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Digital não substitui edições físicas das feiras

Durante a pandemia, o digital tornou-se a única opção viável para concretizar vários eventos. Para a indústria têxtil e de vestuário não podia ser diferente, no entanto, os especialistas da área afirmam que este formato tecnológico servirá apenas como complemento e não como um método substituto para as feiras presenciais.

Première Vision [©Première Vision]

Com a indústria paralisada devido ao surto de coronavírus, as feiras foram mais uma dificuldade entre muitas outras, dado que vários fatores contribuíram para a interrupção destes eventos, nomeadamente a impossibilidade de viajar. Para os organizadores das feiras, esta paragem foi sinónimo de uma busca por alternativas que passaram pelo digital, como é exemplo a Apparel Textile Sourcing Virtual e a Kingpins24.

Contudo, e ainda que reconheçam a importância do digital nas feiras, os organizadores não acreditam que este formato esteja apto para substituir o funcionamento tradicional. «Uma feira comercial deve ser acompanhada de um suporte digital para acelerar os contactos e os negócios, porém o digital não nos pode fazer esquecer que estamos a dirigir uma feira física», afirmou Guglielmo Olearo, diretor internacional da Première Vision, numa sessão que decorreu durante o evento virtual da Kingpins24. «Há dois anos tomamos a decisão de lançar um marketplace (para pedidos online) e investir, mesmo nos tempos difíceis, para adicionar alguns recursos complementares às nossas ferramentas, porque acredito que serão úteis não só durante o evento, mas nesta plataforma que liga pessoas por 12 meses e não apenas seis dias», continuou.


Olaf Schmidt [©Messe Frankfurt]

Olaf Schmidt, vice-presidente de têxteis e tecnologias têxteis na Messe Frankfurt, que organiza feiras como a Texworld ou a Heimtextil, concordou com esta perspetiva de que o digital deve fomentar a comunicação global nas feiras e não transcender esta função. «Antes da crise, debatemos sobre a forma de como a solução digital podia apoiar a feira. Isto faz sentido, porque primeiro temos esta feira e oferecemos uma solução digital à nossa comunidade, para os expositores e visitantes. Mas no final de contas, as reuniões pessoais são realmente importantes para este tipo de negócios, especialmente porque se falamos de tecidos precisamos de os ver». Para Olaf Schmidt, as inúmeras alternativas digitais fizeram enaltecer a necessidade de um espaço físico. «Precisamos das feiras para apoiar a indústria. É mais importante para mim ter ferramentas adicionais para os nossos clientes, mas não mais que isso. Particularmente nas últimas semanas, vimos muitas soluções digitais para o sector, mas algumas horríveis. E a indústria disse, certo, agora é que vemos o quanto precisamos de feiras físicas para nos encontrarmos e negociar», rematou.

Superar o que já tem sido feito até ao momento e melhorar as ofertas para os participantes das feiras é uma das vantagens apontadas pelos especialistas da área. «[O digital] é uma ferramenta complementar que podemos usar para as nossas comunidades. Não as temos usado e daqui para a frente acho que vão ser mais importantes como um instrumento. A nossa feira física nunca vai desaparecer, somos uma indústria tátil, isso nunca vai mudar, mas podemos fazer mais do que já fazemos», resumiu Andrew Olah, da Kingpins Show and Transformers Foundation.

Encontrar um ponto de partida

Espera-se que os eventos físicos sejam novamente permitidos a partir do outono. Na semana passada, o governo bávaro anunciou que as feiras podem voltar ao ativo a partir de setembro, enquanto no Bangladesh o processo será adiado até novembro.

De acordo com Andrew Olah, ainda não é conhecido nenhum veredito para esta problemática em Amesterdão, no entanto, e relativamente à Kingpins em Nova Iorque, a dúvida centra-se no facto das pessoas poderem optar por não ir ao evento. «Podemos dizer que vai haver uma feira, mas isso não quer dizer que as pessoas vão querer ir», tendo em conta o receio de viajar nesta nova realidade, destacou.


Kingpins [©Kingpins]

Reagir à evolução da realidade pós-pandemia é outra das preocupações das entidades organizadoras dos eventos da fileira têxtil e de vestuário, dado que os acontecimentos de grande escala precisam de ser preparados com antecedência, o que não é totalmente possível nestas circunstâncias. «As coisas estão a mudar muito rapidamente e não conseguimos prever o que vai acontecer daqui a dois meses ou duas semanas. Este é o problema de todos nós. As feiras têm que ser organizadas meticulosamente e precisamos de tempo, de um ponto de partida. Temos que pensar positivo e é isso que eu e a minha equipa estamos a fazer de momento para dizer vamos fazer isto acontecer e criar um evento nestas novas circunstâncias. Esta edição vai ser diferente, mas precisamos de um recomeço, que seja mais pequeno ou local, não importa, mas isto não pode ser feito de uma maneira completamente digital e virtual», apontou Sebastian Kindler, diretor-geral da Munich Fabric Start/BlueZone.

Olaf Schmidt foi ao encontro da linha de pensamento do responsável da Kingpins e salientou que as viagens continuam a ser um problema para as organizações, visto que para estruturar certames como estes é preciso fazer com que as pessoas queiram novamente migrar para o formato físico. «É fundamental saber mais sobre os visitantes internacionais e os requisitos para viajar e sobre os subsídios de deslocação para qualquer parte do mundo. Isto é crucial na primeira etapa. É de facto possível organizar uma feira com bases nas regulamentações, mas os visitantes têm que comparecer. Por isso é que é mais fácil estruturar um evento com compradores e visitantes locais do que a nível internacional», aponta o vice-presidente de têxteis e tecnologias têxteis na Messe Frankfurt.

Aumentar ou diminuir a frequência

Muita incerteza e perguntas sem resposta neste novo cenário são das principais certezas das entidades a cargo dos eventos. «O maior obstáculo para mim é entrar no avião, essa é a minha maior preocupação. O que que vai acontecer com os eventos em Nova Iorque se a maior parte das empresas em Nova Iorque não planeiam estar abertas no verão? Como é que as pessoas se vão sentir na interação com os outros? Vai haver mais quarentenas ou mais surtos no verão? Eu tenho menos medo de ir a uma feira, é mais a logística de lá chegar, porque sabemos que as viagens vão mudar», referiu Tricia Carey, diretora de desenvolvimento dos negócios globais de denim da Lenzing Fibers.

A frequência com que devem ocorrer os certames físicos é mais uma das questões para juntar às muitas dúvidas das organizações. No caso da Messe Frankfurt, que é responsável por 55 feiras internacionais, Olaf Schmidt admitiu que depois da crise «houve muitos pedidos para voltarmos a concretizar as feiras físicas, talvez ainda mais do que antes, porque as pessoas querem conhecer-se».


Munich Fabric Start [©Munich Fabric Start]

Sebastian Kindler apresenta outra visão. «A questão de quantos eventos é que o sector de facto precisa permanece. Estou realmente a interrogar-me se três grandes feiras de denim devem acontecer num intervalo de tempo reduzido e em distâncias que não ultrapassam os 800 quilómetros. De certa forma isto é impensável, mas eu acho que os certames são uma das ferramentas de negócios de marketing mais importantes. Sinto a falta delas não se poderem concretizar. As feiras vão mudar e a forma como as pessoas viajam também, porém o formato dos eventos físicos é crucial para mim», rematou o diretor geral da Munich Fabric Start/BlueZone.
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