O clima de crise está rapidamente se instalando em vários países emergentes, como Turquia, Índia e Brasil. A Turquia anunciou ontem um extraordinário aumento na taxa de juros, para 12%, tentando acalmar os mercados. Durou pouco.
Sua moeda, que vinha em forte trajetória de desvalorização, recuperou-se imediatamente, mas por pouco tempo. Já está quase no mesmo patamar de antes da medida:
O que está acontecendo? Expliquei de forma resumida o fenômeno aqui e aqui. Recapitulando:
Ao tentar inflar o “piscinão” do mercado americano, essa liquidez abundante acaba transbordando para outros mercados, para outras piscininhas mundo afora. Esses mercados são tão menores que basta um punhado desses dólares para fazer a festa.
Ou seja, a ação do Fed para estimular o enorme PIB americano pode produzir bolhas na América Latina. Uma borboleta que bate as asas num continente pode produzir um furacão em outro. Imagina um elefante enorme balançando suas gigantescas orelhas!
Outra metáfora: o Fed é o dono do ponche na festa, e anunciou que iria servir rodadas de bebida grátis ilimitadas. Quando o relógio marca duas da madrugada, e os presentes estão se fartando de liquidez etílica desde às oito horas, parece natural que comecem a relaxar o critério de julgamento na escolha dos ativos disponíveis. Tudo fica mais belo.
Por isso que sempre temos um “bull market” (mercado otimista) quando os americanos apresentam grande déficit na balança de pagamentos, e um “bear market” (mercado pessimista) quando isso se inverte. Se os americanos estão exportando dólares (liquidez) para o mundo, é clima de festa nos emergentes. Mas quando o fluxo reverte, é quando a maré baixa e vemos que muitos nadavam nus.
Os Estados Unidos nem começaram a subir juros e retirar seus estímulos ainda. Mas só a expectativa já cria esse clima de insegurança nos emergentes. Além disso, a revolução energética ajudou a reduzir bastante a balança comercial deficitária americana, enxugando liquidez no mundo. A balança de pagamentos como proporção do PIB melhorou muito, como podemos ver:
Notem que o período de crescente déficit americano foi também o período da formação de bolha nos países emergentes. Quando ela estourou, o saldo se reverteu rapidamente, mas o Fed manteve uma política agressiva para compensar.
Os governantes de países emergentes adoram criticar o “tsunami monetário”, o “consumismo” ianque, a política expansionista do Fed. Mas deveriam tomar muito cuidado com aquilo que “desejam”. Quando a economia americana traz os dólares de volta para casa, a liquidez nas “piscininhas” emergentes seca.
O resultado é esse: taxa de juros para cima, bolsas para baixo, economia em crise e todos desesperados por dólares, torcendo para que o banco central americano e o governo central continuem irresponsáveis para sempre.
Parafraseando o estrategista de Bill Clinton, James Carville, com uma pequena adaptação: é a liquidez, estúpido!
Rodrigo Constantino
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Os governantes de países emergentes adoram criticar o “tsunami monetário”, o “consumismo” ianque, a política expansionista do Fed.
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