Os céticos costumam afirmar que as pessoas só se engajam de fato em mudanças profundas quando seus interesses particulares estão em perigo. Segundo a visão de alguns analistas, o enfrentamento dos problemas ambientais poderia ser adiado por dois motivos: eles não significariam um risco imediato e enfrentá-los envolveria custos altos na adaptação da produção. É preciso reiterar, porém, que o aquecimento global exige, sim, ações urgentes e o comprometimento de todos. Adiar sua solução é algo fora de cogitação.
Esse não é um problema que diga respeito apenas às gerações futuras, com o confronto podendo, eventualmente, ser empurrado para depois. Os efeitos da degradação ambiental são graves e já se fazem presentes hoje. Nos últimos anos, a grande ocorrência de eventos climáticos extremos, como enchentes e furacões, tem provocado sofrimento humano e prejuízos econômicos de grande proporção. É uma adversidade real, com danos que podem recair sobre qualquer pessoa, em qualquer lugar do planeta.
Caso não se combata a destruição do meio ambiente, a vida na Terra ficará progressivamente insustentável. Além dessa questão geral de suprema importância, um aspecto tem a ver, de modo mais direito e premente, com o cotidiano das empresas: quem quiser sobreviver no mercado terá que se adaptar logo aos ditames do crescimento econômico combinado com a atenção ao meio ambiente. Em outras palavras, as indústrias precisarão trabalhar tendo em vista o desenvolvimento sustentável, sob pena de ter o negócio inviabilizado.
Cada vez mais, os consumidores recusarão produtos que não tenham sido elaborados de maneira ambientalmente correta, de acordo com as melhores práticas de sustentabilidade. Para autorizar a importação de móveis, por exemplo, os países devem ampliar a exigência de certificados provando que a madeira usada na fabricação foi obtida segundo as normas de conservação. Com o tempo, o consumo consciente se espalhará por todos os setores, tanto no mercado externo como no interno, com nítidas repercussões na produção.
Nenhum consumidor ou empresário quer colaborar, mesmo que de maneira inconsciente, com a destruição do planeta. Com essa mentalidade, que, ainda bem, veio para ficar, as indústrias brasileiras estão investindo muito em modos limpos de produzir. O objetivo dos planos que estão sendo adotados é aproveitar melhor insumos e matérias-primas, cortar drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, reciclar materiais, reutilizar água, fazer uso racional de energias (apostando especialmente nas renováveis) e gerir resíduos de maneira eficiente, entre outras iniciativas.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as indústrias brasileiras investiram US$ 32 bilhões em sustentabilidade nos últimos 15 anos. Além disso, estamos atentos às discussões e decisões globais sobre o assunto, como demonstrou a participação ativa do setor na última Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a COP26. Ao acelerar as transformações na produção e trabalhar em cooperação com governos e outras instituições, a indústria nacional contribui para que o mundo avance em direção ao desenvolvimento sustentável, com benefícios para todos nós.
*Robson Braga de Andrade é o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O artigo foi publicado na edição de novembro da Revista Indústria Brasileira.
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