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A indústria da moda está fora de controle

A cada ano são produzidas globalmente cerca de 80 bilhões de novas peças de roupas, 400% a mais que o consumo no final da década de 70 quando a China abriu sua economia e veio a se tornar nas décadas seguintes na “Fábrica do Mundo”. Com a ajuda da farta mão de obra barata e incentivos fiscais do governo chinês, os tubarões da indústria da moda viram que seus lucros seriam enormes pois não teriam que arcar com as caras leis trabalhistas e ambientais dos países Ocidentais.  Assim nasceu o fast fashion.

Atualmente o mercado global de vestuário está avaliado em 3 trilhões de dólares e é responsável por 2% do Produto Interno Bruto do mundo (PIB). A indústria da moda inclui várias segmentos entre eles moda masculina, feminina, esportiva, infantil etc. O número global de pessoas empregadas no setor têxtil e vestuário é de 59 milhões.  Nas grandes redes varejistas de moda rápida, você pode comprar um biquíni pelo preço de um cappuccino e em Tóquio, os homens podem comprar ternos em uma máquina de venda automática.

A nossa obsessão com a moda rápida e barata tornou as roupas em algo totalmente descartável como papel. No século 21, a indústria da moda está fora de controle e da mesma forma nós estamos. Parte do problema é que vivemos o pico da obsessão com o fast fashion e os consumidores foram mal acostumados a terem a última tendência da moda pagando muito pouco.

As grande redes de varejo lançam 52 “micro-estações” por ano, bem diferente do que foi no passado com dois lançamentos anuais de primavera/verão e outono/inverno. Com as novas tendências que saem a cada semana amplificadas pelas redes sociais, a meta do fast fashion é que os consumidores comprem o máximo de roupas o mais rápido possível.

A indústria da moda está fora de controle stylo urbano 1

Existem muitas marcas de moda pelo mundo mas no final tudo se resume a duas escolhas: fast fashion ou slow fashion.  Mas por que não ter um terceira opção? A seguir vou mostra os prós e contras entre o fast fashion e o slow fashion e como o hybrid fashion poderia de encaixar entre esses dois sistemas de moda.

Fast Fashion (H & M, Forever 21, Zara, Uniqlo, Topshop)

Prós: Grande variedade de roupas e acessórios nas últimas tendências onde você pode encontrar novos itens a cada poucos dias, preços super acessíveis aos consumidores e vendas constantes. Emprega milhões de pessoas em todo mundo nas mais diversas áreas de criação, produção e venda, fatura bilhões de dólares anualmente movimentando as economias dos países.

Contras: A qualidade dos produtos não é a boa pois geralmente são fabricados para durar menos de um ano, ou até mesmo só a temporada. Quando os preços das peças são muito baixos, é porque os trabalhadores foram muito mal pagos para fabricá-las e muitas vezes trabalham em condições deploráveis.  A produção dessas grandes redes é feita em países na Ásia e África sem respeitar leis trabalhistas e ambientais. Uso intensivo de duas fibras poluentes, o algodão e o poliéster comum. Toneladas de roupas que vão parar nos aterros como resultado das inúmeras coleções lançadas anualmente, causando um enorme desperdício de água, matéria prima e energia.

Slow Fashion (Zady, People Tree, Eileen Fisher, Pendleton, Honest By, Patagônia)

Prós: Há poucas peças de cada modelo se não únicos.  Duas coleções por ano. As peças tendem a ser criadas sem seguir tendências específicas para que você possa usá-las ao longo das estações. Elas são feitas com materiais de alta qualidade e técnicas sustentáveis (geralmente de forma artesanal). Utilização de tecidos orgânicos e reciclados seguindo conceito da economia circular. As pessoas envolvidas no trabalho de produção recebem um salário justo e trabalham num ambiente seguro. A fabricação deve ser feita no país se possível. Transparência nos custos e métodos de produção.

Contras: Os preços das peças são mais elevados por causa da quantidade e forma de produção, há poucos itens para escolher na coleção de cada marca, assim você terá que pesquisar outras marcas de slow fashion para achar tudo o que está procurando. Novas linhas ou coleções não são lançadas muito frequentemente. Com seu processo lento de fabricação, o slow fashion emprega muito menos pessoas do que o fast fashion.

Hybrid Fashion (novo sistema)

Prós: Artigos de moda projetados com matéria prima de qualidade e duráveis mas com preços acessíveis. As grades são completas com variedade de cores, estampas e numerações. Criação de roupas atemporais e roupas multiuso. Fabricação local respeitando as leis trabalhistas e ambientais. Utilização de tecnologias sustentáveis para evitar o desperdício de água, energia e produtos químicos. Tecidos e materiais sustentáveis que podem ser facilmente reutilizados seguindo o conceito da economia circular.  Emprega mais pessoas do que uma marca de slow fashion através de produção em média ou grande escala com quatro coleções por ano.

Contras: Os preços das peças são um pouco mais elevados e o número de coleções, produtos e quantidades são menores do que as redes de fast fashion.  Esse sistema também emprega menos pessoas que o fast fashion.

O hybrid fashion ou moda híbrida é uma nova alternativa de consumo de moda ética e sustentável e junto com o slow fashion, seria uma alternativa de consumo melhor do que a moda rápida e descartável.

O fast fashion continua a se expandir globalmente

A indústria do fast-fashion não está mostrando sinal de desaceleração pois as grandes redes internacionais estão planejando um crescimento de 10 a 15 por cento anualmente.  A Forever 21 planeja dobrar o número de lojas em 2016, bem como a implantação da F21 Red, uma nova marca do grupo que é ainda mais barata.  A H & M, por sua vez, planeja se expandir ainda mais a nível internacional através da abertura de mais 425 lojas este ano. E a rede de fast fashion japonesa Uniqlo invadiu o mercado norte-americano com planos de abrir 200 lojas no país até 2020.

Já a Inditex SA, maior varejista de roupas do mundo e dona das marcas Zara, Pull&Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home e Uterqüe freou seus planos de expansão de lojas para aprofundar seu negócio de compras online como uma maneira mais barata para impulsionar o crescimento das vendas. Como podem ver, o fast fashion continua firme e forte para o desespero dos seguidores do slow fashion e pelo jeito vai continuar assim por muito tempo ainda.

A indústria de vestuário vai apostar na robótica

Para se tornar cada vez mais rápida e eficiente, as redes de fast fashion estão de olho nas novas tecnologias em automação e robótica que tem o potencial de expandir ainda mais a produção resolvendo o défice de trabalhadores qualificados, aumentando a produtividade na fabricação de roupas e dando mais velocidade ao mercado.

Existe uma enorme necessidade de automação no setor de vestuário por razões éticas óbvias como a eliminação das acusações de exploração de trabalhadores e também para sanar a falta de costureiras qualificadas que está cada vez mais difícil de encontrar, treinar e reter pois as gerações mais jovens estão desinteressados em trabalhar nas fábricas.

Com a inevitável automatização nas fábricas de fast fashion da China, EUA, Europa e demais países, o slow fashion e o hybrid fashion poderiam ser uma alternativa para empregar parte dos profissionais que forem substituídos por máquinas robóticas. Inicialmente a automatização da produção irá ajudar no crescimento do fast fashion mas com o avanço da tecnologia vestível na moda, a situação pode mudar completamente.

Talvez no futuro, quando os tecidos inteligentes se tornarem acessíveis, poderão surgir roupas multiuso que podem se transformar em looks diferentes ao longo do dia mudando a cor e estampa do tecido automaticamente, tornando sem sentido o consumo desenfreado de roupas descartáveis. O maior aliado da sustentabilidade é a inovação e no futuro, as roupas de tecnologia vestível poderão criar uma forma de consumo mais consciente, tornando o hybrid fashion e o slow fashion a norma na indústria da moda.

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    francisca gomes vieira

    primeiro, vem a saude mental deste trabalhador que prega 2000 elasticos por dia, ele sofre o desgaste maior que a costureira que faz a peça inteira, isto é comprovado em estudos de ergonomia da linha francesa como bem informa os cientistas franceses alain wisner e christophe dejours, pois esta é uma forma mais humana de produção onde o capital nao se apodera alem dos instrumentos de trabalho, tambem do intelecto do trabalhador, que se ele sair da fabrica onde ele so prega elastico, ele tem que ir pra outra onde precisem de pragar elastico, é a teoria do macaco de taylor, operario com musculos e sem cerebro, portanto ele é mal pago, pois ele nao tem capacidade de raciocinar, a que faz a peça inteira ela tem raciocinio proprio, ela é a mao de obra mais cara, até aqui na paraiba que é onde tem um piso salarial mais baixo, uma costureira desta ganha no minimo 20% a mais que esta do elastico, e nas facçoes onde nós mandamos peças para produzir sempre em pequenas uantidades nunca passando de 20 peças se paga 300% mais caro que a peça em quantidade, entao o seu argumento tambem cai por terra, o fast fashion paga mal em toda a cadeia produtiva, o slow fashion paga bem em toda a sua cadeia, do algodao, da seda, da lã, porque poliester e slow fashion sao coisas excludentes, ate porque nos saloes de moda serio de moda sustentavel fora do brasil, o poliester nem entra, pet recilado hoje em dia so é considerado sustentavel aqui no brasil, no primeiro mundo ele é lixo

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    Rafael Carvalho Machado

    Bons pontos, Francisca. Meu objetivo, no entanto, não é discutir sobre saúde mental e ergonomia do trabalho, mas apresentar um contraponto em relação à percepção de que o fast fashion é um problema a ser combatido. Eu volto a afirmar minha posição de que o fast fashion é um modelo de negócio que pode ser usado da moda barata à moda de luxo. Ele simplesmente aplica técnicas de tempo rápido de resposta, desenvolvendo e lançando um produto muito mais rápido que o sistema tradicional de moda.

    Não é imprescindível o "macaco de taylor" para esse modelo funcionar. Esse macaco é fruto da produção em massa! Não foi o fast fashion que criou. Qualquer modelo de produção (seja slow ou seja fast) que implique em altos volumes de produção invariavelmente vai cair no objetivo de eficiência precisar de macacos. Esse mesmo modelo, o de produção em massa, quer se livrar dos macacos. Só não fez ainda na confecção pelas dificuldades técnicas de automação de processos da confecção. Robôs nada mais são que os macacos de taylor, mas sem as "inconveniências" do trabalhador humano.

    O que é imprescindível para o fast fashion é agilidade de desenvolvimento de produtos. Rapidez no desenvolvimento e uma cadeia de fornecimento muito bem gerida. Para isso, precisa-se de informação de produção e comercial e ótimos sistemas logísticos, não os macacos.

    Deixo aqui explícito que não estou defendendo a exploração de mão-de-obra barata. A discussão que proponho é olhar fast/slow fashion como um modelo de redução do risco do negócio da moda. É um modelo para aumentar a velocidade de resposta da empresa, não é seu objetivo principal reduzir os custos. Se fosse assim, teríamos que começar a classificar os atacadistas de moda também como "fast-fashioners exploradores de mão-de-obra" sempre que eles tentam aumentar o tamanho dos lotes e procuram assim meios mais baratos de produzir, concorda?

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    Romildo de Paula Leite

       O maior aliado da sustentabilidade é a inovação e no futuro, as roupas de tecnologia vestível poderão criar uma forma de consumo mais consciente, tornando o hybrid fashion e o slow fashion a norma na indústria da moda.