Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Chanceler2Imperadores romanos foram insultados tanto no Circo Máximo quanto no Coliseu. Na Antiguidade, quem tinha boca, vaiava Roma. Mães cuja culpa maior na vida foi terem gestado um árbitro de futebol, vem sendo chamadas de prostitutas nos estádios brasileiros sem mesmo que se conheça sua identidade e desde que Charles Miller desembarcou no país com duas bolas de couro na bagagem. Durante este período, um contingente incalculável de boleiros tiveram sua masculinidade questionada até por torcedores do próprio time. Treinadores são agraciados com a Comenda do Burro sempre que não fazem o esperado pela arquibancada.

Tudo acontece sem provocar a menor marola. A razão é simples: constata-se fácil que o ambiente das arenas esportivas a exemplo das várzeas é diferente de um convento de freiras ou mosteiro budista. No entanto, não existe ponto como os estádios em que os indivíduos expressam tão abertamente e a plenos pulmões o que sentem no peito — nas alcovas fala-se baixinho. Nas ditaduras mais repressoras o estádio  foi por vezes um território da liberdade. Isso porque o cidadão sente-se protegido pelo anonimato. O individuo no meio da massa é, simultaneamente, um e muitos. O estádio em certa medida confira um refúgio democrático por excelência.

Mas na tarde de estréia da Copa do Mundo 2014, o mundo mudou. Ou melhor, andam dizendo que ele é diferente. Em um aspecto trata-se da pura verdade. É o seguinte. Dilma Rousseff no dia em que deveria ser o momento glorioso planificado por Lula quatro anos atrás, entrou no Itaquerão pela garagem. No sentido figurado, a porta dos fundos. Sentou-se na última fileira da Tribuna de Honra, encostada na parede. E desde 1930, ano da primeira Copa do Mundo, o presidente do país-sede não fez o discurso de abertura. Faltou coragem a presidente de fazer mesmo um mísero aceno. Salvo o temor das vaias e o medo de que os fatos do mundo real possam ser usados na campanha eleitoral, ninguém obrigou Dilma se comportar desta maneira.

Veio o primeiro gol do Neymar. O diretor de edição da TV fez como todos os seus colegas fariam mundo a fora nestas horas. Mostrou os torcedores e, em seguida deteve-se nas “celebridades” presentes no estádio. A imagem de Dilma Rousseff apareceu no telão do Itaquerão. Neste exato momento, os torcedores se deram conta que junto a alma estava também o corpo presente. Gesto seguido, parte  dos 62 mil “arquibaldos” sugeriram a Dilma tomar suco de caju no idioma próprio dos estádios. Depois, repetiram a dose por mais duas vezes em ocasiões distintas.

Naturalmente, os insultos acenderam o alerta do lulo-petismo e a patrulha, desta vez, se camuflou em hábitos de madre-superiora para continuar atirando. Raras vezes tanta bobagem foi dita em tão pouco tempo. Teria acontecido no pais de 56 mil homicídios por ano, o maior crime lesa-pátria da história. Numa tentativa de manipulação demagógica com o laivo do preconceito racial, acusaram os torcedores de elite branca endinheirada. Alguns chegaram a pensar que o pessoal da ala VIP da Papuda tinha recebido uma derrogação para ver a partida de estréia. Lula, de conhecida língua solta e para quem ex-presidente Itamar Franco era um “filho da puta”, engrossou o coro. Dias antes, declarou ao jornal esportivo francês L’Équipe que iria assistir inteiramente a copa em casa porque poderia tomar uma cervejinha a mais sem ser reprimido. Pelo que disse depois do jogo, levantou a suspeita que ainda estava sob o efeito. Mas não só de uma a mais.

O pais só se deu conta que a Terra ainda estava na sua órbita quatro dias depois. A chanceler Angela Merkel foi a Arena Fonte Nova vestida de vermelho para combinar com cor do time alemão e não correr o risco de passar despercebida. Sentou-se na primeira fileira da Tribuna de Honra ao lado do impopularíssimo presidente da FIFA Sepp Blatter. Levantou-se e acenou para elite branca baiana. Esbanjou simpatia. E depois do jogo, ainda entrou no vestiário dos homens para posar ao lado dos jogadores da seleção do seu país que golearam o Portugal de Cristiano Ronaldo. Se desembarcasse no Brasil, um extra-terreste poderia pensar que era Merkel a presidente do pais-sede da Copa 2014.

Por que Angela Merkel não tem medo? Talvez porque ela saiba que desde os primórdios, os indivíduos, pretos, brancos, mestiços, de qualquer cor de derme ou classe social vaiam ou aplaudem seus governantes muito em função do desempenho no poder. E também que misturar raça a comportamento foi prática política que mergulhou a Alemanha no seu período mais sombrio.

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Por Antonio Ribeiro

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