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Reciclagem têxtil à lupa

A Escola de Engenharia da Universidade de Birmingham analisou a reciclagem de têxteis e assinalou as dificuldades, mas também oportunidades, tanto do lado dos processos como do consumo.

[©University of Birmingham]

A investigação, liderada por Omid Doustdar, professor assistente de Engenharia Mecânica, foi recentemente publicada na revista científica Sage Publications com o título Textile Recycling and Recovery: An Eco-friendly Perspective on Textile and Garment Industries Challenges.

O estudo fornece uma análise aprofundada das tecnologias e métodos disponíveis para a recuperação e reciclagem de resíduos têxteis, identificando obstáculos significativos como a limitação das tecnologias à escala industrial, problemas de classificação de resíduos e a contaminação causada por misturas químicas nos tecidos.

De acordo com os dados apresentados, estima-se que só em 2023 tenham sido gerados mais de 100 milhões de toneladas de resíduos têxteis. Destes, apenas 1% foi reciclado, enquanto cerca de 90% foi depositado em aterros ou incinerado.

Embora o objetivo ideal seja reciclar 100% dos resíduos da indústria têxtil e da moda, os autores do estudo reconhecem que essa meta continua a ser de difícil concretização e implica custos elevados. A crise de resíduos têxteis é agravada pelo crescimento populacional e pela diminuição do ciclo de vida dos produtos.

Apesar dos avanços tecnológicos, o estudo sublinha a necessidade urgente de sensibilização dos consumidores e do desenvolvimento de processos eficientes de reciclagem da fibra à fibra.

«Esta investigação, liderada pela Universidade de Birmingham, sublinha o nosso compromisso em enfrentar os desafios urgentes da indústria têxtil através da colaboração global. A nossa equipa de investigação está dedicada ao desenvolvimento de soluções inovadoras que transformem os resíduos têxteis em recursos valiosos, reduzam as emissões de carbono e minimizem o impacto ambiental. Estamos entusiasmados por continuar os nossos esforços em reciclagem têxtil sustentável e damos as boas-vindas à colaboração com parceiros internacionais para impulsionar mudanças positivas na indústria», afirmou Omid Doustdar, num podcast onde abordou o estudo.

Reutilizar mais do que reciclar

Nas conclusões do estudo são destacados os fatores que impulsionam o consumo excessivo de têxteis, como o crescimento populacional, a industrialização, os salários reduzidos no setor e a abundância de roupa barata, fenómenos que contribuem para o aumento do envio de têxteis para aterros e do descarte ilegal.

Os investigadores defendem a implementação urgente de um quadro de gestão de resíduos têxteis que integre princípios de sustentabilidade económica e ambiental. Tal sistema permitiria reduzir a pegada de carbono, otimizar a produção de tecidos e diminuir os custos ambientais associados ao descarte.

O estudo recomenda ainda a maximização do uso dos produtos têxteis, promovendo a sua reutilização sempre que possível. A reciclagem deve ser considerada apenas após esgotadas as opções de reutilização. Os métodos mecânicos, como a trituração, são mais económicos, mas podem comprometer a qualidade dos materiais reciclados. Já a reciclagem química, embora mais cara, mantém melhor a qualidade das fibras. Quando o sistema de reciclagem em circuito fechado não é viável, o downcycling para outros setores pode ser uma alternativa aceitável. A recuperação energética deve ser considerada apenas como último recurso. O uso de aterros é, segundo o estudo, uma opção inaceitável.

O documento salienta igualmente a complexidade adicional introduzida pelas misturas de fibras e pela presença de químicos tóxicos, que dificultam a reciclagem e comprometem a compostagem. A falta de consciência dos consumidores e a ausência de incentivos económicos são barreiras significativas. Medidas como os esquemas de Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) podem gerar financiamento e motivação para melhorar as infraestruturas de recolha e reciclagem.

A equipa conclui que, apesar dos desafios, a promoção de práticas sustentáveis na reciclagem de resíduos da moda é essencial. No entanto, para que se atinja a velocidade necessária para cumprir os objetivos globais de sustentabilidade, será necessário recorrer a legislação e alterações na fiscalidade.

https://portugaltextil.com/reciclagem-textil-a-lupa/

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