Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A Contribuição dos Matarazzo para o Brasil

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Objetos pessoais de Francisco Matarazzo podem ser vistos em exposição no Espaço Cultural Unifor...
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... de imigrante a homem mais rico do Brasil
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Francisco Matarazzo ficou rico com um modelo de negócios que, hoje, é condenado por manuais de administração
FOTOS: RODRIGO CARVALHO

Família de descendência italiana foi uma das mais importantes da história quando o assunto é o crescimento do País

Por muitas décadas, uma família de origem italiana foi a principal referência de riqueza para o brasileiro. Era comum que os pais rejeitassem os pedidos mais caros dos filhos com a pergunta: "Pensa que sou algum Matarazzo?". Não por acaso. Na década de 1930, as indústrias Matarazzo tinham uma renda bruta de 350 mil contos. Para se ter uma ideia do que esse valor representava, a renda bruta de todo o Estado de São Paulo era de 400 mil contos na época.

Fazia sentido, portanto, que Assis Chateaubriand se referisse à família como "um novo Estado brasileiro" em artigo ao Diário de São Paulo, em 8 de março de 1934, quando o patriarca, conde Francisco Matarazzo, completou 80 anos. A trajetória desse notável empresário é um dos destaques da exposição "Pioneiros & Empreendedores", derivada da série de livros homônima do professor Jacques Marcovitch, atualmente em cartaz na Universidade de Fortaleza (Unifor).

Nascido em 1854, em Castellabate, pequena cidade da província de Salerno, na região de Nápoles, Francisco Matarazzo começou sua fortuna sozinho em terra estranha. Ele saiu da Itália no auge das grandes imigrações, quando o país enfrentava uma grave crise financeira. Chegou ao Brasil em 1881, já casado e com dois filhos. Seguiu para Sorocaba, no interior de São Paulo, onde montou um botequim.

Dizia-se dele que, no intuito de economizar, restringia sua dieta à pão seco e bananas. Na mistura entre realidade e lenda, é fato que Francisco Matarazzo se converteu no exemplo máximo da contribuição dos imigrantes italianos para a riqueza de São Paulo.

Já estabelecido no comércio de secos e molhados, seu primeiro grande negócio foi uma fábrica de banha. Após abrir sua segunda unidade, enfrentou a escassez de barris vindos dos Estados Unidos. Sem ter como armazenar seu produto, inovou ao criar a primeira banha em lata - cuja nova embalagem também era produzida por ele.

Em 1890, se mudou para a capital e passou a investir também no ramo de importações. Logo prosperou e passou a morar em um palacete na Avenida Paulista - que se tornou um símbolo da riqueza gerada pela industrialização em uma sociedade ainda baseada na cultura cafeeira. Derrubado na década de 1990, levou consigo parte da história desse processo. Era fácil visualizar sua figura sempre de chapéu e bengala através do janelão do escritório voltado para a Rua Direita.

Foi em 1900, porém, que surgiu a base do seu império na época de ouro do empreendedorismo industrial: o moinho Matarazzo. Dali se desdobrariam outras fábricas: tecidos para os sacos de farinha, óleo de algodão (resíduo da semente usada na tecelagem), sabão para usar esse óleo e assim por diante.

Logo aproveitou o óleo na indústria cosmética e perfumaria. Para embalá-los, criou uma fábrica de caixotes. Se sobrava madeira, por que não produzir móveis?

Desde a especulação com porcos em Sorocaba ao favorecimento pela explosão inesperada de um navio americano carregado de farinha no ancoradouro de Havana, Matarazzo repetia que "um bom negócio se faz na compra e não na venda". Seu império cresceu graças ao senso de oportunidade e à integração vertical - modelo que hoje, com as mudanças na economia e nos modos de gestão, seria condenado pela maioria dos manuais de administração, segundo Marcovitch, que é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

Matarazzo decidiu concentrar seus negócios e percebeu a oportunidade em um enorme terreno da Água Branca, ladeado por duas estradas de ferro. Estabeleceu um núcleo industrial com ferrovia interna. O que não podia ser enviado por via férrea seguia de navio cargueiro pela Sociedade Paulista de Navegação Matarazzo Ltda. Em 1937, já eram mais de 30 indústrias reunidas. Só sua fábrica de rayon, um tecido sintético, produzia duas toneladas de fios por dia, empregando 500 mulheres e 300 homens.

Há muitos questionamentos se tinha raízes nobres. Certo é que o título oficial de conde veio em 1917, por ordem do rei Vittorio Emanuele, em retribuição a seus serviços durante a Primeira Guerra, quando coordenou o abastecimento na Itália. O conde conseguiu ainda ser representante do Banco de Nápoles no Brasil, em um período em que os italianos formavam metade da população de São Paulo, chegando a 90% em alguns bairros.

Aos 80 anos, Francisco Matarazzo ainda conservava hábitos que ajudaram a consolidar sua imagem como industrial moderno. Acordava cedo, acompanhava a produção, trabalhava mais de 14 horas por dia e era o último a sair da fábrica, junto com o porteiro. Era tido como um homem cordial, que gostava de receber em casa. Se o convidado elogiava o vinho servido, lhe dava uma garrafa igual de presente.

Apesar do temperamento expansivo, não gostava de falar em público e há poucos registros de discursos ou entrevistas suas. Era avesso à política, embora tenha contribuído financeiramente para o regime fascista na Itália. Também não se sentia à vontade nas entidades classistas. Morreu em 1937, sem ver seu império perdendo força nas mãos dos herdeiros, com desmonte de empresas e vendas de propriedades imobiliárias a partir dos anos 1960. Ficou o exemplo do homem responsável pelo maior império industrial da América Latina de seu tempo.

Fonte:|http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1115552

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