Evento que discutiu estratégias para a implementação da educação em tempo integral no Brasil e no mundo aconteceu nesta terça-feira, na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Básica (SEB), o Banco Mundial e o Banco Interministerial de Desenvolvimento (BID), com o apoio do Serviço Social da Indústria (SESI), realizaram, nesta terça-feira (9), o Seminário Interministerial sobre Educação em Tempo Integral. No evento, representantes de diversos países, sobretudo da América Latina, discutiram os principais desafios e estratégias para a implementação da educação em tempo integral.
Em julho do ano passado, o MEC instituiu o Programa Escola em Tempo Integral, cujo objetivo é alcançar a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas brasileiras para atender pelo menos 25% dos alunos da educação básica.
A secretária-executiva do MEC, Izolda Cela, explica que a educação em tempo integral não significa apenas mais tempo na escola, mas também mais qualidade no ensino.
“As evidências mostram que ter mais tempo na escola traz repercussões muito positivas na melhoria da aprendizagem, na conclusão do ensino e na evitação de abandono escolar”, diz a secretária-executiva .
Segundo Izolda, mais de 83% dos municípios brasileiros aderiram ao programa, que também alcançou a meta de 1 milhão de matrículas. “Não é uma corrida só por números. É um esforço por implantação por tempo integral de forma sustentável”.
A educação em tempo integral, segundo ela, proporciona mais tempo para qualificação do currículo, recomposição de aprendizagens e consolidação de competências que incluem leitura crítica e pensamento lógico e matemático. “Estou falando também da iniciação científica, da arte, do esporte. Além das aprendizagens relacionadas ao conviver, já que a escola pode ser, sim, um espaço muito importante para contribuir com a sociedade nessa questão da qualidade das relações humanas”.
Para o representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Brasil (BID), Morgan Doyle, a educação em tempo integral traz, além de impactos sobre a aprendizagem, benefícios sociais, familiares e comunitários. Entretanto, segundo Doyle, há uma série de desafios em torno do tema, tais como as estratégias para manter os jovens frequentando as escolas nesse modelo.
“Outros desafios giram em torno de como otimizar as horas adicionais de ensino e de que maneira usar ferramentas tecnológicas que combinem aprendizado e frequência para identificar jovens com maior risco de abandonar os estudos”, explica Doyle.
Jaime Saavedra, diretor do Desenvolvimento Humano da América Latina e Caribe do Banco Mundial, explica que a educação em tempo integral implica não somente ficar mais tempo na escola, mas também aumentar o sentimento de pertencimento dos estudantes à escola. “Os últimos resultados do PISA mostram uma situação grave de aprendizagem na América Latina, acentuada pela pandemia. Não temos tempo a perder”.
No Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que avalia o desempenho de alunos de 15 anos de 81 países em matemática, leitura e ciências, o Brasil ocupa, respectivamente, a 70ª posição em matemática, 57ª em leitura e 66ª em ciências.
Para o superintendente de educação do SESI, Wisley Pereira, trazer experiências internacionais de educação em tempo integral representa uma oportunidade de aprendizado para o que pode ser feito no Brasil.
“Ter mais tempo na escola garante resoluções de problemas como discrepância de aprendizado, além de recursos pedagógicos para que ninguém fique para trás. O SESI apoia profundamente esse debate. Queremos aprender com as experiencias de outros países porque o desafio da aprendizagem é de todos”, afirma Wisley.
A seguir, você confere o que especialistas dos ministérios de Educação de oito países apresentaram no envento sobre as experiências atuais com educação em tempo integral.
Candy Policarpo, diretora de Educação Secundária do Ministério da Educação conta que, no Peru, das 10.175 escolas públicas secundárias, 1.990 são de tempo integral e 28% dos alunos estão matriculados nessas instituições de ensino. “Essas escolas nasceram de problemas de desigualdades sociais e econômicas, e representam uma oportunidade de promover a permanência desses alunos por meio da oferta de mais oportunidades de aprendizagem”, conta.
Segundo Candy, no Peru, houve a ampliação da jornada para 45 horas semanais (nas normais é de 35 horas), além de acompanhamento socioemocional, integração de tecnologias para os alunos terem acesso a sinal de internet, além do uso das TICs nos processos de aprendizagem. “Também investimos na contratação de psicólogos, na manutenção do espaço, em vigilância e em alimentação, até porque servimos café da manhã e almoço para esses alunos”.
Na cidade mexicana de Querétaro, havia um programa federal de educação integral instituído ainda em 2008, mas que foi interrompido na pandemia de Covid 19. Um novo programa, o Contigo Escolas de Tempo Integral, estadual, foi instituído em 2022. “Nos espaços mais vulneráveis, as crianças vão para as escolas não somente pela educação, mas também pela alimentação. As escolas que são alvo do programa estão, portanto, em situação de vulnerabilidade econômica e social”, conta María Begoña Ortega, coordenadora de Desenvolvimento Educacional de Querétaro.
Segundo María Begoña, o objetivo do programa é recuperar o aprendizado que foi perdido na pandemia, além de provocar novas vocações nas crianças e reforçar matemáticas e línguas.
O programa de educação em tempo integral no país começou há 30 anos com o objetivo de melhorar a aprendizagem de alunos em contexto de vulnerabilidade social por meio de aprofundamento da aprendizagem, oferta de alimentação escolar e trabalho desenvolvido junto às famílias. “Não se trata apenas de aumentar o tempo, mas também de colocar qualidade de aprendizagem no tempo em línguas, matemática e outras áreas do conhecimento”, conta Adriana Aristimuño, diretora-executiva de políticas educativas do Uruguai.
Segundo ela, o maior desafio na implementação da educação em tempo integral no país ocorre em aspectos como gestão, articulação de acordos entre entidades e orçamento para o programa.
Na Colômbia, de acordo com o vice-ministro do Pré-Escolar, Ensino Básico e Secundário, Oscar Jaramillo, o principal desafio está na introdução das escolas em uma dinâmica de criar e de transformar, e não apenas de transmissão de conhecimento de modo tradicional.
Jaramillo conta que, no país, a experiência de implementar a educação em tempo integral é vista como um processo de ressignificação do tempo escolar. “Além das áreas do conhecimento tidas como tradicionais, desenvolvemos, simultaneamente, arte, formação de cidadania, entre outras. Além disso, essa política tem o papel de tirar nossos filhos das ruas”.
Na Argentina, o sistema educacional é descentralizado, ou seja, as províncias têm autonomia. Córdoba, segunda maior cidade do país, conta com três experiências de extensão do tempo escolar: a primeira delas acrescenta duas horas ao dia no segundo ciclo do ensino fundamental com novas experiências socioculturais para os alunos. No ensino médio, o Programa ProA, de oito horas, inclui as chamadas escolas experimentais. Na pré-escola, por exemplo, uma iniciativa estende mais de 30 minutos em creches para fortalecer a aprendizagem na alfabetização inicial.
Horacio Ferreyra, ministro da Educação da Província de Córdoba, explica que, um dos desafios da jornada integrada e complementar é sustentar todo o sistema de apoio para esse tipo de escola. “Quanto mais tempo, precisamos de mais professores para cobrir a carga horária disponível. Além disso, outras questões como transporte e alimentação devem ser levadas em conta para considerarmos como essa política requer mais investimento”.
No Equador, a chamada Jornada Escolar Estendida teve início em agosto do ano passado com o objetivo de regulamentar a educação formal e não formal em uma jornada ampliada, que pode ser desenvolvida em atividades extracurriculares, clubes estudantis e serviços de apoio às famílias.
“Mais de 600 instituições do país já estão adotando esse modelo. Mas seguimos com o desafio de implementar a educação em tempo integral, como, por exemplo, a reforma do currículo, para garantir que o programa seja sustentável”.
O diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica, Alexsandro do Nascimento Santos, conta que a educação em tempo integral no Brasil não começou em julho do ano passado, quando o programa foi instituído. A construção da política de educação integral no Brasil, segundo Santos, faz parte de um processo que contou com a participação intensa das redes municipais e estaduais, que culminaram no Programa Escola em Tempo Integral. “Isso é muito importante em um país com as nossas dimensões e desigualdades e reformas educativas desse porte precisam de consenso social para garantirem legitimidade”.
Ele também explica que o esforço reflete o objetivo de ampliar a extensão e a qualidade do tempo de permanência na escola com foco no desenvolvimento integral dos estudantes. Para isso, os principais desafios, segundo Santos, são: planejamento intencional da alocação da matrícula, qualificação da infraestrutura física e pedagógica, orientação e inovação curricular para aprendizagem, formação e desenvolvimento profissional docente e monitoramento e avaliação permanentes.
O Vietnã é conhecido pelo engajamento em políticas de ensino. Ta Ngoc Tri, diretor-geral adjunto do Departamento de Educação Primária do Ministério da Educação e Treinamento do país, explica que cerca de 75% dos alunos migraram para a educação de tempo integral. “Esperamos, em breve, implementar esse modelo de ensino em todas as escolas. Queremos a universalização do ensino até os 17 anos de idade.
“Para que seja sustentável, é preciso atrair a atenção de todos os atores da sociedade, além de ter o apoio dos pais dos alunos. É importante lembrar também que a implementação de uma educação em tempo integral deve ser feita aos poucos, de forma gradual. Assim, teremos uma visão mais ampla da qualidade da educação e dos efeitos disso sobre as crianças. Não dá para fazer tudo de uma vez, até porque exige muitos recursos.
Por: Sarita González
Fotos: Gilberto Sousa/CNI
Da Agência de Notícias da Indústria
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