sua etiqueta agênero, criada há quatro anos, ele sugere uma alfaiataria desconstruída. “Com materiais como linho, adequados ao nosso clima. A calça tem cintura alta. A modelagem está no DNA da minha marca, que fala sobre intuição”, conta.
De acordo com Monica Miller, professora e presidente de estudos africanos no Barnard College, da Universidade Columbia (a exposição do Met, “Superfine: Tailoring Black Style”, é inspirada no seu livro “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”), “o dandismo negro foi uma ferramenta para repensar a identidade”. Vale lembrar que o movimento dândi, que eclodiu no século XVIII, foi, além de estilo de vida, uma forma de contestação do sistema indumentário daquela época, indo contra o traje masculino da burguesia. Na moda, isso se refletia em homens com lenços amarrados no pescoço, gravatas de musseline e modelagem mais ajustada. O stylist Rogério S. pontua a renovação do estilo através do tempo. “Os dandies do Congo, conhecidos como sapeurs, inseriram a as cores vibrantes. Essa liberdade faz toda diferença.”
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Marcia Disitzer https://oglobo.globo.com/ela/moda/noticia/2024/11/20/met-gala-que-t... Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI